1 Mais tarde, servo que descansas,
Quando a sombra envolver-te os olhos fatigados,
A noção do tempo crescerá em tua alma
E o senhor da Vinha
Dir-te-á do monte da consciência:
2 — Que fizeste da manhã cheia de luz?
Onde guardaste os raios do sol,
As gotas do orvalho,
As sementes divinas,
O arado amigo e realizador?
3 Que fizeste do meio-dia rutilante
Onde deixaste
Os rebentos novos,
As flores opulentas,
Os frutos generosos,
A dádiva do suor?
4 Contemplarás as mãos vazias,
Suportarás o coração tocado de remorso
E dirás, em, obediência
Ao antigo hábito de enganar a ti mesmo:
5 — O Sol causticante crestou a terra de meu campo,
Chuvas copiosas trouxeram imensas inundações…
Vermes invasores destruíram a erva tenra,
Serpentes venenosas atacaram-me os pés.
6 Aos espinheiros que se erguiam acima do solo
Respondiam pedras embaixo,
Anulando-me a tarefa…
7 Se surgiam alguns brotos na encosta,
A lama descia célere…
8 Se rebentos humildes vinham à planície,
Os detritos da serra
Formavam pântanos implacáveis
Aniquilando-me a sementeira.
9 Que poderia fazer, então,
Se todos os perigos da Natureza congregavam-se contra mim?
10 O Senhor da Vinha, porém,
Ouvirá complacente
E, antes de tornar
Ao seu próprio trabalho,
No campo universal e infinito dos séculos,
Responderá:
— Não te queixes.
O sol causticante,
A chuva torrencial,
Os vermes e as serpentes,
Os espinhos e as pedras,
A lama e o pântano,
Eram as ferramentas que te dei…
Mas… espera! Outro dia virá!…
11 Tentarás justificar-te, inda uma vez;
Todavia,
O último raio de sol despedir-se-á do céu
E o rosto do Senhor
Desaparecerá no grande silêncio.
E então errarás de vale em vale, de montanha em montanha,
Sangrando o coração sob ríspido açoite,
Angustiado e sozinho,
Porque no teu caminho
Reinará, longo tempo, enorme e espessa noite!…
Alma Eros
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