O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Colheita do bem — Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano (Neio Lúcio) e outros


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Quem nada faz nada tem a perder

29/08/1951


1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes muita paz e alegria no caminho purificador.

Meu caro Rômulo, acompanho-lhe, como sempre, as apreensões e as preocupações. Entendo-lhe as dificuldades e os percalços e rogo ao Senhor — o divino Dispensador da Vida — multiplique as suas forças na resistência construtiva e necessária. Penso que a sua mente vem assinalando as minhas opiniões e pareceres dentro do círculo de suas tarefas e obstáculos, através do “fio silencioso da sintonia espiritual”, entretanto, repito a você, em figurações de lápis, que a experiência no mundo para quem trabalha não pode ser diferente dessa em que você vive na atualidade, com as vigílias da alma, com o suor da fronte, com o movimento dos braços e com os anseios do coração. Aos Espíritos que repousam na ociosidade, semelhantes problemas se ocultam. Quem nada faz nada tem a perder. Quem não planta de certo viverá na “terra de ninguém”, consumindo alheio fruto. Mas quem procura algo criar nos setores do bem cedo é defrontado por toda a espécie de óbices e embaraços.

2 Enquanto o lavrador confiar a sua gleba a mercenárias mãos dormirá o sono da ignorância ou do esquecimento na esfera das obrigações que desposa, contudo, em se dirigindo pessoalmente ao trabalho em que lhe cabe agir e persistir, conhecerá, de certo, os fenômenos inquietantes do tempo, os desastres da erosão, a invasão das enchentes e o perigo dos vermes que lhe atacam as leiras promissoras. Assim também, meu filho, é a vida. Antigamente era assim. Hoje é a mesma luta. Os conflitos interiores de seu pensamento não constituem novidade.

3 De alguns milênios para cá sofremos e lutamos com as mesmas recapitulações, a fim de aprendermos que não existe tesouro mais precioso que a paz de uma consciência tranquila, não pela inércia de muitos, mas pela ação incessante no bem. Não julgue que as nossas aflições e anseios sejam problemas inabituais. Conhecemo-los de muito tempo. Muitas vezes já administramos tentando a construção de bens coletivos em escala maior. O trânsito, através das ordenações em casas representativas da lei, com deveres amplamente discriminados à nossa capacidade de realização, é familiar aos nossos espíritos desde muitos séculos. E creia que se estamos repetindo velhos tentames na ordem da prosperidade comum os homens de nosso tempo estão igualmente percorrendo de novo antigos caminhos que lhes pareciam definitivamente abandonados.

4 Não evitaremos o assédio de todos os matizes, desde que nos disponhamos a avançar no campo do aprimoramento ou da melhoria. A calúnia é uma serpente invisível na estrada de todos os servidores do bem, nas épocas variadas em que assinalamos a própria jornada, e com ela a treva, a maldade, a ingratidão e a má-fé se associam, invariáveis, buscando estabelecer o reinado da sombra entre as criaturas. Isso é natural. Estaríamos no Paraíso se as nossas boas intenções fossem amplamente reconhecidas e os nossos atos corretos plenamente vistos, sentidos e aprovados. Achamo-nos, realmente, na Terra — nossa escola multimilenária —, onde, muitas vezes, temos sido constrangidos a reaprender as mesmas lições. Assim me expresso para dar a você uma ideia de paz e serenidade no seio das lutas íntimas que vamos superando em esforço gradativo.

5 Não confira a muitos assuntos de nossa batalha mais que a atenção estritamente necessária. Poupe-se, tranquilize-se e sigamos trabalhando. Não convém acender muitas velas para sombras prováveis e, segundo sabemos, os maus são quase sempre as pedras colocadas em nosso caminho para aferirem a nossa capacidade de superação. Edifiquemo-nos dentro do santuário dos nossos deveres bem cumpridos. A Justiça Divina em nossa consciência é o órgão controlador de nossa felicidade. Fortificados pela opinião que o serviço feito nos impõe a favor de nós mesmos, não nos cabe recear quaisquer alterações e modificações suscetíveis de deslocar-nos o bom-ânimo no trabalho afeto à nossa responsabilidade.

6 Certamente, o homem que atende ao mapa das responsabilidades que lhe dizem respeito não pode movimentar-se com a insegurança e a lentidão de quantos se valem dos princípios legais para escorarem a própria ociosidade. Tal servidor, em muitas ocasiões, deverá extrair de oportunidades do futuro para benefício do presente sacando no amanhã para as exigências do hoje. E, por isso, não raro sofre os mil golpes diários de quantos se abandonam no relaxamento e na improdutividade, padecendo renunciações e sacrifícios que só ele próprio conhece na intimidade do coração, mas outro remédio não existe, por enquanto, no mundo em que evoluímos, porque a maioria prefere a expectação indefinida para confiar-se, depois, à crítica indébita com prejuízos gerais para a administração e para a subalternidade. Assim, pois, resignemo-nos e prossigamos para a frente.

7 Enquanto nos derem o ensejo de servir atendamos aos abençoados impositivos de nossa missão, ajudando indistintamente, e nesse capítulo, quanto nos seja possível, guardemos paz e confiança, porque a vida, na essência, é do Senhor, que não nos cerra as portas do trabalho e da elevação pela bênção do serviço a todos.

8 O que vemos hoje é o que víamos ontem. Nossas dores e inquietações no mundo são agora as que nos flagelavam anteriormente. Conformemo-nos, e guardando, acima de tudo, o nosso padrão de movimento pessoal nos deveres que o Céu nos indicou, saibamos evitar as “cristalizações mentais” de angústia, que geram desânimo, medo e sombras. Avancemos com a nossa paz por dentro.

9 A corrente d’água ininterrupta faz caminhos na rocha. Copiemos certas atitudes da natureza e não duvidemos da Divina Bondade. Em nosso caso particular, lembremos a velha fábula do lobo e do cordeiro. Quando o manancial tem a infelicidade de ser visitado por feras, o perigo é uma realidade para quem se aproxima sem malícia e sem prevenção. A hora, porém, se é de ação, é também de muita fé e calma.

10 Não permita que a tempestade penetre o aconchego de seu clima interior. Fora de casa pode haver chuva, granizo, gelo e vento forte, mas se acendemos a lareira no reino doméstico, tudo na intimidade é concórdia contra as intempéries. Em nosso coração, poderemos fazer, simbolicamente, o mesmo. A lareira da fé viva pode aquecer-nos se lhe sustentamos o calor com o lenho de nosso esforço e boa vontade. Assim me exprimindo, tenho um objetivo essencial: defender a sua saúde contra quaisquer fatores de anormalidade ou desintegração. Tanto quanto é possível tudo vai bem e só nos cabe, segundo a advertência do apóstolo, “regozijar-nos sempre”. ( † )

11 Maria, peço a você usar o remédio sem receio. Estamos colaborando em suas melhoras e através de nossas aplicações magnéticas confiamos na ação medicamentosa eficiente. Questão de alguns dias para que você esteja fortalecida e novamente bem disposta. Ao Rômulo, aconselho o Kalmia Latif. e o Chelidonium, em nome do nosso receitista, na viagem próxima, que espero lhe seja pródiga de boas realizações como sempre. O remédio para as coronárias tem produzido excelente efeito. Há venenos que são úteis, na dose e na oportunidade aconselháveis. Com satisfação observo a nossa sementeira com “Jesus no lar”, em renovadas bênçãos. Que o Mestre nos conceda a oportunidade sempre maior de mais fazer, na posição de pequenos e humildes servidores, em seu nome.

12 Os nossos amigos Mário Telles e Mário Carneiro, presentes, deixam-lhes carinhosa saudação, por meu intermédio. n Ambos se dirigem ao Rômulo com otimismo e afirmam que a luta áspera é o tributo que a Terra cobra, implacável, ao bom trabalhador.

A todos vocês os meus votos de muita saúde, paz e bom-ânimo no grande caminho em que se empenham no santificado labor do bem. E reunindo-os em meu abraço de muito afeto, carinho e reconhecimento sou o papai e vovô que não os esquece,


A. Joviano



[1] Nota da organizadora: Relembrando, Mário Telles foi diretor da Divisão de Fomento da Produção Animal do Ministério da Agricultura e Mário Carneiro, um grande amigo da família Joviano.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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