16|11|1938
1 Julinha, minha querida,
Há muito tempo não me comunico diretamente, pois queria ter a grata satisfação de te trazer as boas-vindas às nossas íntimas reuniões aqui.
2 A minha grande alegria, a maior, talvez, que trouxe das lutas terrenas, é a de encontrar no teu coração fraterno e carinhoso a sobrinha continuadora de meus pobres esforços. Fiz tudo para esperar-te, na tua volta ao Rio, em abril do ano passado, pois, de viva voz, desejava confiar-te a minha tarefa junto aos cegos. Muitas vezes perguntei, ansiosamente, à Mariquinhas sobre o teu regresso, mas Deus, infinitamente bom e misericordioso, atendeu às minhas súplicas, permitindo que te falasse daqui, na linguagem sagrada do coração. 3 Aquele alfabeto em que te mandei a mensagem é pouco conhecido, mas não é somente meu, como se poderia pensar. Um novo amigo mo deu a conhecer há muito tempo em um velho livro, que, se agora não me engano, intitula-se “O mundo na mão”. Não te será difícil verificar isso, de novo, para mim. Se assim procedi foi para mais reforçar a minha presença, autenticando o meu pedido. 4 Graças a Deus, o teu esforço tem sido de uma renúncia edificante! A máquina, minha filha, tem sido um extraordinário recurso, pois Jesus me tem concedido a graça de ajudar-te frequentemente! Agora, estamos formando um bloco de Espíritos amigos para aproveitar a tua boa vontade e o teu devotamento. Precisamos iniciar o nosso esforço na campanha do dicionário para os cegos. n Faremos um apelo e aparecerão trabalhadores para a obra.
5 Dentre os colaboradores de teu e nosso esforço, quero dizer-te que sobressai também a cooperação de nossa irmã Alina de Britto, n que te pede conduzir a filhinha para essa abençoada oficina em favor dos cegos, como vens fazendo. 6 O nosso irmão Casimiro Cunha n vai, também, auxiliar-nos, e enquanto vais recrutando os encarnados eu não descansarei procurando a colaboração de bons amigos do Plano espiritual. 7 A Maria precisa também ajudar-te no esforço do dicionário, pois haveremos de realizar essa tradução de tanta importância para os nossos amigos que não têm os favores dos olhos. Vamos com a bênção de Jesus, pois precisamos vencer.
8 Não guardes pressentimentos de desencarnação em teu mundo íntimo. Precisamos muito de tua colaboração aí na Terra. Tenho me avistado com o Daniel, que vai bem, graças à Misericórdia Divina. Ele sempre se refere ao santo interesse de teu coração nas preces que tanto bem lhe fizeram ao íntimo abatido.
9 Frequentemente, busco avistar-me com tua mãe, que só agora se lembra daquelas nossas palestras antigas, cujos bons frutos não permitiu a Igreja que ela aproveitasse. Como sabes, nunca é tarde para chegarmos à verdade! 10 Deus te abençoe o coração nas lutas do mundo! Eu, que vivi aí quase um século, conheço de sobra as suas angustiosas amarguras. Nunca percas a oportunidade de confortar Mariquinhas, edificando as meninas igualmente, nas ideias consoladoras de nossa Doutrina de tanto conforto para a alma. 11 Estou com todos sempre que posso e rendo louvores ao Céu vendo em ti não uma sobrinha comum, mas uma filha muito querida do coração.
12 A todos os nossos as lembranças amigas e carinhosas da velha tia Engracinha. Voltarei sempre que possível a te animar na tarefa que impusemos a nós mesmas. E que Deus abençoe todos os teus devotamentos e sacrifícios, nessa grande ação edificadora dos nossos irmãos surpreendidos pela cegueira! É a súplica de hoje que, muito feliz e confortada, eleva a Deus o coração da tia que nunca te esquece,
Engracinha
Notas da organizadora:
[1] Em referindo-se ao Dicionário da Língua Portuguesa, de autoria de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, vide ANEXO C à página 425.
[2] Sobre o trabalho realizado por vovó Júlia, vide o ANEXO C à página 425. Na atualidade, existe uma escola estadual nomeada Alina de Britto na cidade do Rio de Janeiro, na Rua Frei Luiz Alevato, no bairro Taquara.
[3] Natural de Vassouras | RJ. Casimiro Cunha figura entre os poetas cujos poemas integram o livro Parnaso de além-túmulo, psicografado por Chico Xavier, desde a primeira edição, em 1932. Era cego por acidente, ocorrido quando contava 16 anos. Tinha apenas instrução primária. Era espírita confesso. Compareceu inúmeras vezes ao culto do Evangelho do Grupo Doméstico Arthur Joviano, deixando sua presença registrada em carinhosas poesias, como em “Boa noite”, em 22 de dezembro de 1938. Eu, então com 12 anos, acabara de arrumar a mesa em que se realizaria a reunião e enquanto meus pais — Rômulo e Maria — conversavam com Chico Xavier, em outro local, escrevi “boa noite” em uma folha de bloco e me retirei. No dia seguinte, fui presenteada com inesquecíveis versos, posteriormente publicados no livro Cartas do Evangelho — poesias mediúnicas de Casimiro Cunha, pela Editora LAKE | SP.