Desde 15 de maio de 1982, quase quatro anos após sua desencarnação, o jovem Ivinho vem mantendo interessante correspondência epistolar com a progenitora, D. Neide, residente em Belo Horizonte, MG, através da psicografia de Chico Xavier.
Essas cartas mediúnicas, já publicadas no Capítulo 4 do livro Retornaram Contando (Espíritos Diversos, Francisco C. Xavier, Hércio M.C. Arantes, Ed. IDE, 1ª edição em 1984), retratam sua grande luta interior em busca de uma adaptação no Mundo Maior, luta essa melhor definida na sexta carta, quando ele expôs — após o preâmbulo: “Mas hoje, mamãe Neide, quero falar-lhe à vontade, sem a pretensão de me esconder.” — seus profundos anseios, quase caracterizando uma fixação mental, de namorar, contrair matrimônio e criar filhos…
Mais recentemente, na noite de lançamento do citado livro, de sua co-autoria, com a presença de D. Neide, Ivinho escreveu nova carta, com novas confidências, mostrando-se mais feliz e equilibrado emocionalmente, ao encontrar a tão almejada solução para o seu aflitivo problema, como veremos a seguir:
1 Querida mãezinha Neide, n abençoe o seu filho melhorado.
2 Não podia faltar ao nosso encontro. Venho agradecer em nome do Bernardo n e em meu nome, as preces que você e a vovó Ciaozita n fizeram em nosso benefício.
3 Aquelas vibrações de amor materno com que nos envolveram, carreando palavras que valeram por abençoado ensino para nós, chegaram a tempo. Começamos a repensar sobre a nossa situação.
4 Alguns que me leram as notícias, chegaram a refletir sem articular as expressões com que nos apreciavam: — O Ivinho e o Bernardo estão em aperto no outro mundo. E sorriram, criando impressões superficiais sobre o assunto que debati.
5 Mãezinha Neide, muito grato, porque você me compreendeu e não encontrou motivos para reprovar-nos. Muito pelo contrário, o seu coração passou a palpitar muito mais entranhadamente com o meu, compadecendo-se de nós. 6 Você nos sentiu tal qual nos achávamos, na condição de rapazes inexperientes, desencarnados de improviso, num acidente que, afinal, foi um desastre como tantos.
7 Entretanto, Bernardo e eu, embora protegidos com segurança, e claramente doutrinados pela vovó Celeste n e pelo vovô Mário Barros, n carregávamos conosco o que atualmente se chama na Terra: “o problema da libido.” n
8 Somos jovens e não vimos nada demais em descrever-lhe o tumulto de nossas emoções. Pensávamos em casamento, namoro, noivado, satisfação pessoal e em outras questões satélites, e fomos sinceros ao contar-lhe as necessidades que tínhamos experimentado.
9 Eu, pelo menos, não achei absurdo confidenciar à minha querida mãe quanto se passava. Não existe para mim outra pessoa mais habilitada a entender-nos e dirigir-nos pelo melhor caminho. Ainda, assim, os poucos que me leram as páginas, de filho confidente, se mostraram perplexos.
10 Eu não sei o que acontece a dois moços, quase meninos ainda, que viajassem de inesperado, de alguma cidade brasileira para algum centro da Europa. Será que chegariam lá, sem qualquer impulso afetivo? Atingiriam o alvo de chegada sem pensar na companhia de alguma mulher amiga que lhes fizesse companhia e lhes entretivesse os pensamentos sombrios, decerto saudosos da moradia distante?
11 Eu não acredito que jovens dessa natureza saíssem homens do Brasil e alcançariam a Europa na condição de santos. 12 O amor é sublimação, mas é também companheirismo e compreensão.
13 Falei com sinceridade de nossos impulsos frustrados e até o papai Adalberto achou aquilo esquisito, mas é porque o leitor de uma carta não se coloca no lugar de quem a escreveu e nem mentaliza o ambiente diverso em que essa criatura se encontra.
14 Muitos jovens dão notícias mas não tocam no assunto, condicionados que se acham nos receios pueris de se analisarem e de se mostrarem como são. 15 Não creio haja feito mal rompendo a barreira do respeito necessário que o assunto requer, mesmo porque não empreguei qualquer recurso pornográfico para tratar de meu ideal de encontrar namoro e casamento no mundo diferente em que estou, 16 mesmo porque, no que me consta, se cumpriram no acidente as Leis de Deus, mas pessoalmente não me lembro de haver pedido para ser despojado de meu corpo, sem possibilidade de estudar as meninas de nosso relacionamento para escolher uma que me atendesse as esperanças.
17 Fui franco ao contar-lhe que, a princípio, rixei com a vovó Celeste, declarando que eu queria casar e não ser arrancado à vida terrestre. 18 Vovó Celeste guarda a ternura e o entendimento que encontro em seu carinho maternal, mas, mesmo assim, procuro explicar o meu caso à sua bondade.
19 Se outros não assimilaram o que eu disse, que esperem largar o corpo para saber melhor, mas me conforta pensar que encontrei eco em sua generosidade, as suas orações nos auxiliaram.
20 Uma turma de jovens desencarnados nos procurou e nos disseram das vantagens de um grande esporte que excede a eficácia dos remos para a exaustão de forças criativas acumuladas: o esporte do serviço aos semelhantes, o esporte da caridade para a qual as suas preces e as preces da vovó Ciaozita nos encaminharam.
21 E a verdade é que o Bernardo e eu alcançamos melhoras positivas. Estamos reanimados. 22 E olhe, Mãezinha Neide, que a caridade é muito difícil de ser praticada. A gente derrama largas doses de amor para atingir corações e aliviar pessoas.
23 Estamos agindo e melhorando. O vovô Mário nos incentiva e vamos encontrando novos caminhos. 24 Já possuo vários casos de grande beleza em que conseguimos extinguir os propósitos de aborto em muitas mãezinhas portadoras de excelente saúde; 25 já recolhemos o sorriso de muitas crianças que sorriem para nós depois de recém-nascidos, sem que os pais saibam que elas, embora semi-conscientes, estão entremostrando alegria de haver renascido; 26 temos visitado muitas enfermarias de companheiros chamados indigentes, que preferem sofrer a deixar o corpo desfigurado e a caminho do repouso final; 27 em muitas ocasiões temos promovido alimento para viajantes extenuados…
28 Mas não estamos prosando com palavras vagas. Estamos dando as nossas melhores notícias. 29 Com a beneficência em ação, quase que já me esqueci de mim mesmo, porque nesse serviço, a criatura assistida fica sempre com um pouco de nossos sentimentos e nós passamos a carregar sentimentos dessa mesma criatura, na qualidade de cooperadores da assistência.
30 Creio que essas notícias alegrar-lhe-ão a alma querida dedicada ao bem de nós todos. Maria Ângela e Júnior n observarão que a mudança benéfica nos atingiu e que estamos sob novos padrões de vivência espiritual. 31 Meu pai certamente se fará mais contente, imaginando que houve uma transfiguração muito grande em nossos Espíritos. E Bernardo e eu lhe transmitimos o agradecimento, inclusive à vovó Ciaozita, pelo benefício das preces e das exortações que nos enviaram em silêncio.
32 Mãe querida, para o seu coração os melhores pensamentos, agora emoldurados de alegria e de paz. Muitas lembranças a todos os nossos corações queridos e perdoe se voltei aos mesmos assuntos de afetividade, agora não frustrada, mas remediada sem necessidade de nos doparmos em anestésicos.
33 Querida mãezinha Neide, conte à vovó quanto lhe somos agradecidos e receba muitos beijos de seu filho que deseja recuperar a limpeza de coração com a qual saiu de seus braços, em nome de Deus.
34 Com muito carinho e muito amor de seu filho e companheiro de sempre,
Ivinho n
NOTAS E IDENTIFICAÇÕES
1 — Carta recebida pelo médium Francisco C. Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, Uberaba, a 13/10/1984.
2 — Mãezinha Neide — D. Neide de Barros Correia Menezes, esposa do Sr. Adalberto Guimarães Menezes, residentes em Belo Horizonte, MG, à Rua Herculano de Freitas, 1179/201, Gutierrez.
3 — Bernardo — Bernardo Vieira Maciel, desencarnado a 26/1 1 /1978, no local do mesmo acidente automobilístico que vitimou Ivinho, seu amigo.
4 — Vovó Ciaozita — Ciaozita Rabelo, avó materna.
5 — Vovó Celeste — Maria Celeste de Barros Correia, bisavó, desencarnada em 1955.
6 — Vovô Mário Barros — Avô materno, desencarnado em Recife, PE, a 19/6/1970.
7 — carregávamos conosco o (…) “problema da libido”. (…) meu ideal de encontrar namoro e casamento no mundo diferente em que estou. (…) perdoem se voltei aos mesmos assuntos de afetividade, agora não frustrada, mas remediada sem necessidade de nos doparmos em anestésicos. — O Espírito de André Luiz desenvolve este palpitante tema em alguns de seus livros, especialmente no Evolução em Dois Mundos (Cap. 10 e 11 da Segunda Parte) e, E a Vida Continua… (F. C. Xavier, FEB, Cap. 14); bem como na entrevista concedida aos diretores do Anuário Espírita, pela psicografia de Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, e publicada às págs. 30/39 do nº 1 desse periódico, edição 1964, ed. IDE.
8 — Maria Ângela e Júnior — Irmãos.
9 — Ivinho — Ivo de Barros Correia Menezes nasceu em Recife, a 10/1/1960, e desencarnou em Belo Horizonte, a 28/11/1978, dois dias após sofrer um acidente automobilístico. Cursava o 1º ano de Engenharia Mecânica da Universidade de Minas Gerais.
Hércio Arantes