1 Raro é aquele que medita
Contemplando a terra impura,
No trabalho peregrino
Da cova pequena e escura.
2 Assemelha-se à ferida
Sobre a leira dadivosa,
Indício de golpes fundos
Da enxada laboriosa.
3 Mas, na essência, a cova simples,
Singela, desconhecida,
É o altar da Natureza,
Celebrando a luz da vida.
4 É seio aberto à beleza,
Ao bem que se perpetua,
A existência renovada
Que se eleva e continua.
5 É o sepulcro onde a semente,
Em sombra e separação,
Vai, morrendo, reviver
Nas bênçãos da Criação.
6 E eis que a vida se elabora
Nessa doce intimidade,
Renovando-se aos impulsos
De força e imortalidade.
7 Depois do apodrecimento,
Germinação e esplendores,
Verdes galhos de esperança,
Tenros ninhos promissores.
8 Mais tarde, o tronco, a colheita
Na fartura indefinida…
Tudo, a obra generosa
Da cova humilde e esquecida.
9 Esse símbolo expressivo
Vem lembrar, à criatura,
O campo do cemitério
E o quadro da sepultura.
10 Inda aí, a cova amiga
É sempre o sublime umbral,
Porta, aberta ao crescimento
No Plano espiritual.
Casimiro Cunha
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