Meu Deus, que coisa linda, que joia rara…
Era essa a filha que eu queria, era essa a Cristiane que eu esperava!
Quantos planos para ela, há tanto tempo esperada.
Sua primeira fitinha… seu primeiro vestidinho, me faziam delirar.
E seus olhos cinza e verdes… como o mar.
Seus cabelos loiros… como a noite de luar.
Eu era feliz com minha flor e meus botões, colorindo meu jardim.
Nunca pensei que nos meus sonhos pudessem haver espinhos… e foram tantos e machucaram muito.
Chega Cristiane correndo: — Mãe… senta e toma um copo de água com açúcar, não fale nada, somente ouça o que vou contar… me ajuda mãe, você é um amor, um anjo… lhe dou um beijo.
E lá vai a mãe — nesse caso eu — quebrar os galhos da filha.
Outra vez fala baixinho: — Mãe… briguei com “fulano”, diga que é a senhora que não quer… diga, mãezinha, me ajude, assim ele não me amola mais.
Quando a via chorando, pegava seus cabelos em minhas mãos e os enrolava.
— Diga-me, filha, que é que há? Não gosto de vê-la chorar.
— É “fulano” mãe, mas agora não quero mais saber dele…
Numa folha, encontro escrito:
“Fulano”…
te amo…
te curto…
te adoro…
te gosto…
Dou risadas e lembro-me — Ah! essa mocidade! Que tempo bom!
Amanhã será outro dia. Procuro minha filha e digo: — Sorria, não me deixe vê-la chorar nunca mais.
Junho se aproximando… o mês já transcorrendo… as festas juninas chegando…
Junho parou… tudo acabado… caíram sonhos… castelos ruíram… conversas e segredos se foram!
A dor calou fundo dentro da gente!
Lembro-me daqueles versos de Frei Luís de Granada:
Ó morte, como é amarga tua memória
Como é rápida tua vinda
Como é duvidosa tua hora
Como é universal a tua soberania!
Lágrimas, gritos, revolta… mas, oh! morte. Tu podes mais que tudo, não pedes licença… entra e leva;
e levaste minha flor!
Agora somos nós os ÉBRIOS… de dor, de saudades… loucos, sem rumo… Lágrimas, até quando terei para derramá-las?
Natal chegando… o povo feliz… aniversário de CRISTO… e nós, meu DEUS, que faremos? Como suportar essas saudades… essa angústia que sufoca, que interroga?
Oração, meu alimento diário. Prece, meu remédio noturno… Seis horas, hora da Ave Maria, hora da minha prece, hora da minha CRIS… Seu rosto em cada galho daquela árvore; ganha no último aniversário.
Lá no alto, você pequena… depois crescendo, crescendo…
Na última folha da árvore, você linda… já mocinha, sorrindo para mim.
Deve ter alguma folha, aí nesse céu infinito, para DEUS colocar sua foto, rindo… sorrindo… nessa outra árvore da vida, da qual agora você faz parte. Você vai ser a folha mais verde, vai ser a folha mais meiga, vai ser a folha mais linda! Sabe por quê?
Porque DEUS está feliz… levou você de volta… era aí o seu lugar. Você nos foi emprestada como a joia mais cara de uma realeza… decadente.
Você foi uma estrela… no céu da nossa vida…
Quando olhei… vi a estrela cair… era uma estrela cadente.
Quando fechei os olhos… chorei.
É NATAL… É PAZ… É SAUDADES… É O EPÍLOGO DE UM SONHO!
Mamãe
Vilma Ducatti
Dezembro de 1980.
Rui Barbosa — Bahia.