Meus pais converteram-se ao Espiritismo por volta de 1918. Minha mãe, ainda muito jovem, dotada da faculdade mediúnica de desobsessão, aceitou, ao lado de meu pai, os encargos e compromissos de tão nobre quão difícil tarefa. E, amparados pela Doutrina e sob a proteção do benfeitor Romeu de Ângelis, prosseguiram trabalhando até a desencarnação de minha progenitora, ocorrido em 1954.
Na fase que se seguiu ao desenlace, com as significativas mudanças na vida da família, contamos com o apoio de Francisco Cândido Xavier, através de mensagem de minha mãe, recebida por ele, e que foi o motivo da amizade que se estabeleceu entre meu pai e o nosso querido Chico. Pessoalmente, eu e minha esposa já conhecíamos o famoso médium desde 1948.
Os vinte e seis anos de viuvez do meu progenitor foram atenuados pela Consoladora Doutrina e pela influência exercida pelo bondoso médium, dando-lhe ânimo forte e confiança no futuro. Sem perder o jeito extrovertido e o bom humor que sempre o caracterizavam, cuidou de meu irmão caçula, Carmelinho, que contava apenas 11 anos de idade ao se ver privado da presença materna. Foi esta, então, a grande preocupação de sua vida, até que ele se formasse em Agronomia e se casasse.
Amando profundamente os filhos, notávamos, eu e meus manos Valdinho e Rubens, que suas atitudes e sentimentos se renovavam na ânsia de suprir a ausência de nossa mãe. Carmelinho fora um filho temporão e não contava com familiares na sua faixa de idade, embora nossas cunhadas Aracy e Cicina os alegrassem constantemente com suas presenças.
Anos mais tarde, meu pai travou conhecimento com a professora Aparecida Batista Ferreira que buscava fixar residência em Rio Preto, em função de sua carreira no magistério. Hospedou-se ela em nossa casa por algum tempo, e esse tempo se dilatou até que se estabelecesse um vínculo de amizade profunda entre ambos, como o de um pai para uma filha muito querida.
A autorização para que esta obra fosse escrita veio seguida do pedido de meu pai para que eu o apresentasse como realmente era, e, na sua franqueza jocosa, insistiu para que não o perfumasse porque todos sairíamos perdendo. n
Evidencia-se aí o problema da autenticidade que o preocupava em virtude da natural tendência do ser humano em santificar os supostos mortos. Outro risco, a meu ver, estava no relacionamento afetivo entre pai e filho, o que poderia dar margem a exageros e elogios piegas para um assunto tão sério quanto este.
Finalmente, vencidos os anos de expectativa pacientemente aguardados para que as páginas familiares, e não literárias, viessem a lume, proporcionamos aos leitores esta obra franca e instrutiva, entremeada de lances de humor crítico, compilada e comentada pelo meu cunhado Gerson Sestini.
Esperamos que do esforço conjugado daqueles que cooperaram nesta obra resultem benefícios de paz, consolo e esperança em favor de todos os que jornadeiam na Terra em busca de uma Vida Superior, à luz da Doutrina Espírita.
Romeu Grisi
Votuporanga, janeiro de 1991.
[1] “Romeu, os nossos amigos consideram que não há inconveniente em que se publique o que temos escrito, mas se isso acontecer, você faça um prefácio, dizendo que fui um carroceiro e carregador de pedras.” — Carmelo (25.07.1987)