O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Excursão de paz — Autores diversos


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Cantoria da Morte

1 Hoje, preciso enfrentar
Problema de grande porte,
Há quem me peça este assunto
Supondo que eu seja forte,
Mas não há quem forte seja,
Ante a presença da morte.


2 Não é a morte a megera
Dos quadros de antigamente,
Uma forma de esqueleto
Com foice mirando a gente,
A morte em cada pessoa
Mostra face diferente.


3 Conheço um homem que, um dia,
Foi procurado por ela,
Parecia uma enfermeira
Que lhe escorava a espinhela;
Trazia sono… e o coitado
Caiu logo na esparrela.


4 Quando ele quis acordar
Do sono que ela trazia,
Os pés estavam parados,
Na geada que sentia,
Quis falar, porém, a boca
Estava selada e fria.


5 Enxergava o próprio corpo
Que ele mesmo havia usado,
Tão quieto que parecia
Um velho tronco espinhado,
No entanto, não descobria
Nenhuma bruxa de lado.


6 Imaginando que a morte
Ali pousasse escondida,
Ele gritou: “Dona Morte,
Não entro nesta partida,
Tenho muito que fazer,
Não posso perder a vida.


7 “Tenho muitos compromissos,
Deveres para tratar,
Pedidos de clientela,
Obrigações em meu lar,
Quero o meu corpo, de novo,
Para a vida regular.”


8 A bruxa estava invisível,
Nem de leve apareceu,
Mas uma voz esquisita
Logo, logo, respondeu:
“Não me peças o impossível,
Que teu corpo já morreu.”


9 O homem apavorado
Replicou, na mesma hora:
“Eu quero o meu corpo vivo,
Não sei andar de demora,
Suplico na confiança
Em Deus e Nossa Senhora.”


10 Mas a voz falou mais firme:
“Largaste o corpo no mundo,
Quando a vida se transfere,
A mudança é num segundo,
A tua prece de agora
Parece um cheque sem fundo.


11 “Nada tens a reclamar,
O teu pedido não vinga,
Viveste como quiseste
Catando caso e mandinga,
Mesa farta e rede fofa,
Fandango e trago de pinga.


12 “Nasceste de boa gente,
Mas não vês o tempo gasto,
Em que mais te parecias
A touro novo no pasto,
Se vias qualquer morena,
Seguias cheirando o rasto.


13 “Algum bem trazes contigo,
Isso, porém, é. dever,
Mas quantas horas perdidas
Que não podes devolver!…
Cala-te e pensa na conta
Do que deixaste a fazer…”


14 “Qual será o meu lugar?”
Indagou o pobre amigo.
A voz pronta esclareceu:
“Deus não aprova castigo;
Estarás no purgatório
Que já carregas contigo.


15 “Muito serviço te espera
Para a conquista da paz.
Trabalha, não te lastimes,
O tempo não volta atrás.
Céu, inferno e purgatório
Cada um tem os que faz.”


16 Ele, aí, falou à voz:
“Serás a morte na essência?”
Ela, porém, respondeu
Com firmeza e paciência:
“A morte é caso passado…
Sou a tua consciência.”


17 De repente, despertando,
Vi que tudo em mim tremeu,
Larguei, correndo, assustado
O corpo que fora meu…
Então, descobri que o homem
Não era outro… Era eu.


Leandro Gomes de Barros


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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