1 Viajor!… viajor!…
No oceano da vida,
Muita vez, tua voz,
Misturada de pranto,
Clama a Presença Divina…
2 Entretanto,
Basta que surja uma ilha sedutora
Para que te detenhas muitos anos,
No cipoal das sensações efêmeras,
De bússola abandonada,
De leme esquecido,
De navio ancorado em sombra…
3 Descuidado e feliz,
Observas, não longe,
Terremotos de dor compelindo-te à volta ao mar.
Lembras-te, então, de novo,
E imploras, angustiado, a Presença Divina…
4 Todavia,
Basta que um companheiro te provoque
À disputa infeliz
Para que te projetes na água turva,
Fora da embarcação.
5 Torturado, bracejas,
Entre os monstros do abismo,
Não podes repousar,
Senão momentos breves
Entre braços de rocha
A emergirem do fundo…
6 E após dias de dor,
De sede, fome e sono,
Ganhas a praia extensa,
— Um deserto areal…
Nem árvores, nem fontes,
Apenas ervaçais
Onde a serpente mora,
Aguardando-te os pés.
7 Foges, espavorido,
Esfarrapado e só,
E, quando a ventania
Improvisa o sepulcro
Que te espera, por fim,
De corpo verminado,
Apodrecido e nu,
Sem bússola, sem nau,
Sem âncoras no porto,
Sem a voz de ninguém
Que te console ou guie,
Agarras-te à fé viva
E gritas para o Céu:
— Senhor! Senhor! Senhor!…
8 Então, e só então,
Sentes no coração
Que soluça e que ri
A voz, a Grande Voz que te renova o “eu”:
— Não temas, filho meu,
Espera!… Estou aqui.
Alma Eros
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