1 Deseja você saber,
Meu caro Amarílio Sá
O que há na obsessão
Vista do lado de cá.
2 Posso informar a você
Que estes casos tais quais são
Seja na Terra ou no Além,
São assuntos de paixão.
3 O ódio é amor selvagem,
No que exige e não alcança,
Afeto quando egoísta
Insatisfeito é vingança.
4 Orgulho é amor a si mesmo,
De maneira desastrada,
Ciúme — amor possessivo
Que fere a pessoa amada.
5 Vaidade — amor ao poder,
Na indiferença ante o bem,
Opinião que domina
E não atende a ninguém.
6 Desencarnando na Terra
Estamos por dentro a sós,
Por isto, a morte revela
O que trazemos em nós.
7 Espírito libertado
Sem dúvida e sem talvez,
De imediato no Além,
Está naquilo que fez.
8 Em razão disto, meu caro,
Céu ou luz, algema ou lama,
Desencarnando a pessoa
Tem aquilo que mais ama.
9 Há quem se agarre com gente,
Com sítios, nomes, partidos,
Empresas, casas, remorsos
E sombras de tempos idos.
10 São muitos os casos tristes
Nessa larga desventura,
Porque a lei manda se ache
Aquilo que se procura.
11 Você recorda João Nico,
Envenenou Maristela;
Morreu mas vive na roça,
Chorando na casa dela.
12 Perfurado por Toninho
Finou-se Joaquim da Torra,
Mas Joaquim desesperado
Vive atolado em desforra.
13 Caçava como ninguém
Nosso amigo Merengueiro,
Largando o corpo na Terra,
Anda atrás do perdigueiro.
14 Nicósio viveu colado
A grande barril de pinga
Morreu e bebe sem pausa,
E grita, blasfema e xinga.
15 Sempre agarrada a conforto
Faleceu Joaquina Fraza,
Mas vive atrelada à cama
E espanta o povo da casa.
16 Escravizado à fazenda,
Quintino de Maritacas,
Sem corpo, vive no campo,
Cuidando de bois e vacas.
17 Presa à tarefas de granja,
Desencarnou Mariquinhas…
De tanto gostar de frangos
Vive assombrando as galinhas.
18 Ligado às antiguidades
Lá se foi Marcos Dirceu,
Hoje encontrei-o na sombra:
É um fantasma de museu.
19 Obsessão, meu amigo,
Traçada em linhas gerais,
É sempre desequilíbrio
No apego quando é demais.
20 No assunto, lembre Jesus
Na luminosa lição:
— “Onde se guarda um tesouro,
Tem-se aí o coração”. ( † )
Cornélio Pires
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