1 Na romagem dolorosa
Da vida de provação,
Também trazia os meus olhos
Iguais aos teus, meu irmão.
2 Mas, se a estrada era obscura,
Se a noite era tão sombria,
Guardava, como tu guardas,
As vibrações de alegria.
3 É que, entre as sombras terrestres,
Na tua meditação,
Sabes ver os resplendores
Das luzes da redenção.
4 Talvez que de olhos sadios
Deixastes o teu sensório
Perder-se pelo caminho
Do sentimento ilusório.
5 Todo aquele que recebe
A provação da cegueira,
Sabe orar, sabe esperar,
Vendo a vida verdadeira.
6 Não percas a tua fé.
A crença é a grande conquista
De quem resgata no mundo
O abuso dos dons da vista.
7 Guarda a esperança em Jesus,
Na dor, não te desanimes…
A cegueira é o resultado
De muitos dos nossos crimes…
8 Nos tempos que já se foram,
Muitos de nós, meu irmão,
Fomos verdugos terríveis,
Plantando a desolação.
9 Os grandes desvios d’alma,
No erro amargo e mesquinho
São reparados na sombra
Que nos envolve o caminho.
10 A cegueira é uma estação
De corrigenda ou de cura,
Onde o espírito se aclara
Visando a estrada futura…
11 Portanto, as horas de sombra
No curso de uma existência
São nossa reintegração
No amor e na inteligência.
12 Meu amigo, continua
Alegre na fé, no amor
Quem não sente a Luz de Deus
É um cego mais sofredor.
13 Também fui cego do corpo,
Na senda de expiação,
Mas nunca guardei comigo
As trevas do coração.
14 Depois das sombras espessas
Nas lutas da humanidade,
Verás a alvorada eterna
Da luz da Imortalidade.
Casimiro Cunha
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