1. Não são poucos os que na morte presumem o encontro inesperado
de uma fonte inesgotável de onisciência e julgam, na sua inércia intelectual,
que os Espíritos são criaturas sobrenaturais, cuja zona lúcida já atingiu
o zênite do conhecimento.
2 Tais julgamentos
são absolutamente falsos não só na sua base como na sua estrutura, porquanto
supõem que o Espírito encarnado representa outra individualidade, conferindo
à carne determinados poderes, que ela está muito longe de possuir na
sua situação de elemento passivo e maleável. A matéria, com o seu complexo
atômico, nada mais significa que um revestimento temporário, condição
necessária à tangibilidade do ser.
3 Todavia, somente quando
as lesões orgânicas, dentro das provações individuais, geram obstáculos
ao surto evolutivo da personalidade, tem ela uma zona de influência
natural sobre o desenvolvimento moral dos indivíduos.
4 Por exemplo, os
loucos (não obsessos), os cegos de nascimento, os que surgem do berço
com graves deslizes de ordem corporal; semelhantes Espíritos têm a empecer-lhes
o círculo do progresso na atuação do organismo. 5
Mas, na generalidade dos homens, a matéria nada mais é que a veste temporária,
que o fenômeno da morte nos faz trocar por outra, diferente em suas
expressões estruturais, porém, sempre a mesma base de ordem material,
de acordo com as necessidades do novo Plano onde teremos de desenvolver
as nossas atividades. 6
É, portanto, natural que o nosso ambiente em grande parte ainda seja
caracterizado pelas ideias e concepções da Terra.
7 São inúmeros os que examinam
as nossas descrições do Espaço, imbuídos de ideias preconcebidas, incapazes
de nos criticar com isenção de ânimo.
8 Contudo, isso não
altera a nossa maneira especialíssima de viver aqui. As leis naturais
são sempre as mesmas. A ordem, na sua expressão divina não pode ser
modificada. 9 Se os
núcleos humanos entrassem no torvelinho de uma conflagração universal
e se todas as criaturas perdessem a vida em seus excessos, o sol não
deixaria de fazer o seu percurso na imensidade, a lua prosseguiria com
as suas mudanças, as correntes polares seriam as mesmas, a natureza
continuaria criando sob o olhar misericordioso de Deus e as estrelas
entre os seus reflexos, sorririam, de longe, para a Terra silenciosa
e desabitada. 10 É inútil,
portanto, revoltar-se ou sentir incompreensões em face das nossas exposições
da vida real. A crítica não destrói as realidades, por mais judiciosas
que nos apareça.
2. Nossa vida
aqui é o prolongamento da vida humana. 2
Não existem vazios no Universo. Todas as zonas interplanetárias estão
repletas de vida em suas manifestações multiformes. 3
Uma gota d’água encerra um universo infinitesimal onde uma grande humanidade
microscópica vive, trabalha e palpita.
4 Se Deus se conserva inatingível
ao nosso entendimento atual, porquanto não podemos concebe-lo segundo
a nossa individualidade, único índice que possuímos para apreciar os
outros, também a Vida como manifestação de sua divindade ainda não é
compreendida por nós, em toda a intensidade de suas grandezas multiformes.
5 Aqui, desenrolam-se as nossas
atividades, à maneira dos homens, e nessa segunda zona onde me encontro
e aguardo oportunidade feliz para reencarnar-me na Terra, apenas o que
observo é que os homens são mais aperfeiçoados em seu modo de sentir,
considerando-se totalmente eliminada a hipótese de guerras e dizimações
de quaisquer obras. Há mais impulso de fraternidade nestes núcleos de
seres, onde se agitam os sentimentos humanos em sua generalidade.
3. O amor, a
esperança, a tristeza, a fé, a confiança, o caráter, a sinceridade e
demais atributos da personalidade humana, aqui estão vivos, palpitantes.
2 Tenho observado porém
que apesar de livre do perigo das lutas fratricidas, entre todos existe
grande movimento de afinidade racial, parecendo-me que a questão das
raças aí na Terra está subordinada a um forte ascendente de natureza
espiritual.
3 Os saxões, os latinos,
os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes falanges
à parte e em locais diferentes uns dos outros. 4
Nos núcleos de suas atividades conservam os costumes que os caracterizavam
e é profundamente interessante observarmos de perto como essas imensas
colônias espirituais diferem uma das outras, apesar de se encontrarem
ligadas pelos mais santos laços da fraternidade e do amor.
4. Muitos dos componentes desses núcleos tão arraigadamente conservam o modo de pensar que possuíam no planeta terráqueo, que raros são os que não relutam em aceitar a hegemonia espiritual de Jesus Cristo, como orientador e guia do orbe que deixamos e ao qual ainda estamos ligados por fortes elos de natureza afetiva, segundo o grau de progresso que já alcançamos.
2 É comum notarmos, então,
pregadores do Evangelho do Mestre por toda a parte, esclarecendo as
consciências e iluminando os raciocínios. 3
Inúmeras colônias desconhecem ainda a mensagem da Boa Nova, apesar de
terem as suas leis de caridade, de fraternidade e de amor, como a Terra
as possuía antes do cumprimento das profecias que anunciavam o aparecimento
do Senhor.
4 Mas, há sobre todas essas
Esferas, falando de oitiva, segundo as explicações que tenho recebido
de grandes mestres da Espiritualidade, uma Esfera cheia de sol, de claridade
bendita e de belezas inenarráveis, onde promana a fonte que poderemos
chamar inspiracional.
5 Do seu centro, dimanam todos
os elevados conhecimentos que felicitam as leis humanas e os seus raios
são refletidos pelas mentes que estão em correspondência direta com
a sua grandeza, em concepções de bondade, de tolerância, de sabedoria
e de amor.
6 Assim está explicado
porque, muito antes de Cristo, já existiam na Índia grandes pensadores,
essencialmente evangélicos nas suas doutrinas, pois a Grécia, o Egito
e o Oriente já possuíam as teorias de solidariedade e de fraternidade
humana. 7 Dessa Esfera
grandiosa, parte o equilíbrio para todas as correntes espirituais entre
a Terra e as Esferas que lhe são concêntricas.
5. É desse modo que tenho visto aqui muitas extravagâncias de costumes. Por exemplo, na primeira Esfera, mais apegada à Terra e às suas ilusões, temos muitas organizações à maneira do planeta.
2 São inúmeras as
congregações de Espíritos que se dedicam à salvaguarda de seus ideais
religiosos sobre o orbe terráqueo. 3
A Igreja romana, por exemplo, tem aí organizações, conventos, irmandades,
que defendem os seus erros e, assim, de facção em facção, podereis compreender
a imensidade de nossa luta. 4
Nas colônias de antigos remanescentes da África vim conhecer costumes
esquisitos, como bailados estranhos, ao som de músicas bizarras que
me deram a impressão de fandangos, tão da preferência dos escravos no
Brasil.
5 A luta estabelecida não
é pequena. A nossa existência é a continuidade da vida material com
todas as suas características.
6 Vem daí o nosso
contínuo conselho para preparardes uma vida melhor, pela aquisição de
virtude e conhecimento. 7
Assim como tenho visitado outros mundos e outros ambientes, cujas belezas
constituem um sagrado estímulo para minha vontade de progredir e aprender,
igualmente muita coisa lamentável tenho presenciado, optando sempre
pela exortação fraterna, a fim de que saibas aproveitar proficuamente
o vosso tempo na face do orbe que atualmente habitais.
8 Desejaria dizer-vos algo
quanto às manifestações de vida sobre a superfície de Marte, mas temos
de contar convosco o tempo, se estamos ao vosso lado, e é assim que
observo o adiantamento das horas. Se Deus permitir falarei na próxima
semana de outros ensinamentos obtidos por mim nessa Terra distante.
Deus vos dê boa noite e vos abençoe.
Maria João de Deus