1 Sobre a árvore frondosa
Que mostra calma infinita,
Abraçada ao tronco forte
Lá se vai o parasita.
2 Não atinge o cerne, a seiva,
Mas, buscando a copa, as flores,
Enrodilha-se, teimoso,
Nas cascas exteriores.
3 Agarrado tenazmente,
Vai subindo vagaroso,
Alcançando o cume verde
Do arbusto generoso.
4 Aboletado nos cimos
Do castelo de verdura,
O cipó audacioso
Aparenta grande altura.
5 Deita flores opulentas
De expressão parasitária,
Avassalando a nobreza
Da árvore centenária.
6 Recebe os beijos do Sol,
Embala-se na ternura
Da carícia perfumosa,
Da brisa mais alta e pura.
7 Mas, vem o dia em que o Pai
Na lei de renovação,
Chama o tronco nobre e velho.
As bênçãos da mutação.
8 É aí que o cipó vaidoso
Demonstra o que não parece,
Voltando ao pó do chão duro,
Para as zonas que merece.
9 Quanta gente brilha ao alto,
E, no fundo, inspira dó?
Há milhões de criaturas
Vivendo como o cipó.
10 Jamais olvides a lei
De trabalho e obrigação,
Não queiras mostrar-te ao alto
À custa do teu irmão.
Casimiro Cunha
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