1 O respeito aos doentes é dever inatacável, mas vale descrever a ligeira experiência para a nossa própria orientação.
2 Penetráramos o nosocômio, acompanhando um assistente espiritual que ingressava no serviço pela primeira vez, e, por isso mesmo, era, ali, tão adventício em matéria de enfermagem, quanto eu próprio.
3 Atender a quatro irmãos encarnados sofredores, o nosso encargo inicial nas tarefas do magnetismo curativo. Designá-los-emos por números. Em arejado aposento, abeiramo-nos deles, depois de curta oração.
4 O amigo de número um arfava em constrangedora dispneia, suplicando em voz baixa:
— Valei-me, Senhor!… Ai Jesus!… Ai Jesus!… Socorrei-me! Ó Divino Salvador!… Curai-me e já não desejarei no mundo outra coisa senão servir-vos!…
5 O segundo implorava, sob as dores abdominais em que se contorcia:
— Ó meu Deus, meu Deus!… Tende misericórdia de mim!… Concedei-me a saúde e procurarei exclusivamente a vossa vontade…
6 Aproximamo-nos do terceiro, que, mal aguentando tremenda cólica renal em recidiva, tartamudeava ao impacto de pesado suor:
— Piedade, Jesus!… Salvai-me!… Tenho mulher e quatro filhos… Salvai-me e prometo ser-vos fiel até a morte!…
7 Por fim, clamava o de número quatro, carregando severa crise de artrite reumatóide:
— Jesus! Jesus!… Ó Divino médico!… Atendei-me!… Amparai-me!… Dai-me a saúde, Senhor, e dar-vos-ei a vida!…
8 Nosso orientador enterneceu-se. Comovia-nos, deveras, ouvir tão carinhosas referências a Deus e ao Cristo, tantos apelos com inflexão de confiança e ternura.
9 Sensibilizados, pusemo-nos em ação.
O chefe esmerou-se.
Exímio conhecedor de ondas e fluidos, consertou vísceras aqui, sanou disfunções ali, renovou células mais além e o resultado não se fez esperar. Recuperação quase integral para todos. Entramos em prece, agradecendo ao Senhor a possibilidade de veicular-lhes as bênçãos.
10 No dia imediato, quando voltamos ao hospital, pela manhã, o quadro era diverso.
Melhorados com segurança, os doentes já nem se lembravam do nome de Jesus.
11 O enfermo de número um se reportava, exasperado, ao irmão que faltara ao compromisso de visitá-lo na véspera:
— Aquele malandro pagará!… Já estou suficientemente forte para desancá-lo… Não veio como prometeu, porque me deve dinheiro e naturalmente ficará satisfeito em saber-me esquecido e morto…
12 O segundo esbravejava:
— Ora essa!… Por que me vieram perguntar se eu queria orações? Já estou farto de rezar… Quero alta hoje!… Hoje mesmo!… E se a situação em casa não estiver segundo penso, vai haver barulho grosso!
13 O terceiro reclamava:
— Quem falou aqui em religião? Não quero saber disso… Chamem o médico…
E gritando para a enfermeira que assomara à porta:
— Moça, se minha mulher telefonar, diga que sarei e que não estou…
14 O doente de número quatro vociferava para a jovem que trouxera o lanche matinal:
— Saia de minha frente com seu café requentado, antes que eu lhe dê com este bule na cara!… Atônitos, diante da mudança havida, recorremos à prece, e o supervisor espiritual da instituição veio até nós, diligenciando consolar-nos e socorrer-nos.
15 Após ouvir a exposição do mentor que se responsabilizara pelas bênçãos recebidas, esclareceu, bem humorado:
— Sim, vocês cometeram pequeno engano. Nossos irmãos ainda não se acham habilitados para o retorno à saúde, com o êxito desejável. Imprescindível baixar a taxa das melhoras efetuadas…
16 E, sem qualquer delonga, o superior podou energias aqui, diminuiu recursos ali, interferiu em determinados centros orgânicos mais além, e, com grande surpresa para o nosso grupo socorrista, os irmãos enfermos, com ligeiras alterações para a melhoria, foram restituídos ao estado anterior, para que não lhes viesse a ocorrer coisa pior. ( † )
Irmão X
(Humberto de Campos)