1 Céu sereno luminoso,
Entretanto, avulta em cima
Um ponto sombrio e triste —
É a nuvem que se aproxima.
2 Quem mirar o firmamento,
Descansando a luz do olhar,
De súbito, experimenta
Doloroso mal-estar.
3 Dilata-se o ponto negro,
Em todo o céu que se altera,
O calor é intolerável
Na pressão da atmosfera.
4 A planta parece aflita,
Mergulhada em solo ardente.
O vento para . O caminho
Sufoca penosamente.
5 Vem a nuvem dividida
Em vastíssimos pedaços,
Atritam-se os elementos
Em confusão nos espaços.
6 Em breve, porém, a chuva,
Em gotas cariciosas,
Mata a sede das raízes,
Lava as pétalas das rosas.
7 As folhas ganham verdura,
A estrada se modifica,
É a seiva do céu que cai,
Profusa, bondosa e rica.
8 Aí, reconhecem todos
Que a nuvem, como ninguém,
Sabia trazer, consigo,
A paz, a alegria, o bem.
9 Assim, a nuvem da vida
Do infortúnio e da desgraça,
Vem sombria e dolorosa,
Chove lágrimas e passa.
10 Um homem, depois das dores,
É mais lúcido e melhor.
Toda sombra de amargura
Traz consigo um bem maior.
Casimiro Cunha
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