“Desastre de avião em Caieiras mata piloto e três passageiros
O piloto Rui Vagner Garcia, de 28 anos, residente em Tupã, e três passageiros, Aniz Chadi, 45 anos, Prof. Marco Antônio Casadei, 29 anos e Profª Myrtes Pupo Negreiros, de 50 anos, todos de Marília, morreram ontem quando seu avião caiu na Serra do Ajoá, Morro Grande, município de Caieiras. O avião, um monomotor Corisco, fabricado pela Embraer, teve o acidente por volta das 9h30, quinze minutos depois de sair do Campo de Marte, com destino a Marília.
Sem ruído
Segundo Terezinha Alves de Souza, dona do Sítio do Barreira, próximo do local do acidente, o avião devia estar com defeito, pois não fazia barulho algum.
“Só pude ver”, ela contou, “o avião fazer meia volta para não bater numa montanha. Acho que, no desespero, o piloto tentou plainar, mas foi impossível. Uma das asas bateu num morro e ele desceu de bico contra o chão.”
Terezinha afirma que, com o choque, o avião espatifou-se todo, não restando nada dos passageiros.
As investigações para apurar as causas do acidente estão a cargo do major Franco Ferreira, do Serviço de Buscas e Salvamento da FAB e da Delegacia de Polícia de Caieiras. Os policiais e peritos que estiveram no local acreditam que o avião perdeu altura por avaria no motor.”
Esta foi a notícia estampada na imprensa (Folha de S. Paulo, São Paulo, SP), no dia 16 de novembro de 1979, relatando um lamentável acidente que enlutou várias famílias.
Porém, apenas três meses após este doloroso acontecimento, o piloto Rui voltou a conversar com seus pais e com a querida noiva, através da escrita mediúnica, dando provas de muita compreensão e amor, mostrando que, sob as bênçãos de Deus, já voava mais Alto…
MENSAGEM n
“Não achei senão a própria vida a continuar-se aqui de modo mais belo. (…) Ergamos a fronte para o céu e procuremos no trabalho do bem as chaves do reencontro.”
1 Querida mamãe Zolinda, n peço me abençoe.
2 Estou aqui, sob a tutela de amigos, com o fim de escrever-lhe com respeito às minhas notícias. É tudo tão estranho que não identifico as palavras certas para contar-lhe o que me sucedeu. 3 Tudo se passou como se recebesse uma ordem arbitrária para que deixasse tudo o que representava minha própria vida, de modo a partir ao desconhecido.
4 Estou abraçando a nossa querida Marisa, n ao seu lado, e com natural descontentamento reconheço que não me percebe. 5 Entretanto, a morte é mudança de lugar e de situação; se isso digo assim é porque não achei senão a própria vida a continuar-se aqui de modo mais belo, mas sempre o prodígio da existência que se teme perder, quando partilhamos as atividades terrestres.
6 Venho quase que constrangido até aqui a fim de pedir-lhe calma e coragem. Rogo à querida Marisa para ficar na oração e aguardar os dias futuros. 7 A noiva querida prossegue em meu coração na moldura de meu carinho e peço-lhe, querida mamãe, rogo à senhora e a meu pai n adotarem Marisa espiritualmente, de maneira a conseguirmos pensar na felicidade dela nos dias que virão. 8 Conquanto prossiga em minha condição de rapaz, a verdade é que a amo infinitamente e me vejo nos exercícios difíceis da liberação dos laços mais fortes que me prendiam à Terra.
9 Peço à querida Marisa para que ore e aguarde; se não posso agora assumir a posição do noivo, posso pedir a Deus para que o irmão que sou desperte em mim, compreendendo-a e abençoando-a no que delibere fazer.
10 Querida companheira de meus sonhos, não me veja indiferente; o nosso amor palpita em meu peito com a mesma força de antes, mas é preciso afastá-la do pessimismo e da inconformação. Prometo-lhe realizar o milagre da transformação que Jesus espera de mim no sentido de que me converta no companheiro fraternal para os seus dias. 11 Peço a você e à mamãe não chorarem mais com tanta amargura a se lhe derramar do coração. Aguardemos a certeza de que Deus está em nossos passos, oferecendo-nos sempre o melhor.
12 Precisamos ser fortes e valorosos. O futuro vem aí e não desejo que ele a encontre prematuramente arrasada pela dor que nos feriu tanto, e que tanto nos feriu visando ao nosso próprio aperfeiçoamento. 13 Tudo adquirirá uma nova forma de vida no mundo, e não podemos esquecer que Deus aí nos coloca na Terra para vivermos com as nossas realidades, melhorando-as sempre, tanto quanto possível. Ergamos a fronte para o céu e procuremos no trabalho do bem as chaves do reencontro.
14 Mãezinha, agradeço a sua vinda com nossa Marisa, e espero que o seu carinhoso coração e meu pai não se esqueçam que temos Darci e Vera n contando conosco para serem tranquilos e felizes. Não pense em morrer quando a vida se nos apresenta repleta de desafios santos, compelindo-nos a agir e servir sempre.
15 Estimaria pedir perdão ao pessoal da Ótica n por minha falta involuntária. Quanto ao avião, fiz o que pude para impedir-lhe a queda. n As máquinas, porém, são máquinas. Toda engrenagem estruturada em agentes do mundo encontra o seu dia de transformação, qual acontece conosco, inquilinos de um corpo terrestre, fadados à própria desintegração. Tudo passa, porém, deixando-nos ensinamentos preciosos. Que os nossos sejam devidamente aproveitados.
16 Quando me vi aturdido e em seguida inerte, muito embora a turvação dos sentidos que me caracterizava, notei que alguém me recolhia nos braços. Vim a saber depois que eram vovó Joana n e o vovô Francisco n que me socorreram. 17 Vários dias atravessei à maneira da lagarta quando, involuntariamente, se imobiliza no casulo, mas acordei finalmente em meio de gente boa e compreensiva que me estendeu os braços para meu reconforto e renovação.
18 Agora espero que os amigos em Marília me perdoem, porquanto não tivemos qualquer culpa ante a queda do aparelho. Dos meus companheiros ainda não sei o destino, mas conservo a convicção de que, foram protegidos, qual me aconteceu. Aos poucos dar-lhe-ei conta do que for surgindo em minha inesperada e dolorosa novela em serviço.
19 Peço-lhe dizer a meu pai que o irmão José Alonso n e o Dr. Giovanetti, n que me informam estimarem com muito carinho a nossa família em Tupã, muito me auxiliaram e ainda auxiliam.
20 O vovô Francisco tem sido para mim um outro pai e nada tenho de que me queixar, senão que a saudade ainda me dói por dentro da própria alma, como que a me entravar a marcha para diante.
21 Rogo-lhes não esquecerem das orações. A prece, em nosso favor, é um estímulo venerável a impulsionar-nos para a estrada certa que nos cabe percorrer, embora de espírito ainda ferido com o acontecimento imprevisto, prossigo para a frente com a esperança.
22 Mãezinha, auxilie-me, ajudando a nossa querida Marisa a não chorar com tanto sofrimento por minha causa. Deus me concederá meios de poder exprimir-me com mais esperança em outro ensejo para que a nossa tranquilidade se refaça.
23 Querida mãezinha, receba com Marisa e com meu pai os meus melhores pensamentos de gratidão.
24 Ainda titubeio no campo das ideias e por isso me despeço. Permitirá o Senhor que as melhoras espirituais me alcancem como necessito, a fim de conseguir auxiliá-los. Marisa querida, reanime-se!
25 Mãezinha, fortaleça o seu espírito consagrado ao bem e mantenhamos a nossa fé intacta em Jesus, com a certeza de que Deus nos oferece sempre o melhor que sejamos capazes de receber. 26 Marisa querida, receba o meu coração de companheiro, e venerando-as com meu pai Francisco e os irmãos ausentes, qual se todos estivessem aqui, conosco, deixa-lhe um abraço do coração o filho e companheiro de todas as horas, sempre seu, sempre o filho reconhecido
Rui
Rui Vagner Garcia n
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 — Carta psicografada por F. C. Xavier, a 15/2/1980, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, Uberaba, Minas.
2 — Mamãe Zolinda — Zolinda Maria Buono Garcia, residente em Tupã, SP. No início da reunião, quando ela pediu, por escrito, notícias de seu filho, identificou-se apenas como “Maria Buono Garcia”, omitindo “Zolinda”, prenome conhecido apenas dos mais íntimos. Portanto, este tratamento usado pelo Rui a surpreendeu e emocionou muito.
3 — Querida Marisa — Noiva.
4 — Meu pai — Francisco Garcia.
5 — Darci e Vera — Irmão e irmã.
6 — Pessoal da Ótica — Ótica Iguatemy, de Marília, SP, firma a que pertencia como piloto.
7 — Quanto ao avião, fiz o que pude para impedir-lhe a queda. (…) Toda engrenagem estruturada em agentes do mundo encontra o seu dia de transformação. — Explicação concordante com o depoimento da testemunha ocular, em terra, do acidente.
8— Vovó Joana — Joana Zacheu, desencarnada em 1960.
9 — Vovô Francisco — Francisco Buono, desencarnado em 1936, aos 70 anos.
10 — José Alonso — Antigo morador de Tupã, charreteiro, deixou o Plano Físico há 20 anos.
11 — Dr. Giovanetti — Dr. Bruno Giovanetti, engenheiro e proprietário de serraria, foi um dos pioneiros de Tupã, falecido em 1955. Foi patrão e amigo de José Alonso. Por não tê-los conhecido, a mãe de Rui considera-os como Benfeitores Espirituais dos tupãenses.
12 — Em fins de 1981, a Prefeitura Municipal de Tupã prestou expressiva homenagem póstuma ao Rui, dando o seu nome à rua onde residem seus pais, antes denominada Oriente.