1 Disse-me o Orgulho torvo, certo dia: —
— “Além da morte, tudo é sombra e nada…”
E a Ciência ajuntou, desalentada:
— “A sepultura é cinza espessa e fria”.
2 E eu, cansado romeiro da agonia,
Busquei o pouso da Divina Fada,
Sonhando, em pranto, a paz inalterada
Para o inferno de angústia que eu trazia.
3 Mas, ante as portas do seu templo escuro,
Quando bradei: — “Ó Morte que eu procuro,
Dá-me o olvido em teus braços maternais!…”
4 Escancarou-se o abismo miserando
E encontrei, desditoso, soluçando,
Escuridão, remorso e nada mais.
Antero de Quental
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