Na obra “Viajores da Luz” (Ed. GEEM), o seu co-autor, Dr. Caio Ramacciotti, comenta o texto de Carmelo Grisi como “um diálogo fácil, sem barreiras, naturalmente facilitado pela firme transmissão mediúnica de Chico Xavier”. Era a primeira mensagem, dada em 18/10/1980. Depois desta, ao longo de oito anos consecutivos, foram transmitidas outras dezesseis, tendo sido a 17º obtida em 26/11/1988.
Diante do conteúdo destas cartas, endereçadas aos corações queridos que permanecem na matéria densa, entre notícias suas ou de amigos e familiares que partiram para o Além, surge um precioso filão de anotações oportunas para a divulgação.
Algumas delas falam da adaptação à Vida Espiritual, ainda um tanto problemática para este Espírito. Há humor, referências jocosas e até uma dose de ironia. Não obstante, entremeando uma e outra citação, encontramos valiosos conselhos, mormente para aqueles que enfrentam dificuldades neste mundo, pensando numa próxima libertação para gozar uma suposta boa vida no Além.
O objetivo desta obra não se prende, pois, à comprovação de dados, nomes ou citações que identifiquem o Espírito comunicante ou aqueles citados. No livro acima referido, (“Viajores da Luz”) temos o trabalho comprobatório feito pelo Dr. Caio, pois a mediunidade de Chico Xavier nesses últimos anos de seu mandato mediúnico continua o mesmo fiel instrumento, através do qual tantos Espíritos têm dado mensagens ou produzido obras sob a direção de Emmanuel, pois como o próprio médium sempre afirmou, é ele quem controla o canal entre os dois mundos, qual operador de satélites utilizados na comunicação entre os continentes.
Carmelo Grisi foi um cidadão simples, de poucas letras, porém muito ativo e observador. Dotado de potencial energético maior do que a média das pessoas, ele o direcionava para o trabalho e as boas obras, na prestação de toda sorte de serviços ao próximo, pois, se era naturalmente assim, a convicção espírita reforçava essa tendência.
Utilizando-nos de uma expressão da juventude atual, poderíamos dizer que “agitava” os locais por onde adentrava com seus ruídos, gestos e interjeições, provocando uma contagiante onda de alegria.
Natural da bela província de Trecchina, próxima ao Golfo de Policastro, no sul da Itália, abandonou seu torrão natal com seus irmãos, ainda adolescente, para aportar no Brasil. Naquela época o destino da maioria dos emigrantes era São Paulo, a Capital com suas indústrias florescentes ou seu interior de cujas terras férteis brotavam cidades por toda parte.
Optou por uma bem distante, São José do Rio Preto, dois anos antes que a linha férrea lá chegasse, e teve que caminhar a pé algumas léguas para atingi-la. Fixou residência aí e casou-se. Sua esposa Elvira era dotada de grande potencial mediúnico direcionado à cura de obsidiados, tendo sido uma das pioneiras do Espiritismo naquela região.
Nasceram-lhes quatro filhos, todos homens. No decorrer da existência, além de Rio Preto, outras cidades também tiveram importância para Carmelo. Entre elas, Votuporanga, que se desenvolveu a partir da década de 1940, sendo alvo de muitos de seus trabalhos. Lutou para que as linhas telefônicas chegassem até lá, onde seu filho Romeu se estabelecera, pois comunicador que era, não se conformava em ficar longe de telefones. Auxiliou também a erguer o Centro Espírita Emmanuel e o Lar Irmã Mariana, expressivas obras do movimento espírita naquela cidade.
No seu primeiro contato com Chico, pelo telefone, em 1954, chorou. Em seguida veio o conhecimento pessoal na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo, seguido de mensagem da querida companheira que havia partido cinco meses antes. (Esta mensagem encontra-se no livro “Entre Duas Vidas” — Ed. CEC)
Daquele encontro surgiu a amizade entre os dois. Carmelo admirava o Chico e Chico alegrava-se com sua presença, pois, muitas vezes, era surpreendido pelo comportamento de menino travesso no amigo, ao sentir o bom humor em fisionomias sofridas nas intermináveis filas de atendimento que ele rompia sem a menor cerimônia.
Chico abria-lhe os braços sorridente e o acolhia com bondade, retendo-o ao seu lado. Nas sessões que se estendiam noite a dentro ou nas peregrinações, era sempre a nota alegre e comunicativa, facilitando o trabalho das equipes espirituais para manter o ambiente equilibrado em meio a tantas pessoas tensas ou emocionadas, na espera de serem atendidas pelo Chico.
Com a idade avançada, as idas a Uberaba começaram a escassear. Depois vieram as complicações da saúde, a memória começou a falhar e as viagens cessaram. Sob os cuidados de Cida, sua governanta que com o tempo se tornou enfermeira e filha do coração, tanta dedicação e amor tinha por ele, veio a desencarnar em 28/03/1980, causando essa separação um vácuo entre as duas almas.
Eis que em outubro do mesmo ano, Carmelo retorna ao Grupo Espírita da Prece, liberto da matéria densa que o limitara nos últimos tempos. Deu a sua primeira mensagem ajudado pela esposa Elvira. Depois vieram outras e Carmelo começou a se soltar provocando risos e transmitindo bom humor às plateias, à medida que suas mensagens eram lidas pelo Chico, que não escondia o sorriso, o mesmo sorriso com que costumava recebê-lo.
Após essas pinceladas em torno da figura de Carmelo Grisi, que permaneceu encarnado 86 anos (1893-1980), necessárias, em nosso entender, para compreende-lo melhor em suas palavras e imagens, apresentamos neste livro, os trechos mais significativos de suas mensagens, n para analisá-los e tecer comentários sobre eles. Esta é a nossa proposta.
Gerson Sestini
Rio de Janeiro, janeiro de 1991.
[2] A penúltima mensagem do livro, Amigos de Sempre, é apresentada na íntegra.