1 Sim, alma irmã,
Teremos sempre um Dia de Finados,
Dia de sonhos mortos,
Supostamente mortos, porque todos eles
Ressurgem renovados,
No clima de outros portos,
Onde a vida,
Revelada em beleza indefinida,
É perene manhã.
2 Agradeço-te as preces,
Recamadas de flores,
E as doces vibrações nas quais me aqueces
Com pensamentos reconfortadores.
Olha, porém, comigo, alma querida e boa,
Este campo de mármores lavrados,
Quantas vezes mais belos
Que a mais formosa porcelana!…
Aqui, em miniaturas de castelos,
Gemem segredos de ternura humana…
3 Ali, os rendilhados
Criam lauréis no brilho das legendas;
Além, anjos parados de mãos postas,
Em lacrimosas oferendas,
Mostram cruzes depostas,
Vinculadas ao chão…
Ainda além, primores de escultura,
Em lápides custosas,
São tesouros de amor e desventura,
Orvalhados de pranto e de aflição!…
4 Na triste majestade que se estampa,
Por traço de amargura, campa em campa,
Não vemos luxo e sim o sofrimento
De quem ficou a sós,
De coração entregue ao desalento…
5 Entretanto, alma boa,
Este reino de pedras lapidadas,
Quais lâminas de dor,
Quer largar-se da morte,
A fim de partilhar
A construção de um mundo superior…
6 Estas altas riquezas esquecidas
Ficariam mais nobres
Se pudessem levar sustentação
Às áreas de outras vidas,
As vidas que se vão apagando, ao relento,
Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento,
A sonharem amparo, teto e pão,
Livro, afeto, agasalho,
Proteção e trabalho,
Paz e renovação…
7 Nesses doces assuntos,
Oremos todos juntos…
E peçamos a Deus
Para que os mortos redivivos
Possam solicitar aos seus entes amados
A desejada alteração,
A fim de que o lugar dos supostos finados
Não precise brilhar entre fortunas mortas,
Pois todos nós, na vida, em sentido profundo,
Queremos mais conforto e alegria no mundo!…
8 Para que nos lembremos uns dos outros,
Bastam as nossas dores como são,
Uma pequena cruz, um nome e a relva verde e mansa,
Que nos falem de paz e de esperança
Na saudade sem fim do coração.
Maria Dolores
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