1 A sombra desce de manso,
O silêncio volve aos ninhos,
É a noite cariciosa
Que se estende nos caminhos.
2 Na casa pequena e simples
Que é refúgio da pobreza,
É mais densa a escuridão
Que amortalha a Natureza.
3 Mas no quadro desolado
Perpassa a bênção do amor,
A candeia humilde e rude
Clareia do velador.
4 Na sala desguarnecida
Da morada carinhosa,
Sua luz mostra a beleza
De uma estrela generosa.
5 Aproveita-se-lhe o encanto
Na esfera da utilidade,
Mas quase ninguém lhe vê
O espírito de humildade.
6 Seu processo de ajudar,
Nas sombras da noite escura,
Revela lição sublime
Ao plano da criatura.
7 Por servir de fonte calma
Ao clarão bondoso e amigo,
Ela queima a provisão
De tudo que tem consigo.
8 Consome o óleo, a torcida,
Perde o brilho, perde a graça,
Suporta o calor do fogo,
Sofre o assédio da fumaça.
9 E guarda, com Deus, a glória
De haver produzido o bem,
Sem ferir qualquer pessoa,
Sem prejuízo a ninguém.
10 Quem deseje iluminar,
Proceda como a candeia:
A si mesmo se ilumine
Sem reclamar luz alheia.
Casimiro Cunha
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