O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Correio do Além — Familiares diversos


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Pedro Luiz Galves

Dados Biográficos

Pedro Luiz Galves nasceu em São Paulo no dia 17 de maio de 1957, primeiro filho de Anastácia Guglielme Galves e Pedro Miguel Galves.

Jovem alegre, tinha muitos amigos e gostava de esportes. Trabalhava no Departamento de Serviços Viários de São Paulo como estagiário de engenharia de tráfego e cursava o 3.º ano da Faculdade de Engenharia São Judas quando adoeceu, vindo a desencarnar no dia 17 de agosto de 1981.

A mensagem que enviou a seus familiares, um ano após sua morte, foi portadora de conforto e esperança e um marco decisivo em suas vidas. De formação católica, Dona Cecina (tratamento recebido por dona Anastácia de seus amigos) já frequentara reuniões espíritas na casa de sua cunhada Dona Carminha Latorre; porém, necessitava de alguma prova que trouxesse confiança a seu coração. Eis o depoimento de sua experiência:


DEPOIMENTO


“Será que existe mesmo outro mundo? Queria uma prova de que só eu soubesse, para que pudesse acreditar que um dia voltarei a vê-lo. Queria ir a Uberaba, ver Chico, quando da data de um ano da morte de meu filho. Nunca comentei nada com ninguém, mas no fundo vivia sofrendo pela dúvida.

Assim, fui até lá e tive o testemunho de que necessitava. Emoção como a que senti nessa madrugada, só quando meus filhos nasceram. A mensagem foi muito completa e tocou a todos os presentes, pois choraram. Hoje vivo feliz pois criamos novo ânimo de viver: estamos mais equilibrados. Quando leio a mensagem é como se estivesse conversando com ele. Tenho a certeza e esperança de que vamos nos encontrar algum dia. Reencarnação e comunicação entre Espíritos e homens são agora uma realidade para nós.”


Anastácia Galves


MENSAGEM


1 Querido papai Pedro e querida mamãe, ainda estou um tanto frágil neste recomeço de Vida Espiritual, mas é preciso arriscar a escrever-lhes. A tia Carminha n animou-me e estou pronto a trazer-lhes o coração.

2 Agradeço as flores de reconforto que me doaram, com tanto carinho, na terça-feira última, quando a folhinha trouxe o dezessete.

3 Para expressar-me com sinceridade, papai, eu nunca imaginei que me fosse permitido endereçar-lhes as minhas notícias, depois da grande mudança que atravessei. Impossível cogitar disso quando me via no amanhecer da existência, estudava, sonhava, namorava e vivia… Como prender o pensamento ao que me parecia remoto ou inútil?

4 Enquanto criança, adorava as palavras da mamãe acerca de Deus. Lembro-me do respeito que ela sabia situar em meu coração e em nosso Luiz Alberto n para nos dedicarmos a Jesus. Depois, foi a vida, a escola, o colégio, os amigos…

5 Não me recordo de haver tocado em assuntos de vida espiritual com ninguém, a não ser (nessa matéria), a conversar, com o respeito que em casa aprendia a tratar as pessoas, fossem elas quem fossem. 6 Com tudo isso, a doença veio, assim, à maneira de uma dor pequenina que a gente afasta com o milagre dos comprimidos. Em seguida, surgiram os sintomas desagradáveis. Logo após vieram os médicos e os exames. Aquilo tudo parecia não ter fim. Remédios e mais remédios para um rapaz que vendia saúde.

7 Às vezes sentia-me acanhado de confessar-me doente. Não estimava os gestos de simpatia demasiada para comigo e admitia que andavam exagerando…

8 Mas a querida mamãe passou a conhecer comigo aquele noite-a-noite, com os tranquilizantes que não nos tranquilizavam. Perdi peso, perdi o contato com a satisfação nos passeios comuns, estranhava os amigos e via nos olhos deles o espanto que lhes causava…

9 Notava o Luiz preocupado comigo. Por quê? Estava bem, quando ignorava que estava bem mal com a saúde em processo de agastamento. O quarto era agora a minha residência na residência, o leito o meu ponto fixo.

10 Passei a observar o meu estado em seus olhos, papai, e alarmei-me. Perguntava e ninguém sabia o que me acontecia, até que me rendi. Era impossível suportar tantas picadas de injeções e aceitar o tormento dos exames que me seguiam…

11 Chegou aquele agosto difícil… Já não conseguia respirar como antes. Cansava-me até mesmo no fato de articular uma palavra. Devia estar pálido, terrivelmente abatido, porque junto de mim, queria apenas os mais íntimos. Mamãe, na figura da paciência, era o anjo e a enfermeira. Até que o domingo apareceu. Era um domingo repleto de expectação, todos falavam em voz baixa. E eu lutava com todas as minhas forças para respirar sem sacrifício. A noite passou ou ficou, não sei bem…

12 Parece-me que foi nessa noite de domingo que escurecia a segunda-feira que vi a tia Nena n vagamente perto de mim… Quis conversar com ela, falar ao tio Chico n e as forças não davam para isso. Penso que eu devia estar morto, conforme o que se pensa da morte…

13 Observei sem parecer que observava que a mamãe se afastava com a tia Nena para outro quarto, mas os meus olhos estavam diferentes.   14 Não mais vi paredes, nem objetos. Minha visão se ampliava e no corpo a desmontar-se ou fora dele, vi-me ao lado da mamãe e da tia Nena, com o senhor mesmo e com o tio fazendo uma oração, em que meu nome era pronunciado…

14 Voltei-me para a retaguarda e vi a tia Carminha sentada a me sorrir… Tia Carminha? A lucidez não me abandonara. Tia Carminha não era mais nossa. Partira para Deus.

15 Outra senhora, semelhante a ela mesma, se aproximou de mim… Tremia. Ignorava em que situação me encontrava e tentei recuar sem meios de fazer isso. 16 Foi a tia Carminha quem se ergueu e veio a mim, dizendo: “Pedrinho, você com medo? Por quê? Não nos conhece mais?” 17 Aquele olhar dela me envolveu e cai nos braços com que a tia me esperava… Então, compreendi tudo e chorei muito…

18 Então era preciso morrer quando mais vivia? Era necessário afastar-me da família para avançar no desconhecido quando estudara tanto para adquirir as qualidades com que pudesse servir com mais segurança? Por que deixar meus pais e meu irmão quando os amava tanto? Quisera tanto encontrar o tempo de fazer a minha própria casa e cultivar as alegrias de um pai feliz de filhos felizes!

19 Tia Carminha colocou-me em seu colo, depois de sentar-se novamente e me disse: “Pedro, nada mudou. Estaremos juntos, também sou mamãe pelo coração e Deus nos protegerá…”

20 Aqueles meus soluços e indagações me haviam fatigado e aceitando a bondade da tia dormi e fui transportado para o lugar repleto de alegrias e saudades de onde regresso para dizer-lhes que estou bem, conquanto sob a vagarosa transfiguração a que nos vemos compelidos por aqui.

21 Papai, perdoe-me se lhes conto o que sucedeu. Creia que lhes digo a verdade. A morte é uma transformação de vida externa. Sei que é assim porque o coração de seu filho é seu e sempre o mesmo.

22 Agora já conheço outras pessoas queridas. A vovó Dolores, n que se parece com a tia Carminha como se fossem irmãs gêmeas, a vovó Ana n e outras afeições.

23 Não posso escrever muito mais. Estou com as lágrimas de alegria e de sofrimento ao recordar tudo, tão completamente tudo, como foi em meu primeiro dia.

24 Pai amigo, agradeço por tudo. Mãe querida, sou e serei sempre seu filho. Querido Luiz Alberto, não o esquecerei. Lembre-me vivo. Não me recordem na feição com que me deslanchei do corpo doente que eu não suportava mais. Saibam que os amo. Isso para mim é tudo. Não tenho ideias outras senão estas, informá-los de que continuo vivendo e que tudo farei para lhes ser útil.

25 Lembranças e lembranças a todos. Aos pais queridos, todo o carinho encharcado de saudade do filho que lhes agradece e pede a Jesus recompensá-los pela vida feliz que me deram e pela esperança que ainda hoje me acendem no coração.

26 Sempre o filho e companheiro, sempre grato,


Pedro Luiz Galves

20 de agosto de 1982.


NOTAS


1 — Carmen Galves Latorre — tia paterna, desencarnada — vide cap. 3.

2 — Luiz Alberto — irmão.

3 — Encarnação Blasques Galves — tia.

4 — Francisco Galves — tio paterno.

5 — Dolores Sanches Galves — avó paterna, falecida a 19 de setembro de 1942.

6 — Ana Guglielme — avó materna.


Beatriz L. P. Galves


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