O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Enxugando lágrimas — Familiares diversos


15 n

Tudo é bênção de Deus

1 Querido papai, querida mamãe.
Abençoem o filho de volta, ansioso de entendimento e de paz.

2 Abraço as irmãs queridas e ofereço aos amigos a minha simpatia e apreço.
Estou entre pessoas que desconheço, mas sinto-me em casa. A bondade está brilhando em todos. E através da luz que me cerca, posso escrever qualquer coisa.

3 Papai, primeiro ao senhor.
Venho pedir sua resignação qual o doente que solicita remédio. Preciso disso, papai, a fim de viver aqui. Este viver aqui significa ajustar-me, compreender-me, aceitar as ocorrências e ser útil. Suas lágrimas formam um laço tão forte como aqueles nós nos quais prendíamos as reses no campo. 4 Quero sair do círculo fechado em que me encontro e não consigo. Estou parado sem forças. Papai, a morte não é o fim. A vida continua. Lembre o pasto morto quando a chuva chega de monte e tudo que parecia secura e poeira torna a reverdecer. Assim é a vida quando termina no corpo. 5 Rogo ao senhor e à mamãe, tanto quanto às meninas, que não me lembrem hospitalizado nem morto. Aquilo se foi. Estou firme e refeito, mas estou fraco e doente, porque o pranto e especialmente agora o seu, meu pai, me revolve as entranhas do coração.

6 Às vezes melhoro, tenho esperança, a oração que vou aprendendo com calma me escora os pensamentos e consigo ouvir os mestres daqui com desejo sincero de lhes aproveitar as lições, mas logo me levanto por dentro, ouço, papai, os seus chamados…

7 O senhor quer esmorecer por minha causa, busca as minhas lembranças e me pede quase me intimando, que lhe apareça. E a luta se estabelece, porque não sei quem chora mais, se o senhor buscando quase morrer, se eu mesmo tentando viver à força num campo de experiência que não mais me pertence.

8 É preciso, papai, que a conformação nos abençoe. Ou melhor, seu filho precisa de tranquilidade e segurança. Viva, sim! O senhor e mamãe precisam recordar que as meninas aí estão, que a família não se acabou e que se seu filho for auxiliado, poderá também auxiliar.

9 Sei tudo, sei que o senhor contava comigo como sendo o companheiro que Deus lhe dera, mas creia que ainda sou. Compreendia os seus projetos de futuro que eram meus. Para seguir seus passos, para imitá-lo, meu pai, o próprio estudo era pra mim sacrifício. Queria o campo, a beleza das árvores, as águas moventes, o ar puro e o gado — o gado que parecia nos entender.

10 Cresci para ser mais seu que mesmo de minha mãe, porque, em verdade, o sonho nosso era penetrar o sem-fim e respirar no verde grande, para construir coisas novas, mas quem de nós não é de Deus? E Deus, papai, queria seu filho para trabalhar ao seu lado, mas de outro modo. Não chore mais.

11 Levantemos o coração para a fé. Recorde com mamãe tudo que era de mais lindo em nossa casa — a fé em Deus — e não a abandone.
Estaremos juntos, rezando.
Mamãe encontrou o clima espiritual onde a resignação é sustentada com segurança, e peço-lhe pra seguirmos com ela à frente.

12 Não acredite que alguém teve culpa naquela corrida, que o Zé, o nosso Zé da Brahma, buscava se exercitar. Eu mesmo dirigia. Prometi que haveria de dar-lhe alguns macetes em matéria de equilíbrio nas grandes velocidades, e pisei confiante. O carro não se arrancou, porque, na verdade, era mais uma decolagem. Quase voamos, entretanto, veio o insucesso, a queda foi violenta. 13 Não esperava que pudesse acontecer o que vimos. Quis gritar e dominar a situação, no entanto, fiquei imóvel, sem meios de falar o que acontecia. 14 Lutei comigo mesmo, ouvi as vozes de todos os que se aproximavam desejando iniciar o socorro, mas, por fim, foi um sono ou semissono, porque nem dormia, nem deixava de perceber o que se passava em derredor. Depois, veio um sono grande a que me entreguei vencido.

15 Não passou muito tempo, e vi que estava em nossa casa. Era domingo à noite, quando me vi assim, como quem melhora depressa. 16 Chamei por todos, entretanto, compreendo hoje porque ninguém me respondeu. Comecei a sentir medo, quando um amigo se aproximou, depois outro, não os conhecia, mas se identificaram de pronto.

17 O que vinha à frente se declarou meu avô Izídio, e o outro que me abraçou ternamente se afirmou como sendo, alguém da família, dando-me o nome de avô Sahb, ou melhor, bisavô, carinhoso e amigo. 18 Logo após, uma senhora se ofereceu para socorrer-me e auxiliar-me a tomar um leito móvel, porque o susto me fazia então cair. Mais tarde, vim a saber que se tratava de Maria Luiza Teixeira, irmã que se disse, com muito amor, ser nossa amiga nas bênçãos de Buriti Alegre.

19 Chorei muito ao saber que perdera o volante e o corpo físico. Procurei pelo Zé, e sei agora que ele está sob o amparo de muita gente. E assim, desde aquele fevereiro de fim difícil, estou preso aos meus pais queridos. 20 Hospitalizado me vejo porque não tenho a liberdade de agir. Estou atado ao poste de nossas lágrimas; papai, solte seu filho, readquirindo a sua fé em Deus e o nosso trabalho, tudo vai melhorar. Nossos planos agora de Araguaína não se acabaram. Pense em nossa família e nos outros — nos outros rapazes que necessitam de proteção e amor.

21 Papai, e mamãe, trabalharemos nas boas obras. O mundo espera seguidores de Jesus para levantarem a vida melhor.

22 Leila, Lau, n vocês que se acham conosco, ajudem-me, colaborem com a mamãe nas tarefas em auxílio das crianças mais necessitadas, não deixem papai chorando diante de meus retratos e de meus objetos de rapaz.

23 Tudo é bênção de Deus. Vovô Izídio e tia Nenê com o Padre José Joaquim, um protetor e amigo nosso, estão comigo, e deixam um abraço a todos. Eles dizem que têm pedido a Jesus por nós todos, sem esquecer que a vovó Laudelina pede por tio Tonico como pelos demais familiares do coração.
Queria escrever mais, no entanto, não posso.

24 Mamãe, agradeço o seu esforço por mim baseado na sua confiança em Jesus e em nossa Mãe dos Céus. Não deixe que a nossa casa esteja sem a luz da oração.

25 Papai, abençoe-me. Beijo as suas mãos. Orem pelo filho que ainda necessita de paz a fim de fazer a própria renovação. Pai, auxilie-me. Peço-lhe para viver, e viver com muita saúde e coragem.

26 Lembranças a todos os nossos que ficaram na retaguarda, e recebam, papai e mamãe, todo o coração do filho reconhecido, do filho que os acompanha agradecendo-lhes a vida e a esperança, sempre e sempre filho do coração,


Izídio




FILHO DE VOLTA, ANSIOSO DE ENTENDIMENTO E DE PAZ


Izídio Inácio da Silva, autor da mensagem recebida pelo médium Xavier, na madrugada de 12 de outubro de 1974, nasceu a 21 de março de 1955, em Buriti Alegre, Estado de Goiás. Único filho do sexo masculino do casal Cacildo Inácio da Silva e Leilá Sahb Inácio da Silva, n residia em Goiânia, desde os quatro anos de idade.

Fez o curso primário no Educandário de Goiás, o secundário em diversos colégios, inclusive o Ateneu D. Bosco, e formou-se em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio D. Marcos de Noronha, todos em Goiânia.

Desde criança, Izídio era companheiro de seu pai, amava os campos, as fazendas e os animais.

Apesar da pouca idade, era muito trabalhador e dotado de grande senso de responsabilidade. Além de cuidar da Fazenda “Fundão”, no município de Goiás (antiga capital do Estado), que o genitor vendeu logo após a morte do filho, por não suportar-lhe a ausência, Izídio, adquiriu, com o seu próprio esforço e com a ajuda do pai, a sua própria fazenda de mil e duzentos alqueires em Redenção, no Estado do Pará, onde pretendia trabalhar e construir a própria vida.

Em janeiro de 1974, acompanhado de um amigo, visitou ele essas terras, penetrando o interior das matas virgens para respirar o ar puro, através de estivas — estradas sem segurança, construídas por peões contratados por ele, — para lá não mais voltar, senão em espírito.

Izídio era querido em toda a parte, devido ao seu temperamento alegre, afetuoso, simples, humilde e dinâmico de que se fazia portador. À feição dos rapazes de sua época, praticava o namoro, a prática de esportes e as corridas de carros.

Amava a velocidade, tendo sido um dos principais corredores de Kart de Goiânia, chegando a pilotar um carro de classe turismo, numa corrida em Brasília.

Pertenceu ao Vila Nova Futebol Clube, do qual era diretor do time juvenil e do basquetebol, tendo excursionado com o time a São Paulo, dois meses antes da desencarnação.

Mereceu da Diretoria brilhante homenagem póstuma: um jogo de basquete, no dia 28 de março de 1974, entre as equipes do Vila Nova e da Guanabara, na contenda do troféu que lhe guardou o nome.

A revista local Leia Agora Esportiva dedicou-lhe uma página sob o título “Uma perda irreparável — Ele seria o futuro Presidente do Vila Nova.”

Surgiram, ainda, homenagens a Izídio na Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa.

Numa terça-feira, 19 de fevereiro de 1974, Izídio foi com seu pai comprar e marcar uma boiada, perto de Hidrolândia, Estado de Goiás.

Chegou cansado e repousou um pouco antes do banho. Desceu para o jantar com roupa de fazenda (fato que chamou a atenção de Urquiza, senhora que ajudou D. Leilá a criar os filhos, inclusive Izídio, pois que ele, à noite, sempre gostava de envergar uma boa indumentária).

Inquirido por que se trajava daquele modo, respondeu que iria deitar-se mais cedo, já que deveria sair de madrugada com o pai para a fazenda.

Entretanto, após o jantar, saiu de casa para ir a uma reunião do Vila Nova, que já havia sido adiada.

Encontrou-se com alguns amigos, e acabou indo assistir a um “pega ou racha”, que era realizado na estrada que demanda a cidade de Guapó.

Com um seu amigo, José Fortuoso Sobrinho, mais conhecido como Zé da Brahma, n que o conhecia como bom piloto, foi dar algumas explicações sobre a melhor maneira de conduzir o veículo. E a 200 Km/h, o carro capotou. Seu companheiro faleceu no local do acidente, e Izídio foi atendido no Hospital Ortopédico, onde esteve em estado de coma durante seis dias, até que veio a desencarnar, no dia 26 de fevereiro, terça-feira de carnaval. Seu sepultamento teve a presença maciça dos jovens, dos esportistas e dos fazendeiros locais, além dos parentes.

Após o impacto da morte do filho, D. Leilá, que já possuía noções sobre a Doutrina Espírita, foi quem se recuperou mais facilmente. Passou a frequentar a Irradiação Espírita Cristã, onde derramou suas lágrimas de mãe, para logo transformadas pela Misericórdia do Alto em conforto e esclarecimento para muitos.

Em meados de 1974, Francisco Cândido Xavier foi a Goiânia, a convite do Deputado Lúcio Lincoln de Paiva, para um diálogo na Assembleia Legislativa, do Estado de Goiás. Dona Leilá não conseguiu aproximar-se do médium, devido ao acúmulo de pessoas em torno dele. Mas não se deu por vencida. Sabendo que após a cerimônia, ele iria comparecer ao Instituto Araguaia para uma noite de autógrafos, para lá se dirigiu, com o esposo desolado. Enfrentando grande fila, conseguiram, às 2:00 horas, trocar rápidas palavras com o veterano médium espírita, dele recebendo o convite para irem a Uberaba, além de breve frase confortadora.

No dia 12 de outubro do mesmo ano, a família de Izídio chegou a Uberaba e, até o momento da recepção da mensagem, só manteve contatos impessoais com o médium de Emmanuel.

A peça medianímica foi um conforto para a família, que encontrou nela a certeza da sobrevivência do Espírito, visto ser a carta de Izídio repleta de descrições, citações e apontamentos profundamente pessoais, das quais o médium não possuía qualquer conhecimento.

Em Goiânia, onde o jovem Izídio era muito estimado, e onde muitos amigos sabiam quão desolados se lhe viam os familiares, principalmente o pai, que não se conformava com a desencarnação repentina do filho, a mensagem causou grande alegria e admiração, sendo publicada nos jornais da cidade e no jornal Goiás Espírita. Esta mensagem, diz D. Leilá, não só confortou a família, mas a muitos corações de mães, e muitos jovens a conservam até hoje como advertência.

Depois de afirmar ao genitor que a morte não é o fim e que a vida continua, usando imagens de quem conhece a vida campestre, Izídio se refere a um ponto de suma importância:

“Não acredite que alguém teve culpa naquela corrida, que o Zé, o nosso Zé da Brahma, n buscava se exercitar. Eu mesmo dirigia. Prometi que haveria de dar-lhe alguns macetes em matéria de equilíbrio nas grandes velocidades, e pisei confiante. O carro não se arrancou, porque, na verdade, era mais uma decolagem. Quase voamos, entretanto, veio o insucesso, a queda foi violenta. Não esperava que pudesse acontecer o que vimos.”

Segundo informes da família, Izídio gostava de carros e da velocidade.

O pai, cavalheiro muito sensível, pedia habitualmente ao filho para não se entusiasmar com o automobilismo, devido aos riscos de semelhante prática alegando que precisava dele, não só para auxiliá-lo, como também para proteger a família, no futuro.

Geralmente, apesar das advertências, o filho participava de corridas.

Em outubro de 1973, vendeu o Opala de corridas que possuía, e comprou uma camioneta C-10, para enfrentar as tarefas das fazendas.

Os pais tranquilizaram-se ainda mais; contudo, de vez em quando, os amigos insistiam e Izídio participava de algumas competições.

Eis, agora, o fato curioso: todos os que assistiram à corrida que finalizou no desastre, afirmaram que o Zé da Brahma é quem saiu ao volante, e o Izídio só o acompanhava para explicações. E sempre Dona Leilá falava que se Izídio estivesse ao volante, o carro não teria capotado. O fato, como vimos, foi negado por Izídio em sua primeira mensagem, através do médium Xavier.

Surgiram dúvidas, apesar de existirem tantos outros detalhes que davam mostras de tratar-se, com efeito, do Espírito do jovem. Um ano após o acidente, porém, a Perícia deu o laudo esclarecedor: o carro de propriedade de José Fortuoso Sobrinho era pilotado por Izídio, e o Zé da Brahma era o acompanhante.

Deixando para o próximo capítulo as considerações em torno de alguns nomes citados na mensagem, terminemos este já longo comentário, citando uma passagem do depoimento da família, que bem confirma a observação dos psicólogos: de que temos conhecimento antecipado, inconscientemente, do que poderá ocorrer conosco ou com qualquer membro de nossa constelação familiar: Izídio era muito amoroso para com os entes queridos, e mantinha o hábito de beijar exageradamente, às vezes quase sufocando as crianças, razão por que D. Leilá sempre o corrigia. Principalmente Urquiza, sua segunda mãe, e Leandra, sua sobrinha e afilhada de cinco meses, lhe recebiam mais as efusões de carinho.

Dias antes do acidente, Izídio estava saindo para a fazenda, quando sua irmã Laudelina chegava à casa paterna em companhia de Leandra. Ele tomou a sobrinha nos braços e começou a beijá-la, demasiadamente.

A genitora pediu ao Esposo para corrigir o filho.

Quando o Sr. Cacildo deliberou atender, calou-se estranhamente, ao ouvir uma voz que lhe disse: “Não faça isso, ele beija todo mundo porque vai durar pouco.”

Este fato foi narrado pelo pai, nos dias em que Izídio esteve hospitalizado, em coma profundo.

Às páginas 47 e 51 da obra Somos Seisn há ligeiras referências ao Espírito de Izídio.


Elias Barbosa



[1]  Veja-se depoimento de D. Leilá Sahb Inácio da Silva na obra Luz Bendita (Francisco Cândido Xavier/Emmanuel/Rubens Silvio Germinhasi), IDEAL, S.P., 1ª edição, novembro/1977, pp. 33-36.


[2]  Francisco Cândido Xavier, Caio Ramacciotti, Espíritos Diversos, Somos Seis, GEEM, São Bernardo do Campo, SP, 1ª Edição, 1976.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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