1 Nos círculos de serviço,
Toda a gente que trabalha
Nem sempre sabe entender
A nobreza da cangalha.
2 Não fosse ela, entretanto,
Que atende, promete e faz,
E talvez o campo inteiro
Viveria estranho à paz.
3 Convenhamos na prudência
Que vem do rifão de antanho —
Basta, às vezes, uma ovelha
Para perder o rebanho.
4 O muar deseducado,
Que a força brutal anime,
Nunca perde ensejo ao coice
E está sempre pronto ao crime.
5 Vive ao léu, ameaçando
A golpes de grosseria;
Aparentando brandura,
Transborda selvageria.
6 Transforma-se, comumente,
No animal rude e vilão,
Que se esquiva do trabalho,
Por preguiçoso e ladrão.
7 Todavia, chega o instante
Em que a cangalha, bondosa,
Comparece orientando,
Honesta, laboriosa.
8 Ligada por laço forte
Ao amigo da indolência,
Dá-lhe os bens da utilidade
Em luzes de experiência.
9 Perguntemos a nós mesmos,
Notando-a, modesta e bela,
Quais os homens deste mundo
Que podem viver sem ela.
10 O dever, como a cangalha,
Que tanta grandeza encerra,
É a balança de equilíbrio
Nas vidas de toda a Terra.
Casimiro Cunha
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