O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Eles voltaram — Familiares diversos


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Breve regresso de ilustre cientista

Apenas um mês após a desencarnação de seu querido filho, D. Líbia Amante, residente na Capital paulista, teve a felicidade de receber suas notícias escritas, que muito confortaram toda a família.

A carta de autoria do Dr. Elpídio Amante, falecido a 12 de maio de 1978, foi recebida pela médium psicógrafa do Centro Espírita Evangélico, em São Paulo, a 11 de junho do mesmo ano.

Transcorridos mais alguns meses, numa viagem a Uberaba, D. Líbia conheceu pessoalmente Chico Xavier, em sua própria residência, numa reunião íntima com pequeno grupo de pessoas. Nessa ocasião, 26 de outubro, numa quinta-feira à noite, ela chegou em cima da hora do início dos trabalhos, não tendo oportunidade de nada dizer ao médium. Conforme orientação recebida da amiga D. Yolanda Cezar, na reunião pública do dia seguinte é que iria pedir notícias de seu inesquecível filho.

Mas, ao final daquela pequena reunião, profundamente emocionada e surpreendida, D. Líbia ouviu a leitura de longa carta do Dr. Elpídío a ela dirigida, que Chico acabava de psicografar. Palavras de muito amor, lembranças da intimidade mãe-filho, provas indiscutíveis de sua participação (em Espírito) na vida familiar, citações inesperadas… conforme veremos logo adiante.


Dr. Elpídio Amante (17/8/1933 — 12/5/1978), nascido em São Paulo, SP, diplomou-se engenheiro-agrônomo e, com incansável dedicação à pesquisa, tornou-se um renomado cientista.

Tendo em mãos o seu Curriculum vitae (até 1974), gentilmente ofertado pela sua genitora, pudemos aquilatar, com admiração, o seu fecundo trabalho à frente da Seção de Entomologia Geral do famoso Instituto Biológico de São Paulo, como Pesquisador Científico Chefe até os seus últimos dias de vida terrena.

De seu extenso Curriculum destacaremos: 1. Participação em numerosos Certames e Congressos Científicos com apresentação de trabalhos; 2. Presença em Comissões Técnicas Científicas; 3. Participação em aulas, seminários, debates e palestras; 4. Publicação de 77 trabalhos científicos.

As suas importantes pesquisas sobre a formiga saúva foram divulgadas também ao público, quando por várias vezes foi convidado a comparecer em Programas de televisão. A Revista Manchete (Rio, nº 963, 3/10/1970) publicou longa e ilustrada reportagem intitulada: “A guerra das formigas”, fundamentando-se numa entrevista com ele. Dessa reportagem transcreveremos os seguintes tópicos: “Em 10 formigueiros moram 100 milhões de saúvas que consomem a mesma quantidade de capim de um boi. O engenheiro-agrônomo paulista Elpídio Amante, de 37 anos, estudando há 12 anos o misterioso mundo das formigas, desenvolveu um incrível jogo de paciência para dar números reais à obra destruidora desses insetos. Ele concluiu que apesar de todo o progresso técnico atual, as saúvas continuam sendo o inimigo número um da agricultura brasileira. (…) no paciente trabalho de pesquisa que o elevou à condição de maior especialista mundial na matéria. (…) Desenvolvendo um trabalho científico baseado principalmente na paciência, que a microscópica observação da vida das formigas exige, minuto a minuto, ele conseguiu reproduzir formigueiros artificiais a fim de estudar integralmente as saúvas. Sob sua orientação, o Instituto Biológico realiza pesquisas pioneiras em fazendas do interior para estudar a bioecologia das formigas.”

Finalizando esta breve nota biográfica, reproduziremos a manifestação do jornal A Semana (Paraguaçu Paulista, SP, nº 1498, 14/5/1978) inserida com destaque em sua 1ª página:


Morreu o cientista Dr. Elpídio Amante

Causou profunda consternação em nossa cidade, principalmente entre os alunos, professores e funcionários da nossa Escola Superior de Agronomia, a notícia do falecimento, em São Paulo, do Dr. Elpídio Amante.

Com 44 anos de idade, era casado com a Sra. Diva Grassman Amante, e filho do Sr. João Amante e da Sra. Líbia Castellani Amante.

Dr. Elpídio era diplomado Engenheiro-Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura da Universidade Federal de Viçosa, Estado de Minas Gerais. (…) Realizou viagens de cunho científico ao Paraguai, Venezuela, Estados Unidos da América e a vários Estados brasileiros.

Em 1972, para obtenção do Título de Doutor em Agronomia, apresentou a tese: “Influência de alguns fatores microclimáticos sobre a formiga saúva Atta laevigata (F. Smith, 1858), Atta sexdens rubropilosa Forel, 1908, Atta bisphaerica Foret, 1908, e Atta capiguara Gonçalves, 1944 (Hymenoptera, Formicidae), em formigueiros localizados no Estado de São Paulo”, à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, em Piracicaba.

Na nossa Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista, o Dr. Elpídio Amante deu a aula inaugural na sua instalação e era conhecidíssimo pelas pesquisas que aqui realizou e pela colaboração que sempre procurou prestar.

Tão logo a notícia de seu falecimento chegou à nossa cidade, o Diretor da Escola Superior de Agronomia, Dr. Aracynio T. Araújo, suspendeu as aulas em homenagem póstuma ao ilustre cientista brasileiro.”


“A MORTE É UM TRANSPLANTE DA ALMA”


1 Querida mãezinha, peço a sua bênção de paz, tanto quanto peço a Deus nos ampare a todos.

2 Sinto-me por demais sensibilizado, em comandando o lápis com auxílio de amigos de minha vida nova, a fim de trazer alguma notícia que me retrate a saudade e o carinho, a lembrança e a gratidão.

3 Um empecilho grande me inibe os movimentos mais íntimos. A palavra escrita ou falada, num momento deste é recurso claramente inexpressivo para arrancarmos do coração o que o sentimento procura inutilmente dizer.

4 Compreendo, já estivemos juntos em outros círculos de prece e cheguei mesmo ao grande tentame: escrever-lhes tanto quanto desejava.

5 Consegui, em parte, a realização de meu intento, mas agora, mãezinha, busco aprofundar-me no relatório afetivo de modo a contar-lhe que seu filho vai passando bem.

6 Entendo hoje que a morte é um transplante da alma. Somos despojados do clima e das condições em que vivemos, qual acontece com as árvores adultas.

7 Quem asseverará que as árvores não sofram quando transferidas de lugar? A princípio emurchecem, como que desvitalizadas e enfermas. Somente a pouco e pouco se revigoram, ganhando energias para o novo ambiente a que se devam adaptar. Isso é o que nos ocorre, por aqui. Pelo menos, quanto a mim, o símile é completo.

8 Estou bem; no entanto, esse “estou bem” quer dizer: prossigo lutando para afazer-me aos novos modos de vivência a que fui trazido, quando no imo do próprio ser desejaria ter permanecido mais tempo nas experiências que o Senhor me concedeu.

9 Reconheci, sem qualquer dúvida, que aqueles primeiros dias de maio eram momentos de preparo a fim de passar pelo despojamento da desencarnação. n Ignoro se o seu carinho recorda que me preocupava em aguardar o Dia das Mães, n no firme propósito de presenteá-la, extensivamente à nossa querida Diva com algo que me significasse o amor imenso. 10 Entretanto, o depauperamento intensivo de minhas forças não me permitiu atingir a data mencionada. Fica neste tópico de minhas notícias o registro de minha intenção. Não falo nisso melancolicamente e sim com esperanças que me renovam todas as forças.

11 Peço, mãezinha, dizer à nossa Diva de minha ternura e gratidão por todas as demonstrações de apoio que a abnegação dela me proporcionou. 12 A desencarnação não é o fim. n Estamos vivos de outro modo, além da veste física deteriorada. 13 Como definir o processo da sobrevivência num corpo que é o nosso veículo real, n mesmo no tempo da existência física, por agora não sei elucidar.

14 Perdoe-me as divagações que não são inúteis. Se perguntássemos a uma laranjeira pelos meios, através dos quais terá ela renascido de golpes que a deixaram desnuda antes de seu reavivamento, creio que o vegetal não saberia explicar-se, conquanto prosseguisse da mesma forma, reabastecendo-se na seiva da própria vida e produzindo os frutos que as Leis Divinas lhes esperam da presença. Assim somos nós na paisagem em que atualmente me vejo.

15 Existirão mansões, de sabedoria e de amor, em outras Esferas, em tamanho nível de elevação que professores benevolentes e sábios terão ideias superiores e cristalinas a respeito de minhas indagações. Digo, porém, que no campo de revivescência em que nos achamos, sabemos tanto como se morre, como na Terra sabemos como se nasce. Isso, entretanto, não nos retira sentimento algum e somos os mesmos tais quais éramos no Plano Físico, procurando realizar-nos em outras faixas de autoconhecimento e melhoria espiritual.

16 Estou agradecido por suas preces e por seus brindes de ternura, nas flores e nas santas palavras com que me recorda à Diva, à Neide n e ao Paulo n por tudo de bom que me ofertam. 17 Naturalmente que neste apontamento não posso desligar o meu pai, cuja dor é também oração em meu benefício, e, mãe querida, compreendo agora que todos aqueles que se mostram incapazes de assimilar as realidades do Espírito sofrem talvez mais do que as almas sensíveis que já conseguem aninhar a fé nos próprios corações. Meu pai ainda chora demasiado e respeito-lhe o sofrimento.

18 Meu avô Severino n e outros amigos me assistiram com extremada benevolência nas primeiras horas de meu novo modo de ser. 19 Encontrei criaturas de coração admirável que me prestaram generoso amparo. O irmão Bruschi e o irmão Foco, creio que Francisco Foco, de Paraguaçu, n me abençoaram com muito apoio. Companheiros de Viçosa e Piracicaba compareceram junto a mim, estendendo-me concurso fraterno. E um grande amigo das formigas, que na Terra foi o venerável Batuíra, n me ajudou valorosamente, estabelecendo recursos de socorro em meu benefício que me surpreenderam vivamente.

20 E a vida prossegue, entendendo, de minha parte, o valor crescente dos tesouros considerados pequeninos no mundo. Penso que muito em breve conseguirei retomar meus estudos junto de amigos vinculados à obra benemérita do nosso companheiro e protetor Luiz de Queiroz. n

21 Rogo a sustentação do seu otimismo e de sua coragem de vez que, por fios invisíveis de energia que não sei definir, o coração das mães possui profunda influência sobre os filhos, mesmo quando os filhos já se encontrem domiciliados aqui. 22 Auxilie-me, querida mãezinha, e recorde que sinto em sua dedicação o substitutivo de minha pobre presença junto à nossa Diva e de nosso Paulo. Nossa Neide igualmente exige muito ainda de seu devotamento e confiarei na sua fé.

23 Os assuntos entre as duas vidas são realmente fascinantes na região fronteiriça em que nos achamos nesta noite; entretanto, é necessário dosear o noticiário para que venhamos a prevenir qualquer inquietação que, em nosso caso, simbolizaria o alimento em excesso quando administrado sem qualquer consideração de aproveitamento.

24 Paro aqui, ansiando continuar e anseio continuar reconhecendo que a pausa é imprescindível.

25 Agradeço a todos os corações fraternos que se reúnem aqui conosco possibilitando-me a grafia desta carta; gratidão é dever e, por isto mesmo elevo os meus pensamentos ao Criador, a Ele rogando a remuneração de paz e alegria em favor de todos.

26 A benfeitora Líbia, n que tem seu querido nome, deixa-lhe muito carinho e de minha parte endereço a todos os nossos o agradecimento afetuoso de todos os dias, entregando, no entanto, ao seu carinho materno todo o coração reconhecido de seu filho, sempre seu filho e companheiro de todos os momentos,


Elpídio Amante


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Aqueles primeiros dias de maio eram momentos de preparo a fim de passar pelo despojamento da desencarnação. — Ele foi operado de um tumor, já generalizado, em 30/3/1978, permanecendo acamado, com piora lenta e progressiva, até o dia 12/5 próximo, data de seu falecimento.


2 — Ignoro se o seu carinho recorda que me preocupava em aguardar o Dia das Mães — No primeiro domingo de maio de 1978, dia 7, ele demonstrou sutilmente, à sua mãe, dúvidas com respeito à data certa do Dia das Mães, mas veio a desencarnar na antevéspera dessa comemoração.


3 — A desencarnação não é o fim. — Seus familiares, especialmente sua mãe, espírita, não estranharam a palavra desencarnação, pois Dr. Elpídio era um estudioso do Espiritismo. Ainda jovem, entusiasmou-se com o lançamento do livro A Grande Síntese (recebido mediunicamente por Pietro Ubaldi) — “o Evangelho da Ciência”, na afirmativa de Emmanuel.


4 — Como definir o processo da sobrevivência num corpo que é o nosso veículo real, mesmo no tempo da existência física, por agora, não sei elucidar. — O veículo real aqui referido é o chamado perispírito ou corpo espiritual. (Ver O Livro dos Espíritos, A. Kardec, Questões 93 a 95; e Evolução em Dois Mundos, André Luiz, médiuns F.C. Xavier e W. Vieira, Cap. II, 1ª Parte, FEB.)


5 — Neide — Srta. Neide Amante, irmã.


6 — Paulo — Paulo Grassman Amante, filho.


7 — Avô Severino — Severino Castellani, italiano, faleceu em nosso país aos 20/10/1966, com 94 anos. Agricultor, “era um apaixonado pelo Brasil e pelas plantas.”


8 — O irmão Bruschi e o irmão Foco, creio que Francisco Foco de Paraguaçu, me abençoaram com muito apoio. — Em entrevista, D. Líbia disse-nos desconhecer tais entidades. Posteriormente, comunicamo-nos por carta com os confrades Lília e Orivaldo Oliveira, casal residente em Paraguaçu Paulista, que, gentilmente, enviaram-nos as seguintes informações: “Francisco Foco viveu nesta cidade até 1926, quando se mudou, não deixando familiares. Foi proprietário da primeira pensão da localidade, onde funciona hoje o Hotel Paraguaçu. Guido Bruschi viveu na mesma época em que o Sr. Foco, tendo familiares aqui residentes. Foi fiscal de rua e depois tropeiro. Seu relacionamento com o Sr. Foco era cordial e amistoso, pois no vilarejo todos eram amigos e a “Pensão do Sr. Chico” era ponto de encontro.”


9 — O venerável Batuíra — Antônio Gonçalves da Silva, cognominado Batuíra, foi um dos grandes pioneiros espíritas do Brasil. Jornalista, conferencista, médium curador, prestou relevantes serviços assistenciais na capital paulista, onde desencarnou em 1909, com 70 anos de idade.


10 — Penso que muito em breve conseguirei retomar meus estudos junto de amigos vinculados à obra benemérita de nosso companheiro e protetor Luiz de Queiroz. — Luiz Vicente de Souza Queiroz nasceu e faleceu em São Paulo, Capital, respectivamente em 1849 e 1898. Cursou a Escola Agrícola de Grignon, França. Providenciando um projeto elaborado na Inglaterra e doando sua fazenda São João da Montanha, lançou as bases de uma Escola de Agricultura em Piracicaba, SP, que de fato, três anos após o seu falecimento, seria fundada com o nome de Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, prestando-lhe, assim, expressiva e justa homenagem.


11 — Benfeitora Líbia — Entidade espiritual desconhecida da família.


Hércio Arantes


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