1 Afrontando o aguilhão torvo e escarninho
De sarcasmos e anseios tentadores,
Ei-lo que passa sob as grandes dores,
Na grade estreita do terrestre ninho.
2 Relegado às agruras do caminho,
Segue ao peso de estranhos amargores,
Acendendo celestes resplendores,
Atormentado, exânime, sozinho…
3 Anjo em grilhões da carne, errante e aflito,
Traz consigo os luzeiros do infinito,
Por mais que a sombra acuse, geme e brade!…
4 E, servindo no escuro sorvedouro,
Abre ao mundo infeliz as portas de ouro
Para o banquete da imortalidade.
Cruz e Souza
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