1 Quando é necessária ao campo
Produção forte e fiel,
Não se pode prescindir
Da poda quase cruel.
2 É dolorosa a tarefa
Que se comete ao podão,
Não só nos tempos de inverno,
Como em tempo de verão.
3 No pomar esperançoso,
Na vinha feita em verdura,
Há, dores indefiníveis
Que nascem da podadura.
4 Velhos ramos opulentos,
Dilacerados ao corte,
Despenham-se amargurados,
Vencidos de angústia e morte.
5 Esforça-se a podadeira
No galho que cede a custo,
E as frondes carinhosas
Parecem tremer de susto.
6 Muita vez, toda a folhagem
Sucumbe, desaparece,
Nobres hastes mutiladas
Dão mostras de mãos em prece.
7 Mas, depois, findo o tormento,
Passada a grande agonia,
Vem a luz da primavera
Nas colheitas de alegria.
8 Tudo é festa de beleza,
Abundância, fruto e flor,
Devendo-se tudo à bênção
Da poda que trouxe a dor.
9 Necessita-se igualmente,
No campo das criaturas,
Das podas em tempo calmo,
Em tempos de desventuras.
10 Nas fainas da luta humana,
O sofrimento é o podão:
Não te furtes à grandeza
Das leis de renovação.
Casimiro Cunha
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