1 Na caverna primitiva,
Armada de pedra e clava,
A Terra move-se escrava
Do Sul ao Setentrião.
Sob o medo que a domina,
Espessa nuvem a encerra:
É o carro estranho da guerra,
Gerando destruição.
2 Desde os lêmures remotos
À Atlântida bela e flórea,
Hoje segredos da História
No torvo arquivo do mar,
Suplicam povos nascentes:
— “Viver e amar!… Ao porvir!…
Crescer, lutar, construir!…”
E a guerra pede: “arrasar!…”
3 Das glebas remanescentes
Aninha-se na Caldeia,
Paira fremente na ideia
Dos seguidores de Deus!…
Antigos povos pastores
Bradam rixas e vinganças
E empunham pérfidas lanças
Na guerra dos filisteus.
4 Filósofos pregam paz
Sobre espadas e tambores.
Há novos conquistadores
Decretando novas leis…
Passa a rude caravana.
Sesóztris, Ramsés, Cambises
E as multidões infelizes,
Seguindo sobas e reis.
5 Um dia, Alguém contra o ódio
Desce da Altura Infinita,
Faz-se a palavra bendita
De vida, verdade e amor,
Mas a voz da crueldade
Dirige-se em rumo certo
E impõe-lhe, a cenário aberto
A morte de malfeitor.
6 Desde Jesus, entretanto,
Cresce a Divina Demanda,
O bem sugere e comanda
No direito natural…
Tantas armas se acumulam,
Tanta violência subleva
Que a treva receia a treva
E o mal sente o horror do mal…
7 No contexto das Nações
Eis que o duelo se atiça,
Mas a chama de Justiça
Acende a luz da razão;
Rogam-se ajustes, tratados,
Cessação de toda luta.
Concórdia, amparo, permuta,
Auxílio e cooperação.
8 Brasil, no posto da paz
Em que a vida te agasalha,
Serve, abençoa, trabalha
Na fé a que o Céu te induz!
E ainda que o ódio estoure,
Clama, em brado soberano,
Que em todo conflito humano,
O vencedor é Jesus.
Castro Alves
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