1 Nathan, um inteligente rapaz israelita, estimava escrever rolos rápidos, ao tempo de Jesus, para venda a leitores ávidos de notas e informações ligeiras, qual ocorre aos nossos repórteres da atualidade.
2 Apressado, o nosso noticiarista alcançou grande ajuntamento de povo, e, encontrando um amigo, o colega Efraim, perguntou-lhe se Jesus de Nazaré estava ali.
3 O companheiro confirmou, acrescentando:
— Temos aqui, na multidão, nesta periferia de Jerusalém, três mestres de Israel que estão partindo, em direções opostas, atendendo a fé viva que divulgam e sabemos que um deles é um homem fanático e agressivo, considerado louco e difícil. Você observe…
4 Nathan não esperou por novos esclarecimentos e adentrou na massa popular, tentando satisfazer os próprios objetivos, quando fitou Jesus, não longe e, fascinado pela personalidade do Senhor, achegou-se a ele, indagando curioso:
— Rabi, qual é o primeiro mandamento da Lei de Deus?
5 O Cristo respondeu, com paciência:
— Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. ( † )
6 — E como nos cabe amar a Deus? O Mestre replicou, aceitando o diálogo:
— O amor de Deus, na essência, abrange todos os homens, induzindo-nos a amar o próximo, como a nós mesmos. ( † )
7 — E quem é o meu próximo?
— É qualquer criatura de Deus, especialmente as que se encontrem mais infelizes.
8 Como saberei isso?
— O discernimento te mostrará quem deve receber a tua cooperação.
9 — Mas, habitualmente, todos temos inimigos. E se algum inimigo, em provação, dispensar-me de qualquer auxílio?
— Encontrarás com discrição os meios precisos para auxiliá-lo no anonimato.
10 — Rabi, além desse tipo de adversários, surpreendemos aqueles que francamente nos perseguem e caluniam. O que nos compete fazer nessas condições?
— Perdoá-los sem restrições.
11 — Mas, se na hora do insulto, o agressor atingir algum irmão seu, chegando a matá-lo?
— Perdoar e orar por ele.
11 — E se a vítima for meu pai?
— Perdoar sempre, rogando a Deus que o abençoe.
12 — Então a desforra não é justa?
— Não. Antes de tudo, precisamos preservar a paz.
13 — E se a nossa família, por perseguição, estiver prejudicada?
— Fazer silêncio e perdoar.
14 — Silêncio? Como sustentar isso, se os seguidores de Moisés, na Lei Antiga, nos recomendavam cobrar dente por dente? ( † )
— Moisés ensinou-nos lições que devemos respeitar, no entanto, agora, estamos na Lei do Amor que estabelece o perdão para as faltas alheias, não apenas uma vez, mas setenta e sete vezes. ( † )
15 — E como proceder para reconstituir o patrimônio familiar?
— Trabalhando sempre.
16 — E devo trabalhar inclusive para os que me feriram?
— Sim e sempre.
17 — Rabi, e como agir, se recuperar a posição financeira dos meus?
— Naturalmente, retirarás a quantia que te for necessária à sustentação e o dinheiro desnecessário aplicá-lo-ás em obras de beneficência ou saberás distribuí-lo com os teus irmãos em tribulação e penúria.
18 — Então, não posso acumular o que é meu, considerando o futuro?
— O futuro pertence a Deus e não seria justo acumulares o que não te pertence, já que todos os bens de que dispomos pertencem originalmente a Deus.
19 — Rabi, é uma falta grave ser rico?
— Não. A riqueza vem de Deus por empréstimo aos homens, com o fim de estender as boas obras e se algum dia tiveres a fortuna nas próprias mãos, tens a obrigação de administrá-la sabiamente.
20 — E mesmo rico, precisarei trabalhar?
— Trabalhar e servir sempre.
21 O entrevistador sorriu e despediu-se, procurando Efraim.
Ao encontrá-lo, observou:
— Onde estão os outros mestres de Israel?
22 O amigo esclareceu:
— Já partiram.
Nathan coçou a cabeça e falou, sarcástico:
— Desta vez perdi a minha intuição, porque se o Rabi que interroguei agora é Jesus de Nazaré, ele está positivamente louco.
Augusto Cezar