1 Querida mãezinha Vilma,
eis que me movo
para vê-la de novo,
neste ninho de paz.
2 A senhora bem sabe
que em mim já não mais cabe
a alegria que tenho
ao sabê-la feliz,
não só por ser a sua Cris
mas, acima de tudo,
pelo trabalho em que o Senhor
agora nos mantêm
na lavoura do bem
sob qualquer sentido…
3 Vejo-lhe o riso franco
junto à nossa Albanise
e é preciso que eu frise
que afeição maior não há
do que esse doce amor
que nos liga à Yayá.
4 Nossos assuntos, em verdade,
trazem consigo
o gosto novo e antigo
da própria eternidade…
5 Por isso, mãe, é justo,
que me aproveite a todo custo
dos minutos pequenos
de que hoje disponho
para tratar de nosso sonho
de entregar-nos em alto compromisso,
à beleza da paz na bênção do serviço…
6 O serviço de todos os instantes
que nós religue aos nossos semelhantes,
de maneira a esquecer-nos e ajudar,
ajudar a quem sofre, luta e chora
dentro das provações de cada hora
ignorando como libertar
o que possuem de melhor
no próprio coração.
7 Mãezinha, eu não sabia,
que entre os homens havia
tanta dor esperando por nós…
Tanta gente sem voz,
atada à servidão
do sofrimento…
8 Tantos enfermos esquecidos,
tantos pobres caídos
na penúria sem nome…
Eu não sabia
que sobre o chão tão rico
sobre o qual renascemos
ainda existe fome
torturando crianças…
9 Ao saber disso tudo,
senti meu coração amargo e mudo,
tendo em mim essa dor que,
a espraiar-se, hoje vejo,
sufocando ou abafando dentro em mim,
qualquer impulso de felicidade,
ante a qual não encontre
corações infelizes.
10 Se temos nós nas íntimas raízes
do lar em que nascemos
aqueles dons supremos
de paz e amor
que nos legou Jesus,
é preciso sejamos
algo da própria luz
que consome o pavio da candeia,
a fim de minorar a dor alheia…
11 Ao seu carinho,
que jamais me deixou o espírito sozinho,
devo dizer agora
que tudo quanto tenho
é uma ânsia de amar
e transfundir-me em sentimento
que possa atenuar
a penúria da Terra
a morrer e a chorar…
12 Por isso estou presentemente
mais corajosa e mais contente
ao tê-la junto a mim,
à feição de amorosa jardineira,
modificando a nossa vida inteira,
de modo a refazer
tudo quanto já fomos,
sem mais podermos ser…
13 Agradeço
essa adesão sem preço
que recebo de seu devotamento.
Mãe querida,
quando a noite trouxer a voz do vento
ao seu íntimo atento
qual um gemido imenso e condensado,
de toda dor que enxergamos
zurzindo irmãos ao nosso lado,
recorde que eu também
sou o pranto que geme no telhado
procurando falar-lhe do Senhor
que nos pede mais vida e mais amor
em sentido profundo,
em socorro do mundo…
14 Penso agora que sou
a brisa consolando
as tristes mães que choram
pequeninos doentes.
Creio que sou alguém
na tentativa de servir,
procurando fazer
a lágrima sorrir…
15 Perdoe-me a digressão
e saiba que prossigo
sob a nossa união,
de pensamento e coração,
buscando vida nova…
Esqueçamos aquilo que chamamos
como sendo a aflição de nossa prova
e sigamos em frente…
16 Peço a Deus abençoe
nossa Yayá querida,
companheira de paz da nossa vida.
E comunico a ela
que havemos de prestar
o auxílio que se possa improvisar
em favor do Danilo
a fim de que o vejamos mais tranquilo…
Esperemos em Deus,
na bênção do amanhã.
Denio, Dione, Dener, Débora e Daniel
crescerão para vê-la
qual generosa estrela
a iluminar-lhes os caminhos…
17 E peço, mãe querida,
seja dito ao nosso amado João,
o meu querido irmão,
que o amo sempre mais.
Ao Luiz,
diga que sempre o quero,
tanto quanto o quis,
enquanto aí me achava.
18 E anseio ser a escrava
em serviço comum
que ampare a cada um,
sem olvidar o Ageu,
o amado irmão
que o Céu nos deu,
incluindo a Taciana
essa flor de doçura,
agora em seu regaço,
a sorrir em seu abraço,
repleto de ternura.
19 Ao papai,
todo o respeito
com que guardo no peito
a afeição que lhe dedico.
Peço a Deus que ele seja sempre rico
de trabalho e esperança…
20 Para a vovó Dulcina
que deixamos no lar
do meu tio Weimar,
a gratidão maior
que eu consiga sentir.
21 E para a nossa sempre amada,
nossa vovó Maria,
apresente, por favor,
minhas rosas de amor
tocadas de alegria.
22 E agora, mamãe Vilma,
que já falei de tudo quanto sinto,
preciso agradecer
a quantos me doaram
estes minutos que fruí
de santo entendimento,
nos quais busquei falar-lhe ao pensamento
da caridade com Jesus.
23 Que o Senhor conceda a todos os amigos
mais apoio e mais luz,
a fim de serem cada dia,
os nobres semeadores,
da serena alegria
que vem da fé sempre mais viva
que nos clareia a mente
e que nos acalenta
a vida e o coração.
Felicidade a todos
eis o que mais almejo,
para o caminho benfazejo
que se dispõem a trilhar…
24 E para o seu carinho,
Mamãe Vilma,
aqui fica deposto
com os meus beijos de sempre
no seu rosto
todo o meu coração,
reafirmando-lhe a bondade,
que fui, que sou e serei sempre mais
a sua Cris,
agora mais feliz,
por tudo o que me deu
com a sua vida junto à minha.
25 Para que não se engane,
digo também que continuo sendo
a sua Cristiane,
e se preciso de algum nome a mais
sou a sua criança,
sua filha inflamada de esperança.
Cristiane Rodrigues de Moraes
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