1 Luís Antônio Ferraz — O que o motivou a escrever o livro “O Evangelho de Chico Xavier”?
Carlos A. Baccelli — A própria vivência cristã de Chico Xavier, sem dúvida, um dos maiores apóstolos do Senhor em todos os tempos da Humanidade. A vida de Chico é o Evangelho aplicado, o ponto de referência para quantos, na Doutrina Espírita, realmente desejam servir aos propósitos de Jesus sobre a Terra.
2 L. A. F. — Por que você escolheu “O Evangelho de Chico Xavier”, como título para este livro?
C. A. B. — Recordando-nos, especialmente, dos nossos encontros das tardes de sábado “à sombra do abacateiro”… Inesquecíveis tertúlias espirituais quando, então, através de Chico Xavier, tínhamos oportunidade de ouvir Emmanuel nos comentários de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
3 L. A. F. — Na sua convivência com Chico Xavier você pode presenciar muitas vezes o relacionamento dele com o Evangelho. Como é a relação de Chico e o Evangelho?
C. A. B. — De profunda reverência. Nunca ouvimos ninguém falar de Jesus como Chico Xavier fala! Nas lições escolhidas, o tema quase sempre girava em torno do Cap. V — “Bem-aventurados os aflitos”… Com o Chico, aprendíamos o Evangelho na teoria e na prática, pois, logo em seguida aos estudos da tarde, que eram igualmente enriquecidos com as observações de vários companheiros convidados à palavra, confraternizávamo-nos com os nossos irmãos da periferia. De cada parágrafo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (alguns exemplos constam de dois livros anteriores, de nossa lavra: “Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro” e “As Bênçãos de Chico Xavier”), ele extraía conceitos maravilhosos sobre os problemas que nos haviam motivado a procurá-lo…
4 L. A. F. — Você se recorda de algum fato ou acontecimento interessante envolvendo Chico Xavier e o Evangelho?
C. A. B. — Algumas vezes, chegando à sua casa, íamos encontrá-lo sozinho, no silêncio da sala onde habitualmente nos recebia em nossas visitas semanais das quartas-feiras, a mim e à minha esposa, Márcia — durante longos anos, sempre nas noites de quarta, Chico nos recebeu em sua casa: trabalhávamos, conversávamos, trocávamos ideias sobre diversos assuntos da Doutrina e, lá pelas tantas, tomávamos um chá… Pois bem, em diversas ocasiões surpreendemos Chico, que nos esperava, a ler “O Evangelho Segundo o Espiritismo”; então, ele nos dizia: “Estou estudando um pouco…”
5 L. A. F. — O que diz Chico Xavier sobre o culto do Evangelho no lar?
C. A. B. — Sempre o ouvimos recomendar a prática do culto do Evangelho no lar. Em certa ocasião, um amigo queixou-se a ele que, na noite consagrada ao culto do Evangelho em sua casa, era um verdadeiro transtorno: o telefone não parava de tocar, os meninos se atritavam, problemas elétricos provocavam princípio de incêndio nos aparelhos domésticos… Ele pedia uma orientação. Deveria mudar o dia do culto? Após escutá-lo, Chico respondeu: — “Meu filho, mantenha o dia do culto e, nos demais dias da semana, reúna informalmente a família para orar Faça um culto informal nos outros seis dias da semana, pois não há espírito obsessor que seja tão persistente…”
6 L. A. F. — Em abril, Chico Xavier estará completando 90 anos de vida. Nestes longos anos de labor, qual o maior ensino que Chico Xavier tem nos deixado?
C. A. B. — O da fidelidade ao Evangelho. Ele nunca se arrefeceu diante das críticas dos que o consideram um “médium religioso”; ele sempre nos ensinou que o Espiritismo sem Jesus não cumprirá com as suas finalidades no progresso moral das criaturas: para ele, é o Evangelho que nos melhora por dentro. Aos 90 de idade, a se completarem no próximo 2 de abril, vemo-lo no supremo testemunho da fé, com total esquecimento de si mesmo. Chico, sem dúvida, destacou-se pela sua condição de médium, todavia o que o fez respeitado por todos, espíritas e não espíritas, é a sua bondade, mostrando ao mundo que, tanto quanto o Cristianismo no passado, o Espiritismo também é capaz de fornecer hoje apóstolos do Evangelho à Humanidade!
Uberaba, 2 de abril de 2000.
90.º aniversário de Chico Xavier.