Ricardo Gonçalves
(Preparando a próxima reencarnação)
1 Torno a ver-te, São Paulo! A saudade suspira…
Extasio-me à luz que te beija e revela…
Para saudar-te a glória embalde tanjo a lyra
Apagada e singela!…
2 O cafezal te apoia o vasto mundo novo,
O asfalto, a indústria, a vida, o trabalho perfeito…
O esplendor da cultura a engrandecer-te o povo
Ilumina-me o peito…
3 Malhos vibram cantando… Alongam-se oficinas,
Nas cidades de paz do teu chão de esmeralda,
Cimentando o progresso a que te determinas,
Ao céu que te engrinalda…
4 Quero abraçar-te, enfim… Venho beijar-te o solo
E dizer-te, São Paulo, em prece enternecida,
Que tornarei, feliz, à bênção de teu colo,
Minha terra querida!…
Irmão Saulo
Precisamente na hora em que visita São Paulo, pela segunda vez, o famoso Dr. Hamendras Nat Barnejee, conhecido como o cientista da reencarnação, Chico Xavier nos envia a mensagem poética de Ricardo Gonçalves anunciando a sua volta à vida corpórea. Um poema de exaltação a São Paulo e profunda emotividade, recebido espontânea e inesperadamente pelo médium, numa reunião festiva em São José do Rio Preto, em 8 de agosto de 1971. Outra coincidência: 8 de agosto é a data do aniversário do nascimento do poeta.
Essas coincidências são muito significativas para serem apenas coincidências. Um velho amigo de Ricardito entusiasmou-se com a revelação e veio trazer-nos o seu depoimento sobre o poeta. Leu o poema e emocionou-se: “É o estilo dele, perfeito!”. O Sr. Oswaldo Maria de Almeida Ramos não esqueceu o jovem genial que se suicidou atormentado por problemas íntimos. Está hoje com oitenta e dois anos e seus olhos se embaciam quando fala do amigo saudoso. Quer saber onde e quando Ricardito voltará, em que família, e se é possível acompanhar de alguma forma o evento auspicioso.
Os tempos mudam. A Terra se transforma. Notícias que ontem provocavam dúvidas, hoje despertam as alegrias da expectativa. A Humanidade avança para a era nova, a Civilização do Espírito. O túnel mediúnico, ligando os dois mundos, está prestes a ser concluído. Os corações se alvoroçam ante as mensagens dos Espíritos. Um poema do Além repercute na Terra e ecoa em termos de certeza nos corações sensíveis. Que importam as dúvidas dos que continuam apegados ao passado? Há multidões de mentes abertas para as novas perspectivas do mundo no limiar da Era Cósmica.
— “Ricardito era uma criatura excepcional — diz-nos o seu amigo Oswaldo Ramos — era realmente um gênio, como Lobato observou. Claro que à argúcia de Lobato não escapou a grandeza daquela alma. Ricardito não deixou uma obra que justificasse essa afirmação, mas todos os que conviveram com ele, todos os que o conheceram, sabem que Lobato tinha razão. O talento, a simpatia, a bondade, a humanidade, a modéstia do poeta, que era também um grande orador e conferencista, revelavam o alcance daquele espírito. A tragédia que pôs termo à sua vida frustrou a sua realização.”
As poesias de Ricardo Gonçalves foram publicadas em livro após a sua morte, por iniciativa de Monteiro Lobato, então editor. Mas quem escolheu o título, “Ipês”, foi o Sr. Oswaldo Ramos. E o escolheu porque “Ricardito era apaixonado pelos ipês, que cantou nos seus poemas”. Lobato prefaciou o pequeno volume, lembrando o Minarete, o chalezinho da rua 21 de Abril, no Bom Retiro, onde vivera a “cainçalha”, o grupo de estudantes que Ricardo comandava. Eis como Lobato o explica no prefácio de “Ipês” : “Ricardo era o cão que ladra à lua; Raul, cão de colo, cachorrinho de estimação; Lobato, bull-dog; Lino Moreira, cão que ladra e não morde; Tito Brasil, cachorro; Nogueira, cão de frade; Albino de Camargo, o Cunegundes, um cão de rua vagabundo, que nessa época vivia em São Paulo pelos cafés”.
Tendo desencarnado em 1916, Ricardo Gonçalves, que agora anuncia a sua reencarnação, viveu no mundo dos Espíritos uma superexistência de 55 anos. Nessa longa existência espiritual — porque era um bom — certamente se preparou para uma reencarnação mais favorável, sem as consequências amargas que os suicidas acarretam. A justiça divina tem medidas especiais para cada caso, pesando minuciosamente as atenuantes particulares de todos eles. Ricardito voltará, beijando o solo paulista, como diz no seu poema, e desta vez para dar a São Paulo a contribuição de seu gênio. [Vide também no cap. 29, um outro poema de Ricardo Gonçalves]