O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Colheita do bem — Mensagens familiares do Prof. Arthur Joviano (Neio Lúcio) e outros


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Uma viagem

19/03/1952


1 Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita saúde, paz e alegria no círculo de nossas lutas redentoras.

Aqui me encontro para a nossa caminhada para adiante. A beleza de uma viagem reside muito mais na companhia que na própria paisagem e dou-me por feliz em podendo marchar, dia a dia, junto de vocês na senda de todos os instantes, no espaço e no tempo em que estamos recolhendo as graças de Deus.

2 Acompanharei vocês amanhã, na viagem ao Rio. O acontecimento desenvolveu-se em tais circunstâncias que, efetivamente, não compete a abstenção. O jogo está lançado na arena de nossa boa luta e não devemos, e nem podemos, recuar. Os amigos são alicerces de nossas realizações e não nos cabe desprezar o valor do gesto que o interesse de um companheiro nos oferece. Prossigamos trabalhando e lutando pela vitória de nossa causa, sustentando os nossos propósitos com o sagrado ardor daqueles que, antigamente, alimentavam a pira do lar.

3 A volta ao Rio, no momento, é oportuna. Precisamos ainda uma vez tentar o que tão difícil nos tem sido — a renovação de uma ordem inesperada e menos justa. Acredito que nos compete bastante prudência, de modo a evitarmos qualquer conflito com os superiores do trabalho em que nos achamos, com a disposição, entretanto, de alertar os associados de ideal e de luta, quanto nos seja possível, para os sucessos projetados para a semana próxima. Também nós, meu caro Rômulo, temos aguardado a modificação ministerial com grande esperança e somente a instabilidade política do momento vem adiando essa providência nos bastidores mais elevados da administração. Ainda assim estamos esperando e prosseguiremos agindo.

4 Não permitamos que a confiança se nos reduza no coração. Os dias se sucedem ininterruptos e não devemos olvidar que as surpresas no tempo são as forças que alteram o mundo e as coisas em nome da Providência Divina. No Rio, com o auxílio do Alto, você poderá referir-se às nossas obrigações e expectativas da hora que passa advogando maior prazo de permanência na sua chefia, ou medidas outras concernentes à dignidade da sua posição funcional em serviço. Estou certo de que a nossa sementeira de opiniões e sugestões, ainda mesmo formada de reduzidas horas, produzirá muitíssimo em favor da concretização dos nossos desejos. Sigamos assim ao chamamento de amanhã, com serenidade e contentamento. 5 Ninguém pode penetrar o templo do nosso coração senão nós mesmos e aí não favoreçamos a criação de quaisquer atitudes negativas, quais sejam a tristeza, o desânimo, a amargura ou a desesperação. De qualquer maneira, descerremos as janelas do nosso santuário interior e ajudemos a penetração do sol, da fé viva e da calma, que, em nome do Senhor, nos procura cada instante com recursos e bênçãos sempre mais dilatados. Permaneçam vocês convictos de que não consideramos quaisquer sucessos menos favoráveis ao nosso ideal como término de nosso bom combate. As circunstâncias são fatores exclusivamente contra nós somente quando a nossa imaginação e o nosso sentimento se declaram em falência e, com a graça do Senhor, o nosso coração vibra pela continuidade de nossas tarefas e não esmoreceremos no campo de nossas edificações.

6 Não são as tempestades que provocam o desequilíbrio nos viajantes do mar e sim a incerteza da chegada ao porto firme, e se não podemos considerar uma ou outra batalha vencida ou perdida como elementos decisivos numa guerra de longa duração os acontecimentos não podem, de modo algum, alterar a nossa disposição de persistir na luta edificante até o fim das nossas possibilidades de resistência, no triunfo sólido da guerra purificadora de nossos destinos.

7 Com você, meu filho, tenho conversado vastíssimo tempo, de coração a coração, estudando em sua companhia as minudências do plano que vai sendo posto em prática no “outro lado” de nossa situação. Observamos em seus perseguidores gratuitos o secreto desejo de inibir-lhe as manifestações do espírito criador na esfera da direção pública. Alguns deles desejariam cercear-lhe todos os recursos de improvisação e serviço no setor de luta que você escolheu para cumprir o seu mandato de servidor do bem na atualidade, mas com a serenidade e a tolerância digna venceremos.

8 Penso que tudo devemos fazer para sustentar sempre uma porta aberta para o prosseguimento do seu trabalho, na hipótese de conseguirem realizar provisoriamente o que projetam, porta essa que uma aposentadoria em definitivo cerraria naturalmente ao nosso esforço. Quanto nos seja possível, suportemos o clima asfixiante da prova. Vale mais a paciência que a violência e a precipitação na retirada menos refletida poderia arrojar-nos a um campo de compulsória desistência. Aceitemos o cálice, se for da vontade do Alto. Que ele alcance os nossos lábios, mas prossigamos diligenciando a recuperação de nossa paz. Não abramos qualquer orifício de nosso barco ao desalento. Mantenhamos firme e robusta a nossa fé na vitória justa do bem.

9 Espero seguir-lhe os passos e os pensamentos amanhã com a intensidade e a devoção de sempre. Há na palavra do Cristo um ensinamento que realmente não podemos esquecer em nossas dificuldades no campo humano. É aquele que nos recomenda o Mestre “sejamos tão gentis quanto as pombas, mas tão prudentes como as serpentes”. ( † ) Reparemos que o Senhor não disse “víboras” e sim “serpentes”, porquanto entre essas últimas há exemplares de energia digna, sem veneno e sem peçonha, mas com elevada experiência na própria defesa em plena floresta, em cujo seio desempenham tarefa específica.

10 Há “lobos reconhecidos” em nosso ministério, cuja presença, segundo creio, será lícito evitar, e por isso reporto-me ao imperativo da prudência em nossos entendimentos próximos. Detenhamo-nos nas palavras “tempo”, “defesa”, “serviço” e “sentimento”. Para lá do nosso idealismo há um “mundo metálico” sob cujos pórticos devemos passar conduzindo uma bolsa tentadora ou o coração. Como não é de nosso propósito realizar a passagem com um tesouro que não possuímos e, graças a Deus, não desejaríamos reter, efetuamos a travessia das mencionadas fronteiras elevando bem alto o estandarte do nosso sentir. Não nos enfraqueçamos. O Senhor nos ajudará.

11 Tenho meditado igualmente nos propósitos de Roberto e Wanda, e rogo a Deus para que a realidade corresponda ao idealismo de meus netos queridos. Sou de parecer que o Roberto deve ainda, com assistência médica, consolidar as melhoras do campo orgânico. Está bem, mas não totalmente. Faltam-lhe reservas para qualquer eventualidade. Permitindo os nossos maiores que ele efetue os seus planos profissionais muito feliz me sentirei. No fundo, a edificação conjugal fala sem palavras em seu espírito juvenil e peço a Deus o ampare na concretização de todos os seus elevados desejos na experiência atual.

12 Quanto à Wanda, reconheço que o seu título novo, merecido em concurso, pode e deve servir-lhe na materialização de seus projetos. O ingresso num Ministério como o do Exterior, com o aproveitamento dos seus recursos linguísticos, é tentame louvável. Quando a iniciativa não seja para o “agora”, pode ser planejada e alicerçada hoje para o amanhã, que sempre nos guarda novos e mais altos valores diante da Vida Superior. Sustentemos nos dias que passam a nossa confiança e a nossa paz como recurso fundamental e aguardemos a manifestação da Divina Vontade.

13 No Rio, venho trabalhando pela saúde dos nossos. Suas intuições, meu caro Rômulo, são o fruto de nossas conversações imanifestas. Peçamos ao Senhor nos fortaleça e sigamos no rumo do amanhã. Guarde a certeza de que estamos todos ao seu lado, alimentando-lhe as mais íntimas fontes de energia. Há passagens estreitas para os grandes rios cujas águas parecem perder-se em escuras e profundas gargantas de abismo, entretanto, há sempre leito vasto dentro da natureza para que as águas se espraiem purificadas e calmas. Confiemos ainda e trabalhemos sempre.

14 Reunindo vocês em meu grande abraço para viajarmos juntos, dentro de algumas horas, sou o papai amigo e afetuoso, sempre com vocês, com todo o coração,


A. Joviano


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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