Filhos de Vera e Argeu Gonçalves Andrade, Marco Antônio nasceu no dia 31 de janeiro de 1969 e seu irmão Ademar Argeu, no dia 6 de junho de 1972.
Ambos eram muito estimados em Itaúna, Minas Gerais e Ademar Argeu, ou melhor, Dedê, destacou-se como o mais novo craque do futebol da cidade, sendo por isto considerado menino símbolo de sua terra natal no Ano Internacional da Criança.
A 25 de junho de 1981 viajavam em companhia de Dona Luzia e seus filhos, Leonardo e Cristiane, quando um violento choque do veículo contra um caminhão levou-os deste Plano de vida.
DEPOIMENTO
“Após o acidente em que nossos filhos se foram, recebemos diversas manifestações de pesar e solidariedade. Ninguém pôde nos consolar ou amenizar um pouco o enorme desalento…
Foi quando nos veio a lembrança de recorrermos a Chico Xavier. A primeira comunicação psicográfica de nossos filhos fez renascer em nós a vontade de viver. Quanto à veracidade das mensagens recebidas, é o mesmo que tentar comprovar o óbvio.
Nossos filhos estudavam e pela manhã eram despertados por um velho relógio; depois do acidente, ele parou de vez, nada o fazia funcionar.
Logo depois que recebemos a primeira mensagem de Marquinho, ao chegar em casa, de frente para o velho relógio parado, tentei uma comunicação através do pensamento com eles; pedi para que, se realmente vivos, fizessem o relógio funcionar.
Até hoje ele assinala nossas horas sem nenhuma interrupção. Tenho certeza de que, através daquele velho relógio, nossos filhos confirmaram, mais uma vez, que a vida continua.”
Argeu Gonçalves Andrade
1 Querido papai Argeu, querida mamãe Vera e querida vovó Maria. n Peço para que me abençoem.
2 O vovô Ademar n determinou que eu viesse, buscando tranquilizá-los. Ele mesmo auxilia minha mão a escrever para que não me perca em tempo vazio.
3 Papai querido, o que aconteceu, de modo tão estranho para nós todos numa hora de festa, veio das Leis de Deus que precisamos respeitar. 4 Creiam que eu estava cantando, quando o choque na cabeça me fez parar, até mesmo por dentro de mim. No íntimo, pensava no Dedê n e no Léo, n procurando na ideia aflita algum meio de auxiliá-los.
5 Escutei as vozes e os gritos em torno de nós e acredito haver registrado a voz do Dedê entre as muitas que me atingiram no momento difícil. 6 Aquele desmaio que me absorveu foi inevitável. 7 Um sono terrível, uma espécie de morte que afinal reconheci que era o sono da morte mesma.
8 Acordei, não sei quando, porque ignoro a quantidade das horas que passaram entre o choque e o meu despertar e supunha que me situava em nossa casa de Itaúna, quando uma senhora muito simpática me tomou nos braços sorrindo e me recomendou que a chamasse por vovó Maria Lina. n
9 Soube, então, por ela que eu e o Dedê, com o Leonardo, a Cristiane n e a Dona Luzia n e ainda com o amigo de nome Eli, n estávamos todos numa vida diferente em que Deus nos concederia outras oportunidades de estudar e viver, trabalhar e servir.
10 Imaginem o que chorei quando vim a saber de tudo, que um acidente nos mudara a família e a vida. 11 Querido papai, as minhas lágrimas são iguais às que o senhor e a mamãe Vera, com a vovó Maria têm derramado por nós. Creio, no entanto, que Deus nos auxiliará e, embora inexperiente como sou, ainda peço aos três nos ajudarem com a paciência e a confiança em Jesus que nos cabe mostrar nestas horas difíceis.
12 Querido papai Argeu, sei que o senhor acredita que Deus nos chamou a mim e ao Dedê porque não devíamos ficar em nossa casa, mas rogo ao seu carinho não fazer esse juízo. Vejo que as suas ideias, por vezes, se concentram em lembranças de nossos entendimentos em família e noto que a sua bondade chega a admitir que o senhor e a mamãe Vera foram severos para nós, especialmente a mãezinha Vera sempre dedicada a nossa tranquilidade e ao nosso bem.
13 Graças a Deus tivemos em mamãe um Anjo da Guarda que nos livrou de muitos desequilíbrios e tivemos em sua presença de pai o amigo de todas as horas, sempre disposto a nos garantir em tudo aquilo de que necessitássemos para estar sossegados em nossos estudos. 14 Mamãe Vera sempre nos amou tanto que não sei em quanto poderíamos avaliar a sua maternal dedicação em meu auxílio e em auxílio do nosso Ademarzinho; o que sucede, papai, é que a Lei de Deus nos emprestara tempo muito estreito para demorar-nos aí em casa com os pais queridos que o Céu nos deu.
15 A nossa amiga de sempre, Dona Luzia, nos alegrara com uma linda reunião iluminada de alegria no sítio, mas o que a Lei de Deus determinara devia se cumprir.
16 O vovô Ademar n nos explica tudo isso e confia em que o senhor, a mãezinha Vera e a vovó estarão constantes na fé, sem esmorecer. Estaremos juntos de outro modo.
17 Ainda não encontrei o amigo Eli, mas se encontrarem alguém dele, façam a nossa alegria, auxiliando aos familiares dele que ficaram… 18 Ninguém teve culpa em tudo aquilo. O caminhão e o carro repleto se bateram reciprocamente e não sei o que restou. Nesse ponto, o vovô Ademar informa que a nossa família em Itaúna sabe mais do que nós.
19 Papai, o seu coração me perdoará se lhe transmito um pedido do vovô Ademar. Ele diz que ficará muito feliz no momento em que puder vê-lo com vovó Maria e com mãezinha Vera num abraço com o tio Murilo. n Diz meu avô que isso é um desejo de velho que ama a todos os seus entes queridos. Tudo será quando Deus permitir.
20 Querida mãezinha, agradeceremos sempre, o Dedê e eu, os seus conselhos de mãe e agradecemos ao papai e à vovó Maria por tudo de bom que sempre nos deram. O Ademarzinho, o Léo e a Cristiane, com a nossa Dona Luzia, estão todos reunidos comigo ou eu com eles, num Lar de muito reconforto e confiança em Deus.
21 Vovó Maria, seu neto lhe tem muito amor e pede a Deus para que o seu carinho esteja sempre abençoando e protegendo os meus queridos Pais.
22 E aqui vou terminar. Recebam, a querida vovó, a querida mãezinha Vera e o querido papai Argeu muitos beijos do neto e filho reconhecido com muitas saudades, mas com a certeza de que Jesus nos fará sempre fortes e sempre felizes.
Marco Antônio
22 de agosto de 1981.
Quase um ano após esta data, no dia 3 de julho de 1982, foi a vez de Dedê manifestar-se.
1 Querido papai Argeu e querida mãezinha Vera. O Marquinho n e eu lhes pedimos para que nos abençoem. 25 de junho! 365 dias de saudades, mas também de fé renovadora.
2 A nossa irmã e orientadora D. Luzia n nos trouxe para informá-los, extensivamente à vovó Maria n e a todos os nossos, que estamos na escola aprendendo com proveito. O Marquinho, a Cristiane n e o Leonardo n comigo somos parte da turma de estudantes com excelentes companhias.
3 Pai, rogamos ao senhor esquecer o caminhão daquela hora. O irmão Eli n está sob amparo de Benfeitores que não conhecemos. E nós estamos em casa com o vovô Ademar, n embora do ponto de vista de colégio estejamos sob a direção de D. Luzia.
4 Temos estado um tanto apreensivos com os seus estados de depressão. Papai, o senhor e a mamãe Vera sabem que os amamos, assim com esse cuidado de não vê-los em sofrimento? Não queremos tê-lo acabrunhado como se fosse um companheiro vencido.
5 E os meninos de Itaúna, que estão esperando por nós? Se temos boa vontade para carregar os livros e suportar as disciplinas das carteiras aqui é porque temos a esperança de ver os Pais queridos associados na proteção às crianças desvalidas.
6 Às vezes o senhor fica pensando que estaríamos ainda aí se não tivéssemos carro à nossa disposição, mas isto é uma ideia que não deve persistir em nossa cabeça. 7 Os chamamentos de Deus são convites da verdade e do amor. 8 É possível que se não tivéssemos automóvel para o passeio até a chácara, muito dificilmente haveríamos de alimentar qualquer ideia de servir aos pequeninos desprotegidos e tristes.
9 O carro foi o meio de que Jesus se utilizou para trazer-nos à Vida Espiritual e a nossa volta para a casa do vovô Ademar teve um monte de vantagens, porque o senhor e mamãe começaram a refletir nos doentes, nos sofredores, nos desamparados e nos irmãos de nossa idade, minha e do Marco, que nada possuem para aguardar a refeição de amanhã.
10 Papai, o senhor não fique aborrecido com o seu Dedê se eu lhe pedir uma nova bênção? Se estivéssemos aí, o senhor suporia que me dispunha a esperar por mesada maior, mas agora os nossos pedidos são diferentes. Aqui tem tanta gente, mas só gente boa que pode ouvir um filho dialogando com o pai que ama tanto. Se puder atender-me, querido papai Argeu, perdoe-me, mas não procure esquecimento no conteúdo de frascos que não são de remédios.
11 Não quero falar nome de rótulos que vemos por aí, às vezes, quase anunciando perigo e doença, conquanto não falem isso. O senhor compreenderá seu filho.
12 O senhor um dia falou para mim e para o Marco que não devíamos fumar e não beber outro líquido que não fosse água pura. Lembro-me do conselho e creia que seguiríamos todas as suas instruções, se aí estivéssemos. Já sei que o senhor me desculpa e isso me consola.
13 Quero vê-lo feliz com a mãezinha Vera, com a vovó Maria e com todos os nossos.
14 Querido papai Argeu, se eu estiver incomodando ao senhor, esqueça o que eu disse, porque eu confio no senhor tanto quanto confiamos aqui em Deus. Agora, o Marquinho e o nosso pessoal lhes enviam muitas lembranças.
15 E eu vou terminar, com o auxílio do vovô Ademar, reunindo o querido papai Argeu e a querida mãezinha Vera em meu coração. Muito amor e gratidão do seu filho de sempre.
Dedê
Ademar Argeu
16 Nota: Enviamos muitos beijos para os nossos irmãos gêmeos pequeninos Marco Ademar e Vera Lúcia n que não tivemos tempo de conhecer aí.
Sempre carinhosamente,
Dedê
03 de julho de 1982.
NOTAS
1 — Vovó Maria — avó encarnada.
2 — Ademar Gonçalves de Souza — avô, desencarnado a 03 de maio de 1980.
3 — Ademar Argeu Andrade — (Dedê) irmão de 9 anos, falecido no mesmo acidente.
4 — Leonardo — (Léo) 9 anos, filho de Dª Luzia, falecido no mesmo acidente.
5 — Dª Maria Lina — bisavó dos meninos, desencarnada em 12 de outubro de 1975.
6 — Cristiane — 14 anos, filha de Dª Luzia, falecida no acidente.
7 — Dª Luzia — condutora do veículo acidentado.
8 — Eli — motorista do caminhão.
9 — Murilo — tio dos meninos, filho de Ademar Gonçalves de Souza.
10 — Marquinho — irmão de 12 anos, falecido no mesmo acidente.
11 — Ademar Gonçalves de Souza — avô desencarnado a 03 de maio de 1980.
12 — Marco Ademar e Vera Lúcia — casal de gêmeos nascido depois do acidente.
Ademar Argeu é o dono da bola.
Sabe usá-la como precisa, isto desde os primeiros passos.
Entendem-se: Ele e a bola. São amigos inseparáveis.
De brincar em brincar, virou craque. O mais novo craque da cidade.
São íntimos. Ele e a Bola.
Que seja portanto o nosso símbolo neste Ano Internacional da Criança.
Que ele seja imitado, praticando esportes… pois talvez pelo esporte será possível encaminhar os nossos garotos de hoje para os dias sombrios de amanhã.
Ademar Argeu é filho do Sr. Argeu Gonçalves Andrade e Dª Vera.
“Folha do Oeste” — Jornal de Itaúna.
Beatriz L. P. Galves