1 Quando a dor te procura, alma querida e boa,
A torturar-te o sonho e a exigir-te mudança,
Qual forja incandescente a que o mundo te lança
Por burilar-te o ser,
Não te irrites, não temas nem reclames.
Tudo o que vem à Terra, a fim de aprimorar-se,
Sofre transformações, sem recurso a disfarce,
Para servir, brilhar, elevar-se, crescer…
2 Contempla a Natureza… A fonte quando surge,
Por mais refulja ao sol, figura-se, no entanto,
O coração da gleba a desfazer-se em pranto
Para não se afastar do seio em que é nascida.
Depois, a contragosto, ela própria se aparta,
Serve e canta, esquecendo as próprias mágoas,
Para juntar-se, além, à vida de outras águas
E encontrar, mais além, as vastidões da vida.
3 Lembra o tronco que viste a erguer-se forte.
Tombou gemendo a cortes destruidores,
Suspirando talvez por guardar-se entre as flores
Do bosque verde e belo em que te recompões.
De maneira imprevista, um dia, transformou-se
Em violino nas mãos de artista sublimado
E olvidando, de todo, os golpes do machado
Hoje é música e prece elevando emoções.
4 Olha o minério preso e conduzido ao fogo.
Parece tenso e rubro, a serpente em vigia,
Talvez queira voltar à rocha em que vivia
No propósito vão de somente cismar…
Depois não mais recorda, onde ajuda e trabalha,
O forno a que se deu em suplicio fecundo,
A fim de ser honrado entre as forças do mundo
Como viga que apoia as carícias do lar.
5 Se a vida traz, à senda em que te encontras,
Mortes, retaliações, angústias, provas,
Lutas e alterações, sob as quais te renovas,
Do teu sonho mais alto aos sonhos mais plebeus,
Não te revoltes… Serve e segue à frente,
Planta, chorando embora, o amor que não se cansa.
Toda tribulação, que te impele a mudança,
É uma luz do progresso e uma bênção de Deus.
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