1 Por benfeitor venerável,
No seio da Natureza,
Rola o rio caudaloso
Escondendo a profundeza.
2 Enquanto busca reserva,
Guardando seu próprio leito,
Ninguém se arrisca à passagem
Sem cuidado e sem respeito.
3 O rio jamais se nega
A ceder na travessia,
Mas todos se acercam dele
Com a máxima cortesia.
4 Socorrem-se os viajantes
Do auxílio de embarcação,
E espera-se a ponte amiga
Como justa construção.
5 Mas, se um dia, por descuido,
O rio apresenta o vau,
Ai dele! o destino agora
É triste, amargoso e mau.
6 Ninguém lhe receia as águas
Noutro tempo respeitadas;
Invadem-nas cavaleiros,
Carros, toras e boiadas.
7 As correntes que eram puras,
E amadas por justa fama,
Rolam sujas e insultadas
De lodo, de lixo e lama.
8 A ponte dorme em projeto
E o rio, embora a beleza,
Depois que exibiu o vau,
Nunca mais teve defesa.
9 As nossas almas também
São como o rio profundo…
A zona de intimidade
Precisa ocultar-se ao mundo.
10 O mal quer turvar-nos sempre.
Vigia, resiste e vence-o.
Se queres respeito e paz;
Não te esqueças do silêncio.
Casimiro Cunha
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