1 Às vezes, dizes, coração amigo:
— “Como guardar-me em paz, na agitação do mundo?
Tanto fel ao redor!… Tanta gente em perigo!…
Tantas tribulações sem que se saiba, a fundo,
De que modo evitar a invasão desmedida
Das nuvens de aflição que atormentam a vida!…”
2 E contigo outras almas no caminho
Padecem sob o impacto violento
Das lâminas brutais do sofrimento
Que lhes ferem o ser, desolado e sozinho…
3 Aqui, alguém lastima um coração querido
Que ficou para trás, exânime e caído
Em trágicos enganos;
Ali tombam, a golpes desumanos
Dos chamados engenhos do progresso,
Existências repletas de esperança,
Ante as brechas de sombra em que a morte se lança
Entre o ouro e o sucesso…
4 Dos recursos plebeus aos valores mais altos,
Sobram as provações que chegam, de imprevisto,
No clamoroso misto
De sequestros e assaltos.
5 Nos lares em geral, sob múltiplos níveis,
As desvinculações de pessoas amadas
São lesões e feridas desatadas
Para as almas sensíveis.
6 Assemelha-se a Terra à nave firme e atenta,
Sob rude tormenta.
7 Entretanto, alma boa,
Em plena luta que te aperfeiçoa,
Podes deter a paz contigo, estrada afora,
Prendendo-te ao dever que em tudo nos melhora.
8 Todo trabalho são é lúcido recanto
Que se nos faz refúgio aprazível e santo.
9 Um lar para servir,
Um filho a proteger,
A nobre preleção enviada ao porvir,
A página a escrever,
Um doente a zelar,
O trecho musical que se tem a compor,
O campo a cultivar
E o serviço do bem que é mensagem de amor…
10 Tudo isso, na terra, é cobertura,
Sustentando o equilíbrio da criatura.
Se buscas, em verdade, a paz, no dia a dia,
Coloca a tua fonte de alegria
E todos os impulsos que são teus
No trabalho que o mundo te confia
Porque o trabalho é sempre uma Bênção de Deus.
Maria Dolores
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