O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Evolução em dois mundos — André Luiz — F. C. Xavier / Waldo Vieira — 1ª Parte


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Palavra e responsabilidade

(Sumário)

1. LINGUAGEM ANIMAL. — Aperfeiçoando as engrenagens do cérebro, o princípio inteligente sentiu a necessidade de comunicação com os semelhantes e, para isso, a linguagem surgiu entre os animais, sob o patrocínio dos Gênios Veneráveis que nos presidem a existência.

2 De início, o fonema e a mímica foram os processos indispensáveis ao intercâmbio de impressões ou para o serviço de defesa, como, por exemplo, o silvo de vários répteis, o coaxar dos batráquios, as manifestações sonoras das aves e o mimetismo de alguns insetos e vertebrados, a se modificarem subitamente de cor, preservando-se contra o perigo.

3 Contudo, à medida que se lhe acentuava a evolução, a consciência fragmentária investia-se na posse de mais amplos recursos.

4 O lobo grita pelos companheiros na sombra noturna, o gato encolerizado mostra fúria característica, miando raivosamente, o cavalo relincha de maneira particular, expressando alegria ou contrariedade, a galinha emite interjeições adequadas para anunciar a postura, acomodar a prole, alimentar os pintainhos ou rogar socorro quando assustada, e o cão é quase humano, em seus gestos de contentamento e em seus ganidos de dor.


2. INTERVENÇÕES ESPIRITUAIS. — É assim que, atingindo os alicerces da Humanidade, o corpo espiritual do homem infraprimitivo demora-se longo tempo em regiões espaciais próprias, sob a assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo intervenções sutis nos petrechos da fonação para que a palavra articulada pudesse assinalar novo ciclo de progresso.

2 O laringe, situado acima da traqueia e adiante da faringe, consubstanciado num esqueleto cartilaginoso, urdido em fibras e ligamentos, com uma seleta de pequenos músculos, sofre nas mãos sábias dos Condutores Espirituais, à maneira de um órgão precioso entre os dedos de cirurgiões exímios no serviço de plástica, delicadas operações no curso dos séculos, para que os músculos mencionados se façam simétricos e para que se vinculem, tão destros quanto possível, à produção fisiológica da voz.

3 Em sua contextura interna aglutina-se uma mucosa ciliada que se destina ao trabalho de lançamento do som e que verte pelos estreitamentos, transformando-se em pavimentosa-estratificada na borda livre das cordas vocais verdadeiras.

4 Fora da ação das cordas vocais, o laringe revela no pescoço movimentos de ascensão e descensão, elevando-se na expiração e na deglutição e baixando na inspiração, na sucção e no bocejar, salientando-se no corpo qual perfeito instrumento de efeitos musicais.


3. MECANISMO DA PALAVRA. — Com o extremo carinho de vagarosa confecção, os Técnicos da Espiritualidade Superior compõem a cartilagem situada em plano inferior, a cricóide, que representa um anel modificado da traqueia, sustentando uma placa na parte posterior, sobre a qual no bordo superior e de ambos os lados da linha média, se apoiam as duas aritenóides, que se permitem, assim, a conjunção ou o afastamento entre si. 2 Cada uma possui na base uma apófise: a interna, vocal, em que está inserida a parte posterior da corda vocal verdadeira do mesmo lado, e a outra, que é externa, muscular. 3 Com a mesma habilidade, os Técnicos tecem a cartilagem localizada na região anterior ou cartilagem tireóide a destacar-se sob a pele no chamado Pomo-de-Adão, em suas lâminas verticais que se conjugam na linha mediana, traçando um ângulo diedro que se volta para a retaguarda e onde se fixam as cordas vocais verdadeiras, cartilagem essa que, por baixo, se une com o anel da cricóide, e, por cima, com o osso hióide, através de membranas e ligamentos, o qual fornece apoio para a implantação do laringe.

4 Acima das cordas vocais verdadeiras, surgem as cordas vocais falsas a limitarem com a parede os ventrículos laterais de Morgagni. ( † )

5 Todos os músculos que garantem o movimento das cordas são pares, exceto o ari-aritenóideo, assegurando as funções da glote vocal e formando, com avançado primor de previsão e eficiência, a abóbada de precioso condicionamento, onde a pressão do ar pode fazer-se com segurança para separar as cordas vocais em serviço.


4. LINGUAGEM CONVENCIONAL. — Aprende então o homem, com o amparo dos Sábios Tutores que o inspiram, a constituição mecânica das palavras, 2 provindo da mente a força com que aciona os implementos da voz, 3 gerando vibrações nos músculos torácicos, incluindo os pulmões e a traqueia como num fole, e fazendo ressoar o som no laringe e na boca, que exprimem também cavidades supraglóticas, para a criação, enfim, da linguagem convencional, 4 com que reforça a linguagem mímica e primitiva, por ele adquirida na longa viagem através do reino animal.

5 A esse modo natural de exprimir-se por gestos e atitudes silenciosos, em que derrama as suas forças acumuladas de afetividade e satisfação, desagrado ou rancor, em descargas fluídico-eletromagnéticas de natureza construtiva ou destrutiva, superpõe a criatura humana os valores do verbo articulado, 6 com que acrisola as manifestações mais íntimas, habilitando-se a recolher, por intermédio de sinalética especial na escala dos sons, a experiência dos irmãos que caminham na vanguarda 7 e aprendendo a educar-se para merecer esse tipo de assistência que lhe outorgará o estado de alegria maior, ante as perspectivas da cultura com que a vida lhe responde às indagações.


5. PENSAMENTO CONTÍNUO. — Com o exercício incessante e fácil da palavra, a energia mental do homem primitivo encontra insopitável desenvolvimento, por adquirir gradativamente a mobilidade e a elasticidade imprescindíveis à expansão do pensamento 2 que, então paulatinamente se dilata, estabelecendo no mundo tribal todo um oceano de energia sutil, em que as consciências encarnadas e desencarnadas se refletem, sem dificuldade, umas às outras.

3 Valendo-se dessa instituição de permuta constante, as Inteligências Divinas dosam os recursos da influência e da sugestão e convidam o Espírito terrestre ao justo despertamento na responsabilidade com que lhe cabe conduzir a própria jornada…

4 Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo  5 e, por semelhante maravilha da alma, as ideias-relâmpagos ou as ideias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos e inquirições, traduzindo desejos e ideias de alentada substância íntima.

6 Começando a fixar o pensamento em si mesmo, fatigando-se para concatená-lo e exprimi-lo, confiou-se o homem a novo tipo de repouso, — a meditação compulsória, ante os problemas da própria vida, — 7 passando a exteriorizar, inconscientemente, as próprias ideias 8 e, com isso, a desprender-se do carro denso de carne, desligando as células de seu corpo espiritual das células físicas, durante o sono comum, 9 para receber, em atitude passiva ou de curta movimentação junto do próprio corpo adormecido, a visita dos Benfeitores Espirituais que o instruem sobre as questões morais.

10 O continuísmo da ideia consciente acende a luz da memória sobre o pedestal do automatismo.


6. LUTA EVOLUTIVA. — Entre a alma que pergunta, a existência que se expande, a ansiedade que se agrava e o Espírito que responde ao Espírito, no campo da intuição pura, esboça-se imensa luta.

2 O homem que lascava a pedra e que se escondia na furna, escravizando os elementos com a violência da fera e matando indiscriminadamente para viver, 3 instado pelos Instrutores Amigos que lhe amparam a senda, passou a indagar sobre a causa das coisas… 4 Constrangido a aceitar os princípios de renovação e progresso, refugia-se no amor-egoísmo, na intimidade da prole, que lhe entretém o campo íntimo, ajudando-o a pensar.

5 Observa-se tocado por estranha metamorfose.

Vê, instintivamente, que não mais se poderia guiar pela excitabilidade dos seus tecidos orgânicos ou pelos apetites furiosos herdados dos animais…

6 Desligado lentamente dos laços mais fortes que o prendiam às Inteligências Divinas, a lhe tutelarem o desenvolvimento, para que se lhe afirmem as diretrizes próprias, sente-se sozinho, esmagado pela grandeza do Universo.

7 A ideia moral da vida começa a ocupar-lhe o crânio.

8 O Sol propicia-lhe a concepção de um Criador, oculto no seio invisível da Natureza, e a noite povoa-lhe a alma de visões nebulosas e pesadelos imaginários, dando-lhe a ideia do combate incessante em que a treva e a luz se digladiam.

9 Abraça os filhinhos com enternecimento feroz, buscando a solidariedade possível dos semelhantes na selva que o desafia.

10 Mentaliza a constituição da família e padece na defesa do lar.

11 Os porquês a lhe nascerem fragmentários, no íntimo, insuflam-lhe aflição e temor.

12 Percebe que não mais pode obedecer cegamente aos impulsos da Natureza, ao modo dos animais que lhe comungam a paisagem, mas sim que lhe cabe agora o dever de superar-lhes os mecanismos, como quem vê no mundo em que vive a própria moradia, cuja ordem lhe requisita apoio e cooperação.


7. NASCIMENTO DA RESPONSABILIDADE. — A ideia de Deus iniciando a religião,  2 a indagação prenunciando a Filosofia, 3 a experimentação anunciando a Ciência, 4 o instinto de solidariedade prefigurando o amor puro, 5 e a sede de conforto e beleza inspirando o nascimento das indústrias e das artes 6 eram pensamentos nebulosos torturando-lhe a cabeça e inflamando-lhe o sentimento.

7 Nesse concerto de forças, a morte passou a impor-lhe angustiosas perquirições 8 e, enterrando os seus entes amados em sepulcros de pedra, o homem rude, a iniciar-se na evolução de natureza moral, perdido na desértica vastidão do paleolítico aprendeu a chorar, amando e perguntando para ajustar-se às Leis Divinas a se lhe esculpirem na face imortal e invisível da própria consciência.

9 Foi, então, que, em se reconhecendo ínfimo e frágil diante da vida, compreendeu que, perante Deus, seu Criador e seu Pai, estava entregue a si mesmo.

10 O princípio da responsabilidade havia nascido.


André Luiz


Pedro Leopoldo, 16/2/1958.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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