O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Cartas e crônicas — Irmão X


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Bichinhos

1 Declara-se você esgotado pelos conflitos internos da instituição espírita de que se fez devotado servidor, e revela-se faminto de uma solução para os problemas que lhe atormentam a antiga casa de fé.

2 Lutas entre companheiros e hostilidades constantes minaram o altar do templo, onde, muitas vezes, você observou a manifestação da Providência Divina, através de abnegados mensageiros da luz, e hoje, ao invés da fraternidade e da confiança, do entusiasmo e da alegria, imperam no santuário a discórdia e a dúvida, o desânimo e a tristeza.

3 Pede-nos você um esclarecimento, entretanto, a propósito do assunto, lembro-me de velha e valorosa árvore que conheci em minha primeira infância. Verde e forte, assemelhava-se a uma catedral na obra prodigiosa da Natureza. Cheia de ninhos, era o palácio predileto das aves cantoras que, em suas frondes, trinavam felizes: Tropeiros exaustos encontravam à sua sombra, que protegia cristalina fonte, o reconforto é a paz, o repouso e o abrigo. 4 Lenhadores, de quando em quando, furtavam-lhe pedaços vivos e peregrinos ingratos roubavam-lhe ramos preciosos para utilidades diversas. Tempestades terríveis caíam sobre ela, anualmente, oprimindo-a e dilacerando-a, mas parecia refazer-se, sempre mais bela. Coriscos alcançaram-na em muitas ocasiões; mas a árvore robusta ressurgia, sublime. 5 Ventanias furiosas, periodicamente, inclinavam-lhe a copa, decepando-lhe galhos vigorosos; a canícula demorada impunha-lhe pavorosa sede e a enxurrada costumava rodeá-la de pesados detritos… O tronco, porém, sempre adornado de milhares e milhares de folhas seivosas, parecia inabalável e invencível.

6 Um dia, contudo, alguns bichinhos começaram a penetrá-la de modo imperceptível.

Ninguém lhes conferiria qualquer significação.

Microscópicos, incolores, quase intangíveis, que mal poderiam trazer ao gigante do solo?

7 Viajores e servos do campo não lhes identificaram a presença.

Mas os bichinhos multiplicaram-se, indefinidamente, invadiram as raízes e ganharam o coração da árvore vigorosa, devorando-o, pouco a pouco…

8 E o vegetal que superara as ameaças do céu e as tentações da terra, em reduzido tempo, triste e emurchecido, transformava-se em lenho seco, destinado ao fogo.


9 Assim também, meu caro, são muitas das associações respeitáveis, quando não se acautelam contra os perigos, aparentemente sem importância. São admiráveis na caridade e na resistência aos golpes do exterior. Suportam, com heroísmo e serenidade, estranhas provações e contundentes pedradas. Afrontam a calúnia e a maldade, a perseguição e o menosprezo público, dentro de inalterável paciência e indefinível força moral…

10 Visitadas, entretanto, pelos vermes invisíveis da inveja ou do ciúme, da incompreensão ou da suspeita, depressa se perturbam e se desmantelam, incapazes de reconhecer que os melindres pessoais são parasitos destruidores das melhores organizações do espírito.

11 Quando o “disse-me-disse” invade uma instituição; o demônio da intriga se incumbe de toldar a água viva do entendimento e da harmonia, aniquilando todas as sementes divinas do trabalho digno e do aperfeiçoamento espiritual.

12 Que fazer? — Pergunta você, assombrado.

Dentro de minha nova condição, apenas conheço um remédio: nossa adaptação individual e coletiva à prática real do Evangelho do Cristo.

13 Contra os corrosivos bichinhos do egoísmo degradante, usemos os antissépticos da Boa Nova.

— “Se alguém quiser alcançar comigo a luz divina da ressurreição, — disse o Senhor, — negue a si mesmo, tome a cruz dos próprios deveres, cada dia, e siga os meus passos.” ( † )

14 Quando pudermos realizar essa caminhada, com esquecimento de nossas carunchosas suscetibilidades, estaremos fora do alcance dos sinistros micróbios da treva, imunizados e tranquilos em nosso próprio coração.


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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