1 Recebi a sua carta,
Meu caro Joaquim Pilar,
A respeito de missão
Tenho uma história a contar.
2 Renasceu Juca Cirino
Em Roça de Sapecados,
Para fazer um refúgio
De apoio aos necessitados.
3 Muito jovem, registrou
Num círculo de oração,
Que havia voltado à Terra
Para estar nessa missão.
4 O Espírito Mensageiro
Disse a ele: “Irmão Cirino,
Atenda à sua tarefa,
O seu encargo é divino”.
5 Juca logo prometeu
Que teria empenho nisso,
Faria o lar de socorro,
No campo do compromisso.
6 Comentou o revelado,
Falando em plano graúdo,
Mas a legou que primeiro
Precisaria de estudo.
7 Ganhou anel e diploma,
Subiu a grande lugar,
Entretanto, acrescentou
Que deveria casar.
8 Em seguida ao matrimônio
Cirino ganhou dois filhos;
Na ideia do missionário
Eram novos empecilhos.
9 Agora, dizia ele,
Para viver, a contento,
Necessitava encontrar
Mais força de rendimento.
10 Cirino clamava em choro:
Era a cobrança de esfola,
Era a esposa adoentada,
Era menino na escola;
11 Eram notas do armazém
Com pagamento à vista,
As despesas da farmácia,
As prestações ao dentista;
12 O pagamento da casa
A preço que desatina,
O carro para conserto,
O preço da gasolina;
13 Era a pia arrebentada,
E os defeitos do chuveiro,
A casa, de ponta a ponta,
Exigia mais dinheiro.
14 Se alguém indagasse dele
Pelo futuro da obra,
Respondia que esperava
Finança e tempo de sobra.
15 Quando os filhos se casaram,
Moços de anseios corretos,
Agora, Juca, mais livre
Passou a prender-se aos netos.
16 Procurando novos ganhos
Lutava dias inteiros,
Dizia necessitar
De apoio firme aos herdeiros…
17 O tempo corria sempre,
Qual fonte que se desata,
Cirino tinha a cabeça
Toda vestida de prata.
18 Quase aos oitenta janeiros,
Relembrava os tempos idos
E seguia prometendo
Um lar para os desvalidos.
19 Um dia, chegou a morte
E chamou Juca à razão…
Cirino rogou mais tempo
No entanto, pediu em vão.
20 Falou nos planos do lar,
Não desejava descanso,
Mas disse a morte: “seu tempo
Fechou-se para balanço.
21 “Agora, meu caro irmão,
É a mudança definida,
Seu plano de caridade
Deve aguardar outra vida.”
22 E Cirino lá se foi…
É isso, caro Joaquim,
Quem não faz seu próprio tempo
Acha cuidados sem fim.
23 E quem foge ao prometido,
Caminha sempre sem paz…
Onde está o devedor,
O débito vai atrás.
Cornélio Pires
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