1. Pareceu-me que eu havia concluído um curso de preparação na vida errática, porque, naquele dia, fui levada por amorosos e devotados guias a um local maravilhoso pela sua amplitude e beleza.
2 Tratava-se de uma
Esfera fluídica, comparando-se as matérias delicadas de sua constituição
com os elementos grosseiros, característicos da Terra. 3
Uma vasta superfície, como um campo divino, tínhamos sob os nossos olhos;
a claridade, que se espalhava, iluminando-o, era abundante, mas não
ofuscava, de forma que, sobre as nossas frontes, víamos o zimbório celeste,
recamado de estrelas tremeluzindo… 4
Mais me impressionavam porém as flores estranhas, de bizarros contornos,
que espargiam no ambiente um capitoso aroma…
2. Parecia que
nos achávamos num templo maravilhoso do Infinito, sem limites nos portentos
de sua grandeza. 2
Elementos de vida penetravam profusamente em nosso ser, enchendo-nos
de uma deliciosa sensação de bem-estar agradabilíssimo.
3 Verdadeira multidão
de almas ali se conservava, quando, numa graciosa elevação da substância
que constituía a superfície desse orbe, como se fora um cômoro de névoas
opalinas, materializou-se um dos mais lúcidos mensageiros do Senhor
que já me foi dado ouvir na existência do Além-Túmulo.
4 Uma túnica delicada e leve,
à maneira romana, caía-lhe dos ombros, mas o que sobremaneira nos encantava
era o extraordinário poder atrativo que se irradiava de toda a sua personalidade.
5 As suas palavras derramavam-se
nas nossas almas, como bálsamos deliciosos, tal a profundeza do seu
ensinamento aliada à mais encantadora magia.
3. Não me é possível reproduzir com fidelidade absoluta tudo quanto escapou dos seus lábios, apenas, nas minhas expressões grosseiras, posso sintetizar a moral da sua inesquecível preleção:
— “Irmãos, — iniciou ele, — em vossas experiências nos Planos da erraticidade,
compreendestes como são fugazes as ilusões do mundo físico!… 2
Felizmente já vos despojastes do corpo de impressões materiais, que
conserváveis dentro das lembranças nocivas daquilo que, em sua maior
parte, constituía o lado prejudicial da vossa existência passada. Repousastes
no fim de labutas insanas e penosos trabalhos, reconstituindo o vosso
organismo espiritual, combalido nas lutas.
3 “Agora faz-se preciso
que vos reergais para as tarefas dignificadoras! Na face longínqua da
Terra estão ainda, sonhando e padecendo aqueles que amastes; na superfície
desse orbe distante, lutam os homens, obcecados pelo orgulho e pela
impenitência. 4 Lá,
todo um campo ilimitado de trabalhos se desdobra às vossas vistas. Guerras
destruidoras, sentimentos aviltantes, corações aflitos, coletividades
sofredoras, trabalhadas pelas mais duras privações, leis absurdas, ignorância,
martírio, insânias, tudo se confunde, esperando a luz espiritual.
5 “Os homens têm lutado
muitos séculos procurando a verdade, onde ela não se pode encontrar.
6 Um dia lhes foi dado
contemplar a face luminosa do Divino Plenipotenciário. Houve regeneração
parcial dos abusos que se perpetravam e observou-se grande argumento
da civilização. 7 As
criaturas humanas, porém, esqueceram muito depressa o Sublime Enviado.
Os abusos de toda espécie reapareceram; a verdade foi obscurecida e
o erro se restabeleceu no mundo.
8 “Os homens, no seu
afã de saber, criaram então as filosofias e as ciências, as quais, contudo,
não podem ir além da matéria, em sua expressão mais grosseira. 9
No orbe terreno, pois, verifica-se atualmente o eclipse das luzes espirituais.
10 “Cabe-nos operar
o movimento grandioso de restauração das crenças puras. Voltemo-nos
para o solo ingrato daquele mundo de experiências e provas, onde o pão,
que nutre o corpo, se mistura com os prantos amargosos das almas.
11 “Trabalhemos! Levantemos
as criaturas humanas da sua inércia moral. Verifiquemos a nossa ação
sob as vistas amoráveis daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida…”
4. Mas, nesse
momento, houve naquela maravilhosa preleção, estranho “staccato”. Um
relâmpago indescritível, esplêndido na sua beleza e silêncio, iluminou
as profundezas do Ilimitado. 2
Eu não saberia contar o que se passou então; um sentimento intraduzível
de êxtase e veneração se apoderou de nossas almas fazendo-nos curvar,
cheios de compunção e de lágrimas.
3 Todos os Espíritos,
que ali se confraternizavam, sentiram como eu, nessa hora, uma energia
nova e, sem saber relatar o que se passara, adquiríramos uma força que
não possuíamos, uma estranha iluminação, fazendo-nos volver a superfície
da Terra, para a qual trazemos a missão consoladora.
4 Desde esse instante
integramos as fileiras dos que pugnam pelo aparecimento de uma nova
era para a humanidade e, laborando ao lado de todos quantos se experimentam
sob o aguilhão da carne, esclarecendo-os e confortando-os, de forma
indireta, sem que sintam de maneira tangível a influência de nossa ação,
nós queremos dizer a todos os homens como nos foi dito, naquele inenarrável
momento:
— Sigamos a Jesus!… Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida!
5 E que o Celeste Enviado,
na sua infinita misericórdia, faça cair em todos os corações a luz maravilhosa
do divino relâmpago do seu amor.
Maria João de Deus