1. — ALMIR — A pergunta seguinte cabe a Saulo Gomes.
SAULO — Em pelo menos dez estados dos Estados Unidos da América do Norte, ainda no Oriente Médio, em execuções recentes, produto das guerras e aqui no Brasil, em consequência de problemas políticos, nós temos um dos mais debatidos temas do mundo jurídico universal: a pena de morte. Como veem os espíritos que lhe iluminam e lhe acompanham, como vê, você, Chico Xavier, com a autoridade e responsabilidade a aplicação da pena de morte, por qualquer que seja o motivo em qualquer parte do mundo?
CHICO XAVIER — Nosso Emmanuel que está presente nos pede considerarmos, já que a personalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo está recebendo o enfoque de nossos pensamentos e de nossas palavras, ele nos convida a recordarmos com a máxima veneração pelas nossas leis e pelas autoridades que as expõem ele nos solicita recordarmos, na condição de cristãos, a parábola do Bom Samaritano, um ensinamento considerado antigo, mas há dentro dele uma nota de profunda significação. É que, dentro da parábola, existem as qualificações, menos uma: Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu em poder de malfeitores que o feriram e o deixaram sem qualquer comiseração. Em seguida passou um religioso, que o viu e seguiu adiante. Em seguida veio um levita, que o viu também e passou adiante. Em seguida veio um samaritano, considerado homem até mesmo sem qualquer qualificação religiosa, mas era um samaritano e fez ali o papel da caridade, do amor que devemos uns aos outros. Em seguida aparece um hospedeiro. Todos os que apareceram foram qualificados pelo Senhor menos a vítima: a vítima era um homem. E o homem, seja quem seja, merece o nosso respeito. Os últimos, que estão nas prisões, por crimes catalogados em nosso Código Penal, eles são doentes, naturalmente que a Justiça exerce a função de medicina espiritual. Cada sentença é uma cirurgia no corpo espiritual daquele que necessitou da segregação para ser convenientemente tratado. Mas, nós somos cristãos. Não podemos censurar ninguém, mas devemos pedir a Deus para que os nossos magistrados, os responsáveis pelos nossos tribunais de Justiça se compadeçam de nós e que ninguém morra em nome da Justiça. Porque nós todos somos irmãos. O cárcere que evoluiu tanto depois de Jesus. Nós temos penitenciárias que são verdadeiras escolas. Conheço pessoalmente a penitenciária de Neves, a 18 quilômetros da terra em que eu nasci, que honra o Governo do Estado de Minas Gerais. Nós devemos acreditar que a Justiça terá recursos para criar sentenças de tratamento espiritual, para segregar a nós outros, quando nós estivermos em desacordo com os princípios de fraternidade e de respeito, que nos regem uns diante dos outros. Mas a pena de morte é alguma coisa que merece a nossa oração, pelos nossos magistrados, para que eles não percam a alma cristã, o coração cristão, que lutamos tanto para edificar. Dizemos isto respeitando as determinações da Justiça em nossos tribunais. Mas a vítima era um homem, um homem que na parábola não se sabia quem era, se ele era abastado ou menos abastado, se ele era amadurecido, se era jovem, se ele era um elemento da sexualidade dita normal ou uma criatura filiada a conflitos sexuais muito grandes, nós não sabemos a que raça pertencia aquele homem, de onde é que ele vinha, a que família pertencia, o que ele buscava. A vítima era um homem. E aqueles que estão considerados fora da lei são doentes que a Justiça saberá tratar, para devolver ao equilíbrio e à normalidade. Mas, a vítima, na parábola, podia ser um de nós.