1 Em carta, você pergunta,
Meu caro Juca Assunção,
Que posso dizer agora
No assunto da salvação.
2 Sinceramente, meu caro,
Sua consulta me aperta,
Indagação desse naipe
Exige resposta certa.
3 Acreditava em menino,
De pensamento simplório
Que os mortos encontrariam,
Céu, inferno ou purgatório.
4 Crianças mortas no berço,
Segundo o Mestre Corimbo,
Ficariam resguardadas
Num lugar chamado limbo.
5 Muito mais tarde, homem feito,
Fui espírita de fé
Acreditava no Além,
Sem percebê-lo como é…
6 Agora posso falar
Sem a palavra talvez,
“Outro mundo” é qualquer mundo
Depois do que já se fez.
7 A pessoa vai agindo
Consciente ou inconsciente,
Sem o corpo encontra logo
O que carrega na mente.
8 Nhô Chico do Tatuí
Viveu servindo a Jesus,
Hoje acolhe os sofredores
Em grande mansão de luz.
9 Dedicou-se ao bem dos outros,
Dona Cocota Clemente,
No Além, só se vê feliz
Sendo mãe de muita gente.
10 Você conheceu comigo
Dona Chiquita Rosenda,
Sovina, depois de morta
Vive agarrada à fazenda.
11 Desencarnado, o Jovino
Que viveu de pinga e caça,
É sempre visto onde tenha
Tiro de chumbo ou cachaça.
12 Era agressivo e isolado
Nosso amigo Altino Gama
Depois da morte só pede
Garrafa, silêncio e cama.
13 Caso triste o que encontrei
Na gulosa Gabriela
Sem corpo só vê à frente
Fogão, quitute e panela.
14 Trocou família por pesca
Nosso Nino Peñarol,
Deslanchou do necrotério,
Buscando vara de anzol.
15 No baralho, foi-se a vida
De Quinquim da Cabriúva,
Hoje só pensa em jogar
Seja no sol ou na chuva.
16 Há dias, achei na roça,
O avarento João Ribeiro,
Ele agora ajunta pedras
Pensando contar dinheiro.
17 Salvação? A lei demonstra,
Tanto no Além quanto aqui,
Cada qual vive onde está
Como está dentro de si.
18 Pense no bem, faça o bem,
Não se engane, caro irmão,
Céu, inferno ou purgatório,
Começam no coração.
Cornélio Pires
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