1. Desejo prosseguir, nesta noite, meu filho, sobre as dissertações
a respeito dos panoramas, em cujo seio se desenvolvem as nossas atividades
espirituais. 2 Assim como as almas encarceradas na Terra têm, às vezes,
quando se tornam dignas de semelhantes conhecimentos, visões perfeitas
e transcendentes em relação à vida real dos Planos da espiritualidade
pura, assim também alguns de nós, quando demonstramos resignação aos
ditames do Alto e boa vontade na execução da tarefa que nos é designada,
conseguimos a companhia de amigos, cheios de sabedoria, que nos arrebatam
temporariamente da Esfera a que pertencemos, conduzindo-nos à visão
grandiosa de outras manifestações mais elevadas da vida superior, no
seio dos espaços infinitos. Foi assim que consegui a viagem a Saturno,
já descrita.
3 Apenas, dentro da insipiência
de nossa evolução, ignorantes da nossa condição de entidades que a existência
da Terra perfeitamente caracteriza, contemplamos esses mundos grandiosos,
cenários sublimes de exteriorizações aperfeiçoadas da vida, mas sem
compreender os fenômenos do seu desdobramento nesses meios, para nós
totalmente desconhecidos e ignorados.
2. Ainda há pouco
tempo, eu e mais dois companheiros, fomos escolhidos para uma expedição
de estudos, atinentes à luz e, sem que eu esperasse, elevado mentor
nos conduziu bondosamente a um Plano cuja beleza jamais suspeitei existir.
2 Quando nos afastamos
da Esfera que nos serve de habitação nunca nos sentimos, de forma imediata,
muito à nossa vontade. É o mesmo que acontece ao homem terreno quando
arrebatado inopinadamente do seu meio.
3 Há, sempre, nos que se mudam,
no tocante às condições ambienciais, a sensação de estranheza. Felizmente,
semelhantes emoções pouco nos dominam em razão de termos ampliado as
nossas faculdades de ação, educando a vontade e disciplinando os sentimentos.
4 Como dizia, porém, atravessamos
abismos de luz e hiatos dos espaços, cheios de frio e de treva, não
obstante o nosso mentor e guia asseverar que o espaço nunca está vazio,
havendo em todos os seus recantos manifestações de vida, que nem sempre
nos é dado conhecer.
5 Em certa altitude,
contemplamos o orbe terreno que não era mais que uma estrela
da imensidade, brilhando com luz avermelhada, refletindo a claridade
do sol que por sua vez se nos afigurava uma lâmpada maior que as de
uso comum, até que o centro radioso do nosso sistema e seus companheiros
que rodopiam na imensidade, em condições de planetas opacos, figuravam
pirilampos perdidos ao longe, no silêncio aparente do Infinito. Mas,
o espetáculo ao nosso lado era sedutor e deslumbrante.
3. Penetramos
numa atmosfera rosada, plena de luz, mas de claridade suave, que se
irradiava espalhando sons dentro da mais harmoniosa das cadências que
os meus ouvidos escutaram nas condições de minha nova vida. 2
Sobre as nossas frontes, contemplávamos, então, um sol magnífico, cor
de rosa quase enrubescido, emprestando ao ambiente, em que nos movíamos,
as mais estranhas cambiantes. Todavia, não ficou aí a novidade. 3
A seguir, percebemos que uma estrela esverdeada brilhava no infinito
dos céus, misturando as suas claridades esmeraldinas com as tonalidades
róseas, que se estampavam em todas as coisas e, de repente, enquanto
uma dessas estrelas se encontrava no zênite e a outra prestes a desaparecer
nos horizontes desse planeta maravilhoso, outro sol surgia, amarelo,
cor de laranja amadurecida, tonalizando como um elemento novo as paisagens.
4 As ousadas concepções
dos pintores terrenos ficariam aquém das sublimes realidades por nós
observadas, referentes aos efeitos da luz, nesse sistema de encantamentos.
5 O elemento sólido do orbe
que pisávamos, num dos mundos privilegiados que giram em torno desses
três sóis de cores diversas, era formado de substâncias que me não é
possível descrever. Mas, lá, observei a existência de oceanos e florestas,
jardins, minerais, animais e muitas outras coisas que equivalem aos
objetos e manifestações da vida sobre a Terra.
4. Vi os seres pensantes desse maravilhoso orbe, todavia, são muito superiores aos homens e cuidam somente de trabalhos elevados e de ordem divina, cuja vitalidade essencial não posso transladar à linguagem terrena ainda tão imperfeita para reproduzir aquilo que constitui algo de inacessível ao entendimento dos homens atuais.
2 Ali estudamos, eu
e os amigos que me acompanhavam, sob os esclarecimentos do nosso mentor,
muitas novidades atinentes aos estados da luz e das suas vibrações no
seio do éter, base primordial de todas as construções e organizações
da matéria, em todos os mundos.
3 Devo dizer-te, contudo,
que os felizes habitantes desse mundo, alumiado pelos três sóis e onde
não se conhece as palavras noite, sombra ou escuridão, puderam nos ver
e entender, mas nós não conseguimos penetrar nos seus problemas, nem
na elevação e na superioridade de seus labores, devido ao nosso estado
moral. 4 Apenas o nosso
Mestre podia conversar com eles, mas pelo que pude observar devo acrescentar
que são criaturas altamente dotadas de sensibilidade e aguçada inteligência.
5 Uma grande bondade se irradia
dos seus pensamentos, porque nos sentimos maravilhosamente bem dispostos,
enquanto estivemos em contato direto com seu ambiente.
6 As suas moradias são caracterizadas
por uma arquitetura eminentemente interessante. Quase todas as casas
possuem torres como se fossem agulhas, tão elevadas que são e ali, a
luz tem aplicações que eu própria não consegui compreender, tal a transcendentalidade
dos seus trabalhos, isto é, das atividades, onde são empregadas as suas
vibrações.
7 Fiquei sabendo, porém, que
a luz dos astros, em sua substância intrínseca, contém potencialidades
profundas de natureza elétrica. Mesmo na Terra, futuramente os homens
chegarão a compreender essas coisas quando souberem dissecar e entender
o espectro solar.
8 Mas já é tarde. Tenho outros
afazeres e voltarei breve. Deus te abençoe e conceda a cada um a sua
santa paz.
Maria João de Deus