1 O esterco que espalha o bem,
Vive em luta meritória;
Se é pobre, tem seu proveito,
Seu caminho, sua história.
2 Quase sempre, chega aos montes
Dos redis e dos currais,
Escuros remanescentes
Da esfera dos animais.
3 De outras vezes, vem das zonas
De imundície e esquecimento,
Onde a vida se transforma
Em triste apodrecimento.
4 Em outras ocasiões,
É detrito das estradas
Lixo estranho e nauseabundo
Das taperas desprezadas.
5 É a decadência das cousas
No resumo do imprestável,
Fase rude e dolorosa.
Da matéria transformável.
6 Em síntese, todo esterco
É derrocada ou monturo
Que das sombras do passado
Lança forças ao futuro.
7 Analisando esse quadro,
Veremos que a podridão
Vai ser cor, perfume, fruto,
Doçura e renovação.
8 Notemos, porém, que a flor
Vibra ao alto, linda e santa,
Enquanto o adubo não passa
Do solo, dos pés da planta.
9 Na vida também é assim:
O erro, a miséria, o mal,
Podem ser algumas vezes,
Esterco espiritual.
10 Todavia, é necessário
Que das lutas, através,
Aproveitemos o adubo,
Esmagando-o sob os pés.
Casimiro Cunha
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