São Paulo (SP) — 22 de janeiro de 1960.
São Paulo (SP) — 16 de abril de 1981.
Filho de Emanoel Santos França e de Itália Rusciolelli França, ao partir para o Plano Espiritual, Leopoldo dividia o convívio familiar com os irmãos Luciano Antônio e Antônio Magno Rusciolelli França.
Sua desencarnação decorreu de acidente de automóvel na capital paulista, em abril de 1981, quando contava 21 anos. Leopoldo José estudava Química em Araraquara (SP), e presidia o Diretório Acadêmico de sua Faculdade.
PALAVRAS DOS PAIS DO COMUNICANTE
“As palavras de nosso filho, através das mãos de Chico Xavier, transformaram-nos totalmente. Do desespero passamos à compreensão de que nosso filho não partiu antes da hora, o que muito nos tranquilizou.
“A mensagem foi a maior bênção que nós recebemos de Deus.”
Itália e Emanoel França
MENSAGEM
1 Querida mãezinha Itália, peço a sua bênção, rogativa que com todo o meu coração estou endereçando ao papai Emanoel.
2 Estou auxiliado para dirigir ao seu carinho as notícias que vou articulando…
3 Mãe querida, as nossas lágrimas escorrem juntas. Até agora ainda não me satisfiz com essa carência de intercâmbio em que me vi, de momento para outro…
4 Enquanto lhe escrevo, ouço novamente as suas abençoadas palavras: “Meu filho, muito cuidado no trânsito!”
5 “Filho, pense em você e pense em nós, sempre que a velocidade se faça tentação em você ou em seus amigos!”
6 Escutava, e muitas vezes respondia com um beijo de carinho e reconhecimento, traduzindo a minha gratidão à frente de suas cautelas justas.
7 Todo esse livro de exortações faladas por seu amor, me retornou à memória, quando o acidente de abril do ano passado nos abateu.
8 Ignoro se a máquina estava fora de órbita quanto à quilometragem que nos competia obedecer.
9 O que sei, com certeza, é que a explosão de muitas bombas reunidas não nos atingiria tanto quanto aquele choque que me arredou da consciência de mim mesmo…
10 Tudo foi um momento, que a gente mesmo não sabe avaliar. Pensei no Jorge e nos companheiros outros, n mas sentindo que a extensão do desastre era grande demais para que me acomodasse com qualquer ideia de isenção do trauma que me tomou, de todo, todas as energias, passei a refletir em seu amor e no carinho de meu pai, na ânsia de pedir a Deus nos poupasse consequências imprevisíveis.
11 No entanto, isso me foi negado pela urgência do chamado a que estávamos intimados todos, no veículo em pânico e, ao invés de pensar ou de rezar, notei que as minhas forças se esvaíam.
12 Passei a ouvir vozes, sem compreendê-las muito bem, entretanto, não me era possível oferecer respostas certas. Achava-me na condição do menino habituado a se manifestar por um instrumento que não mais me oferecia condições para interpretar qualquer desejo que me nascesse da mente atribulada…
13 Não sei quanto tempo estive assim entre a sombra e a luz, entre a vida e a morte…
14 Lembro-me de que em certo momento, um homem de fisionomia serena se abeirou de mim, e me chamou pelo nome que era próprio, convidando-me a segui-lo…
15 As dificuldades e as dores eram tantas que não hesitei em pedir a ele em pensamento me auxiliasse a erguer o corpo estragado e consegui receber-lhe o abraço de apoio em cuja escora, tomado de esperança, me levantei…
16 Bastou enunciar essa esperança de voltar a casa e desmaiei naqueles braços amigos que o mensageiro me estendia. 17 Dormi, como se o contato daquele peito amigo me anestesiasse os pensamentos, e só mais tarde vim a saber que fora o avô Leopoldo n quem me oferecia a libertação.
18 Efetivamente, acordei sob os cuidados dele e pude entender o que sucedera. Minhas perguntas eram semelhantes às indagações de uma criança que se vê sob enorme aflição para retornar a casa…
19 Foi então, mãezinha Itália, que reconheci tudo…
20 Doeu-me a separação da família, qual se fosse lesado na intimidade de minha própria alma. O seu rosto surgiu no espelho de minhas lembranças… Uma secreta ligação nos reunia um ao outro.
21 Penso que a saudade incendiada de sofrimento faz semelhante prodígio de integração. 22 Estava longe e a via junto de mim, achava-me distante, seguindo a nova compreensão que me surgia e notava a sua face molhada de pranto a ensopar-me o rosto, lavado com as minhas próprias lágrimas.
23 Querida mãezinha, eu era um menino talvez brincalhão, mas trazia o seu amor por tesouro maior de minha vida, e ali, naquele recanto em que me vi de improviso, como que desterrado do próprio lar, as suas preces eram o meu alimento, conquanto o seu choro me atingisse sem que eu pudesse confortá-la! Assim foram os meus dias primeiros.
24 Um amigo de nome Machado n me visitou, notificando-me que o Jorge Alberto igualmente viera em minha companhia, para a Vida Espiritual, e procurei sustentar a paciência e a serenidade, rogando a ele que apresentasse ao amigo as minhas lembranças com o sincero pesar de que me via acometido, ao recolher a referida informação.
25 Com os dias pude regressar a casa para revê-los. O aspecto do papai abatido e desfigurado me torturou o coração e ao vê-la tão triste e tão desolada pedi a Deus me fortalecesse a fim de sabê-la distante de qualquer desânimo que pudesse aniquilar-lhe o resto das forças.
26 Perdoem-me se lhes dei tamanho trabalho, e desejo saibam todos que tenho não apenas os pais queridos, mas também os queridos irmãos, Luciano, Antônio Magno, a irmã Lizete e a nossa pequena Luciana, n por dentro do meu carinho e de minhas saudades incessantes.
27 Mãezinha Itália, sou grato por todas as bênçãos com que me fortaleceram, pelas orações, pelos ofícios religiosos e pelas visitas da alma ao sítio em que se guardaram as minhas últimas lembranças.
28 Querida mamãe, não precisa conservar objetos que me pertenceram. A minha pequenina herança de rapaz pode ser distribuída com os meninos aos quais as minhas pobres lembranças talvez ainda possam ser úteis. Guarde os nossos retratos, somente isso.
29 A imagem é um ponto vivo para as nossas comunicações recíprocas. Sei tudo quanto me fala através de nossas fotos e rogo ao seu carinho lembrar-me como eu era, e não na fase terminal do corpo ou da roupagem estragada que não mais me serviu.
30 Aqui encontrei muitos amigos, o avô Rusciolelli, o bisavô José, a irmã Ana n e tantas afeições outras me amparam, e se posso pedir-lhe algo mais do que a sua bondade me proporciona sempre, peço-lhe não chorar com angústia.
31 É natural que a saudade nos traga pranto aos olhos, mas a nossa saudade é feita de esperança e fé em Deus: prometo-lhe e prometo ao papai Emanoel melhorar com segurança assim que consiga vê-los a todos em casa, fortalecidos na confiança em Deus e valorosos para suportar as lutas naturais da Terra.
32 A Vida Física é uma viagem longa para uns e curta para outros. Meu tempo foi estreito, mas aqui, com a bênção de Jesus terei novas oportunidades de estudo e trabalho à frente. Auxiliem-me com a coragem e a paz que sempre me proporcionaram e seguirei mais contente em meus novos caminhos.
33 Mãezinha querida, aos irmãos e à nossa Lucianinha o meu abraço de muita gratidão, e reunidos à querida mãezinha Itália com o meu querido papai Emanoel em meu carinho, ofereço-lhes, como sempre, o coração do filho agradecido, sempre mais agradecido.
Leopoldo José
5 de junho de 1982.