O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Carmelo, ele mesmo — Mensagens familiares de Carmelo Grisi


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Amigos de sempre

1 Meu caro Romeu e querida Hilda, começo por vocês as minhas saudações. Em seguida temos a Martha com o Nininho, temos o Carmelinho e o Gerson. E mais os outros amigos, pois a todos desejo saúde, paz e alegria.

2 Então, Romeu, você pegou uma brasa de nome pleurite e está remando em maré alta. E isso mesmo, meu filho. Tratar-se e depressa. O corpo físico é semelhante a uma barca no rio da vida ou no mar das provações. Se uma brecha aparece no casco, é indispensável tampá-la com urgência. O nosso prezado Dr. Radovir diria tamponá-la, mas fico no meu português fora de Portugal. Inventamos as palavras conforme as necessidades do momento.

3 Felizmente, você está muito bem tratado e muito bem paparicado pelos médicos daí e daqui, com a Hilda de permeio presidindo a formação de caldos que lhe devolvam as forças. Você merece. Tive a assistência de nossa Aparecida que em muitas ocasiões me servia de mãe; no entanto, o meu caso não era benigno e tive de largar meu canteiro à força, na horta da vida.

4 Seus remédios estão muito bem lembrados, e de minha parte apenas acrescentarei que o repouso possível lhe fará muito bem até que a febrícula não mais apareça. Outra lembrança de que não devo me esquecer para cooperar em seu bem físico é o uso do mel puro de abelha, diariamente, por alguns meses, para melhorar os pulmões.

5 Hoje, não sei em que lugar na Terra o ar não estará poluído. Por isso, lembrar num clima que se mostre melhor que o de Votuporanga para mim é bobagem. Em qualquer parte da Terra de hoje, você larga a labareda e cai no tição aceso. A providência é confiar em Deus e fazer o que se faça possível para que a saúde volte à normalidade.

6 Continuo a pensar que para mim seria muito melhor continuar no meu corpo velho do que contar vantagens com o meu corpo novo. A quem possa aconselhar faço sempre o aviso. Gente, fiquem por aí mesmo, aproveitando os frutos da Terra e das alegrias da experiência física, porque morrer não dá camisa para ninguém.

7 É pena que a nossa Aparecida e a nossa Henriqueta não tenham vindo para completar o nosso plantel de alegrias e boas recordações. Mas sei que a ausência das duas está plenamente justificada. Nem sempre marido e mulher podem viajar de uma só vez, porque os parentes são nossos jarros de estimação e se um aparece não nos será possível deixar de prestar-lhe as honras.

8 Por aqui, tudo sempre bem. A nossa estimada Dona Maria está muito bem acompanhada pelos tratamentos do Dr. Orlando e pela assistência do nosso Hilário. Em breve estará tão jovem quanto antigamente, porque noto aqui que as mulheres são mais hábeis para a obediência às instruções da Vida Espiritual, cumprindo-lhes as determinações, o que não acontece com os homens, principalmente com um homem de meu naipe, sempre duro de molejo.

9 O que acontece é que a gente, isto é, nós outros, os homens, vamos ficando para trás, mas com isso não me importo, porque sei que Deus criou o tempo para todas as vocações.

10 O Alceu está muito melhor, quase plenamente recuperado, mas o Germaninho não acompanha o ritmo do irmão. É teimoso, qual me acontece. Há poucos dias, de visita a ele, em companhia do Hilário, cheguei a lhe dizer: “— É, rapaz, você parece mais Grisi do que Sestini”, referindo-me a mim mesmo, espírito rebelde e brincalhão. Ele não gostou da brincadeira e me lançou um olhar de censura. Mas isso não alterou os nossos assuntos. Ele continuou Germaninho e eu continuei Carmelo.

11 Do nosso pessoal, quem está na crista da onda em matéria de trabalho é o nosso Dr. Radovir. Fico imaginando que ele, homem sem religião, está muito à minha frente que seguia as preces de nossas reuniões com as ideias turvas e as palavras bonitas que eu ouvia e transportava para dentro de mim.

12 Noto que o nosso Radovir está inclinado aos assuntos da fé, principalmente com tudo o que tem visto com os próprios olhos, no terreno das obsessões, no entanto, o homem não perde tempo em conversa vazia.

13 Os amigos se referem a ele, informando que poderia estar se adaptando a esferas de Vida Superior, entretanto, ele diz que o lugar dele é ao lado de todos os doentes aos quais possa prestar auxílio e com isso não dá bolas. Toca o serviço para diante e tem tido a alegria de rever amigos que lhe admiram as qualidades. Ainda na semana passada, visitando um amigo na Santa Casa, encontrei-o em conversação com o Dr. Matheus Júnior e com o Dr. Mendes Pereira.

14 Os médicos aqui trabalham muito, quando querem. Os que cultivaram a vocação para a medicina e praticaram-lhe com sinceridade os preceitos, me parecem escravos de obrigações das quais não se arredam, e como sucede na Terra mesmo, os que não conservaram a vocação, conservam a malandragem. Entretanto, isso é outra história na qual não desejo entrar. Vamos devagar para irmos mais longe.

15 O Radovir me recomendou trazer abraços para a Martha, e para os filhos que a assistem. Desse modo, o Nininho recebe o abraço fraterno por todos da família. Ele, o nosso Dr. Radovir, tem ido em companhia de nossa Martha até o sítio e fica encantado com as flores. Homem de sorte. Não acreditou em Deus, não se ajoelhou nas igrejas e nem praticou qualquer culto e recebeu uma companheira que lhe oferece flores, para que se encoraje a trabalhar e a servir sempre mais.

16 O Gerson merece os nossos parabéns pelo grupo que sustenta no Rio. Olhe que trabalhar na praia é um esforço muito maior do que aquele que se gasta nas montanhas. Não quero ferir ninguém, pois isso seria ferir a mim mesmo, no entanto, trabalhar para as obras de Deus num lugar repleto de beleza e de muita gente com pouca roupa é um sacrifício que merece bênçãos especiais. Assim penso.

17 Carmelinho, peço a você abraçar a Henriqueta e a Cida por mim. Romeu, fique restabelecido depressa e não deixe de valorizar os medicamentos. O negócio é este: a quem valoriza os remédios, os remédios igualmente valorizam.

18 Agora é preciso dizer tchau a vocês todos. Dr. Orlando está em nossa companhia e me lembra que devo parar, sob pena de ser matriculado no tratado dos chatos. Creiam, porém, que lhes falo com todo o coração de pai e amigo.

19 A Elvira lhes envia muito carinho e muitas lembranças. Com as muitas saudades de sempre, peço-lhes desculpas se me esqueci de alguém ou de algum assunto em que deva tomar parte.

Muito amor e reconhecimento do pai e companheiro, servidor e amigo velho.


Carmelo Grisi

(11.01.1986)     


ELUCIDAÇÕES


Achamos conveniente reproduzir essa mensagem sem cortes para que o leitor verificasse a variedade de assuntos insertos em suas cartas do Além.

Mais uma vez Carmelo provoca risos na plateia que ouve atentamente a leitura da mensagem pelo Chico, ao insistir sobre as vantagens da vida terrena, alertando a quem pudesse interessar que morrer não dá camisa para ninguém.

Quando Carmelo diz que fica no seu português fora de Portugal, ele apenas ameaça exprimir-se como sempre o fez: inventar as palavras conforme a necessidade do momento. Em toda sua vida ele adaptou termos difíceis e palavras estrangeiras ao seu modo, criando, às vezes, dificuldades para o interlocutor menos avisado. Na obra “Jovens no Além”, o lápis de Chico flexibilizou-se aos termos novos e gírias daqueles Espíritos a tal ponto que, em certos trechos, parecia estarmos lendo em língua paralela ao português. Mas, para Carmelo, este mesmo lápis procura recolocar suas palavras e frases de maneira a tornar mais claras suas ideias, atendendo a outros objetivos.

Em se referindo ao rejuvenescimento de Dona Maria Sestini, que lá chegara há três meses apenas, nosso amigo traça um paralelo entre homens e mulheres no Além, dando vantagem a elas porque seguem as instruções obedientemente, o que a maioria dos homens, como ele, não conseguem, por serem indisciplinados e pouco flexíveis.


Gerson Sestini


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