1 Querida mãezinha Itália, querido papai, peço para que me abençoem.
2 Venho até aqui com meu avô Manoel para trazer notícias. Se não fosse a saudade tudo estaria bem, mas, dizem aqui que a saudade para quem alimenta a fé em Deus deve ser esperança.
3 Sei que desejavam saber alguma novidade a meu respeito, mas, antes do que me aconteceu, só me lembro do sábado, dia 6, quando me preparava com muita alegria para cumprir meus votos no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. 4 Lembro-me de que estava em oração ao lado do nosso amigo senhor José, quando senti uma pancada na cabeça. Não pude me sustentar de pé, recordo que me carregaram para um hospital e guardo de memória um peso, de muita dor na cabeça. 5 Mais nada, senão que dormi, graças a Deus, pensando nas orações.
6 Acordei num lugar de muito repouso e dois amigos me disseram ser o vovô Manoel e o meu bisavô Frederico. Eu estava na posição de um doente anestesiado, até que aos poucos fui reconhecendo a vida nova em que me achava.
7 As lágrimas da mãezinha caíram sobre o meu coração de modo para mim inexplicável e ouvia as pessoas, muitas pessoas de nossas amizades perguntando porque fora eu acidentado com um corpo estranho na cabeça, quando fazia preces para Nossa Mãe dos Céus. 8 Não somente meu avô Manoel, mas outros amigos me esclareceram que eu não encontraria um lugar melhor para sofrer a prova, além daquele em que me punha sob a proteção de Deus, que os mensageiros de Nossa Mãe Santíssima não me abandonaram e nos tempos últimos me fizeram saber que até a imagem venerável sofrera pedradas, como que a responder aos cristãos que Nossa Mãe Celeste, ferida no símbolo de sua proteção para nós, permitia a si mesma suportar desacatos, na figura em que seu nome deve ser respeitado, como a esclarecer-nos que ela também sabe sofrer com os seus filhos, que somos nós, os atentados daqueles que ainda não conhecem Jesus.
9 Mãezinha, peço-lhe coragem e fé, pedido igual que faço a meu pai, a fim de estarmos tranquilos em nossa confiança. Estou quase bem e se não estou bem de todo é pela falta que sinto de nossa união em casa, mas lembremos que o Elzo e a Maraisa precisam de nossa alegria e fiquemos contentes, na certeza de que a bondade de Deus nos oferece sempre o melhor.
10 Agradeço a todos os que me auxiliaram. Somente aqui é que eu soube que não foi uma pedra que me atiraram e sim uma telha, que, de certo, veio das mãos de alguém que auxiliava as Leis de Deus a se cumprirem, pelo menos é o que o meu bisavô Frederico me ensina a reconhecer.
11 Agradeço as orações, as flores, as bênçãos, as palavras de amor que tenho recebido e peço-lhes para não deixarem a fé que sempre tivemos. Não me alongo a escrever, porque minhas forças não dão mais.
12 Sou um menino convalescendo, depois de um tratamento que, segundo penso, ainda demorará, mas os amigos aqui me disseram que mãezinha precisava de minhas notícias, a fim de não querer vir para cá ao meu encontro, não por suicídio, porque a nossa fé não comporta isso, mas pela ansiedade do nosso reencontro.
13 Pais queridos abençoem-me, é o que lhes peço mais uma vez. E peço ainda para que esqueçam e desculpem as mãos que, sem qualquer impulso intencional, me alcançaram.
14 Estejamos com Deus, tanto quanto Deus está conosco. Muitas lembranças para os irmãos queridos Maraisa e Elzo e para os dois um beijo de respeitoso amor do filho reconhecido.
João Carlos Frederico Coelho
COMENTÁRIOS
Quem não passa pelo crivo da dor da desencarnação de um familiar pode supor que as mensagens são aceitas pela emoção de quem as recebe, unicamente.
Como podemos negar a evidência da emoção, se não a entendermos como parte dessa verdade que agita todo o nosso ser?
Um rapaz, na plenitude de seus 14 anos, desprezar uma festa no recanto de EMBU, a fim de acompanhar um familiar amigo até Aparecida do Norte em resgate a uma promessa, é de se pensar.
Esclarecimento prestado por sua mãe:
“Na igreja em Aparecida do Norte, aproximadamente às 12 horas, o padre benzia os objetos sagrados, enquanto João Carlos continha-se em suas orações à Nossa Mãe Santíssima. Mal podia supor que naquele momento receberia em sua cabeça uma telha tipo paulistinha, atirada de alta plataforma por um garoto que se dizia perdido. A igreja estava em construção. Caso constrangedor, mas a presença de João Carlos, serenou o ambiente doméstico, hoje não só tangido pela saudade, mas também enriquecido de esperança.”
PESSOAS E FATOS
João Carlos Frederico Coelho: Nascimento: 4.12.1963. Desencarnação: 12.05.1978.
Pais: João Coelho e Itália Frederico Coelho — Rua dos Campineiros, 814, São Paulo — SP.
Irmã: Maraisa M. C. Ribeiro.
Cunhado: Elzo Ribeiro.
Avô: Manoel Coelho, paterno, desencarnado.
Bisavô: João Frederico, materno, desencarnado.
José Ribeiro, sogro de Maraisa que estivera no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, localizado na cidade de Aparecida do Norte — SP.
Rubens S. Germinhasi