1 Geralmente, em toda parte,
No ângulo mais sombrio
Dos recantos desprezados,
Vem a aranha e tece o fio.
2 Escura, silenciosa,
Atendendo ao próprio instinto,
Seja dia, seja noite,
Vai fazendo o labirinto.
3 Por manter o enorme enredo,
Insiste e nunca esmorece,
Condenar-se por si mesma
É seu único interesse.
4 Desdobrando movimentos
Nos impulsos insensatos,
Pratica perseguições,
Multiplica assassinatos.
5 Insetos despreocupados,
Na ilusão cariciosa,
Transformam-se em prisioneiros
Da pequena criminosa.
6 Satisfeita, a aranha escura
Prossegue na horrenda lida,
Nos venenos que segrega
Traz a morte e suga a vida.
7 Mas um dia, o espanador,
Na luta material,
Vem e arranca essa infeliz
Das teias de horror do mal.
8 A aranha, porém, não cede,
Com teimosia e com arte,
Foge ao bem que se lhe fez,
E vai tecer noutra parte.
9 Quem medita na conduta
Dessa aranha renitente,
Encontra a cópia fiel
Da vida de muita gente.
10 A muitos presos do engano,
Deus envia a dor e as provas;
Mas, depois de libertados,
Vão prender-se em redes novas.
Casimiro Cunha
|