1 Todas as criaturas gozam o tempo — raras aproveitam-no.
2 Corre a oportunidade — espalhando bênçãos.
3 Arrasta-se o homem — estragando as dádivas recebidas.
4 Cada dia é um país — de vinte e quatro províncias.
5 Cada hora é uma província — de sessenta unidades.
6 O homem, contudo, é o semeador — que não despertou ainda.
7 Distraído cultivador — pergunta: “que farei?”
8 E o tempo silencioso responde — com ensejos benditos:
9 De servir — ganhando autoridade.
10 De obedecer — conquistando o mundo.
11 De lutar — escalando os céus.
12 O homem, todavia — voluntariamente cego,
13 Roga sempre mais tempo — para zombar da vida,
14 Porque, se obedece — revolta-se, orgulhoso,
15 Se sofre — injuria e blasfema,
16 Se chamado a contas — lavra reclamações descabidas.
17 Cientistas — fogem da verdadeira ciência.
18 Filósofos — ausentam-se dos próprios ensinos.
19 Religiosos — negam a religião.
20 Administradores — retiram-se da responsabilidade.
21 Médicos — subtraem-se à Medicina.
22 Literatos — furtam-se à divina verdade.
23 Estadistas — centralizam a dominação.
24 Servidores do povo — buscam interesses privados.
25 Lavradores — abandonam a terra.
26 Trabalhadores — escapam do serviço.
27 Gozadores temporários — entronizam ilusões.
28 Ao invés de suar no trabalho — apanham borboletas da fantasia.
29 Desfrutam a existência — assassinando-a em si próprios.
30 Possuem os bens da Terra — acabando possuídos.
31 Reclamam liberdade — submetendo-se à escravidão.
32 Mas chega um dia — porque há sempre um dia mais claro que os outros,
Em que a morte surge — reclamando trapos velhos…
33 O tempo recolhe, então — apressado — as oportunidades que pareciam sem-fim…
34 E o homem reconhece — tardiamente preocupado,
Que a Eternidade Infinita — pede contas do minuto.
André Luiz
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