1. — DURVAL — Chico e apenas Chico, com uma condição, você retira o doutor da resposta anterior. A inquietação da juventude é uma constante desde muitos séculos. O homem, numa faixa que geralmente vai dos 16 aos 23 anos, é um rebelde. Depois, quase sempre, ele acaba se adaptando, se integrando na sociedade. No exato instante em que o homem se adapta, seu Espírito evoluiu ou se acomodou?
CHICO XAVIER — Quando nós nos adaptamos para o bem, e o bem essencialmente é sempre o bem dos outros, porque é do bem dos outros que nasce o nosso próprio bem. Hoje, muitas vezes, queremos tratar os nossos jovens como se eles fossem nossos inimigos, e isso é um erro. Os nossos jovens são os nossos continuadores. Trazem consigo uma vida diferente da nossa. Impulsos originais que nós não podemos auscultar em toda a sua extensão. Os nossos jovens de ambos os sexos necessitam, principalmente hoje, de nossa compreensão. Naturalmente, que não podemos empurrá-los para a libertinagem, mas não devemos frenar neles o impulso à, libertação, para que eles se realizem, para que eles se desvinculem da nossa vida pessoal. Todos nós, na condição de criaturas amadurecidas na experiência física podemos, igualmente, e temos independência deles e não devemos escravizá-los aos nossos pontos de vista. Falamos numa experiência de mais de quatro decênios, em que temos visto centenas, talvez milhares de jovens e adultos, chorando sobre os nossos ombros em vista do amor possessivo, que tantas vezes nos retarda o progresso individual e ocasiona tantos distúrbios em nossa vida familiar e coletiva. Tantos jovens que se doparam em drogas. Tantos que se refugiaram em casas de saúde. Tantos que abandonaram os seus próprios deveres e fugiram para a indisciplina, que desertaram de estudo, muitas vezes por causa de uma influência opressiva, daqueles que foram chamados a orientá-los na vida prática. E, ao mesmo tempo, vemos tantos pais, tantas mães e tantos orientadores e tutores chorando porque não podem escravizá-los à sua própria vida. Por que é que pás não nos podemos amar uns aos outros, na condição de jovens e de adultos, cada qual vivendo dentro da sua época de experiência física? Por que nós, como adultos, não podemos resguardar a nossa independência, dando independência àqueles jovens que são a esperança da humanidade, que são nossos filhos, nossos continuadores, para que eles realizem as empresas a que foram chamados pela .reencarnação? Allan Kardec, através da questão n.º 385, no “O Livro dos Espíritos”, trata disso com muita propriedade, e isto há mais de cem anos. Nossos filhos são Espíritos que vieram de outras condições, diferentes das nossas. São credores do nosso maior respeito. Nós falamos em diálogo e,precisamos do diálogo. Falamos em comunicação e precisamos da comunicação, não apenas no dia dos desastres sentimentais. Conversar com os nossos jovens, conversar com os nossos pais como grandes amigos que se interligam através das suas experiências.
Mas diálogo nunca foi pancadaria verbal. A comunicação nunca foi uma censura sistemática. Não estamos, de maneira nenhuma reprovando adultos, nem censurando jovens. Estamos atentos à lição de nosso Emmanuel, que nos pede considerar que dentro da civilização do Ocidente é que nasceu a Psicanálise, com Sigmund Freud, para que nós sejamos tratados especificamente, individualmente, para nos ajustarmos ao amor que Jesus nos ensinou. Jesus nos ensinou: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. ( † ) Esse enunciado não veio de nenhuma decretação humana. Veio daquele que nós temos como sendo Nosso Senhor. Por que não podemos amar os nossos jovens, auxiliá-los, para que eles sejam eles mesmos? E por que é que nós não podemos receber deles o auxílio, não para que vivamos, como muitas pessoas maduras estão vivendo em países da Europa, em grandes palácios dourados, nomeados como sendo cemitérios dos elefantes, em que as pessoas amadurecidas na experiência humana, se recolhem como pessoas inúteis e vivem uma vida de entretenimentos, como se fossem marginalizadas pela idade física? Não. Como adultos, podemos tratar de nossa saúde, sermos independentes, ampararmos os nossos filhos e eles também ampararem a nós outros, para que cada um de nós tenha a sua casa, tenha as suas afinidades, as suas relações, o seu mundo, os seus “hobbies”, as suas profissões, os seus afetos, a sua vida. Ao mesmo tempo, eles também podem ter as suas famílias independentes, com muito amor de nós uns para com os outros. Pedimos perdão ao nosso mediador, Dr. Almir Guimarães e ao nosso distinto entrevistador Dr. Durval Monteiro, por nos estendermos tanto nas respostas. Mas a pergunta é válida e nós não podemos tratar-nos uns aos outros como se fôssemos inimigos. Nós somos irmãos. Somos pais, filhos, parentes, amigos, esposos, esposas, tios, tias, companheiros, mas acima de tudo somos espíritos imortais, filhos de Deus. Cada qual sendo um mundo original criado por Deus. Aconselhemos os nossos jovens. Amparemos os nossos jovens com as nossas experiências e que eles nos amparem com a sua força e nos amem, que nós todos precisamos de amor. Más que haja aquela fronteira que nós chamamos de respeito, para que cada um seja ele mesmo e para que nós possamos viver em paz uns com os outros, sem necessidade de cairmos em neuroses e depois em psicoses e recorrermos aos nossos amigos da Medicina, como doentes graves, arredados da vida e arredados do trabalho, porque a vida para nós deve ser uma escola sem férias, com as pautas de descanso, mas todos fomos chamados a trabalhar.
ALMIR — Muito bem. Eu só não fico zangado com você pelo fato de você se alongar nas suas respostas, mas de me chamar de doutor eu fico.